Acadêmico
RAUL MARINO JÚNIOR
RAUL MARINO JÚNIOR - Nasceu em São Paulo - Capital no dia 22 de março de 1936. É filho de Raul Marino e de Brígida Quartim Albuquerque Marino. Atual ocupante da Cadeira número 39 Cristã de Letras, sucedeu a Adolfo Lemes Gilioli, tomando posse no dia 15.03.2014.
Formação:
Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1961.
Especializado após Residência Médica em Neurocirurgia.
Mestrado e Livredocência, em 2008, com a tese Por uma Bioética Universal em Harmonia com a Lei Moral Natural e Fundamento de uma Medicina mais Humana.
Doutorado: Dedicou-se à carreira universitária na FMUSP, doutorado em Medicina (Neurocirurgia) pela Universidade de São Paulo (1971), com a tese Cingulotomia Estereotáxica para Tratamento dos Distúrbios Neuropsiquiátricos Crônicos das Dores Rebeldes (Contribuição para o Estudo dos Mecanismos Neurais da Emoção);
Viveu 6 anos entre Estados Unidos e Canadá, aperfeiçoando-se em sua especialidade na Universidade de Harvard, em Boston, no Massachusetts General Hospital, na Lahey Clinic, no MIT (Neuranatomia).
Depois no Montreal Neurological Institute da McGill University.
Foi Visiting-Scientist em Neurofisiologia do NIH (National Institutes of Health, em Bethesda, USA) onde complementou seus estudos sobre Sistema Límbico em animais experimentais.
Após seu retorno re-ingressou na vida acadêmica na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas, inicialmente como assistente no Pronto-Socorro de Neurocirurgia.
Em 1971, defendeu tese de doutorado e,
Em 1974 fez Concurso para Livre-Docência.
Atividades:
Professor Titular Emérito da mesma especialidade pela Faculdade de Medicina.
Professor-Adjunto de Clínica Psiquiátrica.
Fundou no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, o primeiro Serviço de Neurocirurgia Funcional do país, dedicado ao tratamento das Epilepsias, da dor, do Parkinson, a Psicocirurgia e os transtornos da hipófise, hoje referência da Neurocirurgia Brasileira.
Na FMUSP exerceu os seguintes cargos: professor livre-docente do Departamento de Neuropsiquiatria e pesquisador no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (1976-1984); professor adjunto de psiquiatria (1984-1990); professor titular de neurocirurgia (1990-2006) e
Professor livre-docente de bioética (desde 2008).
Participou 419 eventos e congressos.
Foi orientador de duas teses de mestrado e de cinco de doutorado.
Participou de 33 bancas examinadoras, destacando-se 6 para livre-docência
Publicações:
1. FISIOLOGIA DAS EMOÇÕES. Introdução ao Estudo da Neurologia do Comportamento e Sistema Límbico. Raul Marino Jr. Prefácio: Prof.Dr. Paul D. MacLean. Fundo Editorial Procienx, 1977.
2. FUNCTIONAL NEUROSURGERY. T. Rasmussen, Raul Marino Jr. Prefácio dos Editores: Introdução do Dr. Raul Marino Jr., publicado pela Ed. Raven Press de Nova York, 1979.
3. EPILEPSIAS. Raul Marino Jr. Edição: Fundo Editorial Procienx. Sarvier. 1983.
4. O CÉREBRO JAPONÊS, por Raul Marino Jr. São Paulo:Massao Ohno. 1989.
5. O SERMÃO DA MONTANHA. Raul Marino Jr. São Paulo: Alvorada. 1988. (Prefácio de Huberto Rohden).
6. O MODERNO HIPÓCRATES. Raul Marino Jr. A vida e o tesouro de exemplos de Sir WILLIAM OSLER, o Pai da Medicina Moderna.. CLR Balieiro: São Paulo. 89 p. 1999.
7. A RELIGIÃO DO CÉREBRO. Raul Marino Jr. (Uma introdução à Neuroteologia: as novas descobertas da Neurociência a respeito da fé humana). São Paulo: Gente. 2005.
8. EM BUSCA DE UMA BIOÉTICA GLOBAL – PRINCÍPIOS PARA UMA MORAL MUNDIAL UNIVERSAL E UMA MEDICINA MAIS HUMANA. Raul Marino Jr. São Paulo: Hagnos. 2009.
9. ENSAIO SOBRE O AMOR- DO EROS CARNAL AO SUBLIME ÁGAPE. Raul Marino Jr. São Paulo:Companhia Editora Nacional.
Outras Publicações:
144 artigos em periódicos;
40 capítulos em livros;
02 artigos em jornais e revistas;
91 resumos em anais de congressos.
Prêmios:
Prêmio Henrique Sam Mindlin da Academia Brasileira de Neurologia (1980);
Prêmio Especial Bromocriptina do Laboratório Sandoz S.A. (1982);
Sanophipharma Award (1985)
Prêmio Egas Moniz do Departamento Médico da Casa de Portugal (1986).
Sobre Raul Marino Júnior:
Desde muito cedo, o acadêmico reconheceu a importância de sua formação científica piramidal na estruturação de uma sólida carreira médica. Assim, desde o primeiro ano do curso médico, sentiu-se fascinado com as descobertas que ia fazendo sobre as funções do cérebro, filiando-se já nessa época, às atividades do Departamento de Histologia onde, sobre orientação do Prof. Luiz Carlos Uchoa Junqueira, iniciou sua participação em trabalhos experimentais e metodologia científica, logo verificando nas nascentes das neurociências, as possibilidades de vir a usá-las um dia, como instrumento de estudo das funções cerebrais mais elevadas. Naquele departamento que passou a freqüentar juntamente com os Departamento de Anatomia Descritiva e de Anatomia Patológica, onde colhia peças para seus estudos histológicos, descobriu em si habilidades e destreza na realização de intervenções experimentais em animais de Laboratório, familiarizando-se com a utilização do microscópio binocular cirúrgico já no primeiro ano médico, quando padronizou técnicas para a pinealectomia em ratos. Estes estudos o estimularam a trilhar os caminhos de uma nova abordagem às Neurociências, procurando, no segundo e terceiro anos médicos estágios voluntário no Instituto de Psiquiatria, sob a orientação do Prof. A.C. Pacheco e Silva, ali tomando contato com a filosofia do pensamento psiquiátrico. Estimulado por esses novos achados, nas férias de fim de ano do segundo ano médico, preparou-se para o vestibular do Departamento de Filosofia Ciências e Letras da USP, sendo aprovado em segundo lugar, onde planejava aprimorar sua formação humanística, fazendo o curso no período noturno, juntamente com o curso médico. Obedecendo a essa linha piramidal de formação ainda como estudante, dirigiu-se ulteriormente o acadêmico à Clínica Neurológica, agora já no quarto ano médico, sob a orientação dos Profs. Oswaldo Lange, Horácio Martins Canelas, Antonio Spina França Neto e Rolando A.Tenuto, ensaiou seus primeiros passos na Neurologia e na Neurocirurgia. A esse tempo elaborou e imprimiu um Curso de Neurologia, em 2 volumes, que durante muitos anos foi o manual de estudos de várias gerações acadêmicas da USP e de várias outras escolas médicas, sempre esgotado no Departamento de Publicações do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da FMUSP. Após o internato, o acadêmico, com base no que havia colhido durante o proveitoso curso médico, optou pela Residência em Neurocirurgia, tendo sido o primeiro residente a inaugurar um sistema de Residência especialmente planejado para essa especialidade em 1962.
Após do término, desta em 1964, tendo recebido Bolsa da Organização Fullbright, o acadêmico deu início a uma série de estágios na América do Norte, no intuito de complementar multidisciplinarmente sua formação em Neurocirurgia e em fisiologia cerebral humana. Após Residência de um ano na Lahey Clinic, em Boston, onde conviveu intimamente com o neurocirurgião James L. Poppen, considerado na época um dos maiores expoentes da técnica neurocirúrgica clássica, ali aprimorou sua formação adquirida em São Paulo, além de estabelecer seus primeiros contatos com os expoentes da neuranatomia: Walle Nauta no Massachusetts Institute of Technology e Yakovlev, Locke e Angevine na Harvard Medical School.
Cada vez mais interessado no estudo das nascentes especialidades: a Neurocirurgia Funcional, a Neurofisiologia Clínica e o estudo das funções cerebrais mais elevadas transferiu-se como Research-Fellow para a Universidade de Harvard, para o Serviço de Neurocirurgia do Prof. William Sweet, na época o maior expoente em cirurgia funcional da dor, ficando sob a tutela do Prof. H.T. Ballantine Jr., que iniciava seus estudos na psicocirurgia do sistema límbico – a Cingulotomia – que após suas publicações e ulterior Tese de Doutoramento do acadêmico sobre esse tema, se tornaria o tipo de intervenção neurocirúrgica mais empregado em Psiquiatria.
Foram grandes, os horizontes que se abriam aos olhos do noviço neurocirurgião pesquisador, que já procurava fazer da Neurocirurgia Funcional um instrumento de trabalho e de estudo das funções cerebrais superiores. Vislumbrou ele, então, o grande campo que poderia explorar como pesquisador, de volta ao Brasil, utilizando esses conhecimentos, no intuito de desvendar os segredos do cérebro e da mente humana, ideais que então o animavam. De posse dos fundamentos da neurologia, neurocirurgia e psiquiatria, que já possuía, procurou combiná-los aos conhecimentos da neuranatomia, neurofisiologia, neurologia, neuropsicologia e eletrencefalografia, no intuito de estudar o cérebro através da ablação de lesões, da estimulação e do registro de superfície e profundidade, objetivando futuramente o conhecimento das funções dessas partes do cérebro e conhecer melhor sua importância com problemas universais como a dor, a epilepsia, as doenças mentais, os distúrbios neuroendócrinos, os movimentos anormais, etc...
Note-se que já nessa fase, o principiante pesquisador havia se apercebido da importância dessas entidades médicas, que transformam seus portadores em verdadeiros “modelos experimentais da natureza”, e que permitem assim, ao neurocirurgião, ao psiquiatra, ao neurologista e ao neuropsicólogo dialogar com esse “modelo” – o paciente – elaborar o que nos é comunicado, e após a exploração funcional ou cirúrgica do cérebro desses indivíduos, no decorrer do processo terapêutico contribuir para o melhor conhecimento desse órgão a partir dos dados obtidos através da ablação de áreas, estimulação ou registro. Desde então, passou a dedicar-se a essa nova metodologia, no intuito talvez ambicioso de integrar em seu programa de treinamentos todos os sub-capítulos das neurociências afins, numa abordagem multidisciplinar indispensável para cobrir todos os caminhos do conhecimento sobre o cérebro e mente humana, estudo esse impossível de ser conseguido através de uma única especialidade, desde que a explosão de informações adentrou o âmbito do conhecimento científico. Encontrou, assim, no estudo da dor, das epilepsias, das doenças mentais, psicocirúrgicas, da nascente neuroendocrinologia, da psicologia e da neuropsicologia, os caminhos que conduziram a uma compreensão global das funções cerebrais. Após desenvolver seus conhecimentos sobre dor, sistema límbico, estereotaxia e psicocirurgia na Universidade de Harvard, interrompeu ali suas atividades para dirigir-se à McGill University, onde, no Montreal Neurological Institute, sob a orientação de Wilder Penfield e Theodore Rasmussen deu início a novos estudos, agora sobre as epilepsias. Concomitantemente, na Universidade de Montreal, sob a direção de Jules Hardy, Claude Bertrand e Pierre Molina iniciou suas incursões na neurendocrinologia e estereotaxia dos movimentos anormais, trazendo ulteriormente, em absoluta primazia para o Brasil, o grande capítulo que então se abria na cirurgia neurendócrina funcional pela via transfenoidal microcirúrgica. Terminada mais essa fase de treinamento, dirigiu-se a seguir para Bethesda, Maryland, para os laboratórios de Neurofisiologia do National Institutes of Health (NIH), a maior instituição de pesquisas do governo americano para o Laboratório do Prof. Paul D. MacLean, pai da neurofisiologia do sistema límbico – nome original com que MacLean batizou esse sistema – no afã que estava o jovem neurocirurgião de complementar sua formação básica agora nas ciências do comportamento. Ali o acadêmico passou um ano, perseguindo os mesmos objetivos já delineados anteriormente agora na condição de Visiting-Scientist e Research-Associate, trabalhando em metodologia de pesquisa e aprofundando-se ao lado daquele pesquisador, nos conhecimentos e novas aquisições experimentais naquele campo da neurofisiologia. Ao fim de mais essa etapa, após cerca de cinco anos de programação ininterrupta e de formação nos Estados Unidos e Canadá, o acadêmico julgou-se em condições de retornar ao Brasil, fazendo-o em fins de 1968, para assumir vaga após concurso, de Médico-Assistente no Serviço de Neurocirurgia da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, sendo reconduzido ao grupo do Prof. Rolando A. Tenuto. Ali foi imediatamente incumbido de reestruturar o programa de Residência Médica em Neurocirurgia, assumindo as funções de preceptor dos residentes e estagiários de Neurocirurgia, em princípios de 1969. Durante cerca de 4 anos dedicou-se a esse mister, acompanhando todos os casos cirúrgicos, orientando pré e pós-operatórios, organizando as reuniões clínicas e patológicas do serviço, criando um setor de estereotaxia e neurocirurgia funcional, e ministrando cursos de neuranatomia e atualização neurocirúrgica a residentes e estagiários. Concomitantemente fundou e passou a dirigir o Serviço de Neurocirurgia do Hospital A. C. Camargo (Hospital do Câncer, o do Hospital Sírio Libanês e um setor de Estereotaxia no Hospital Matarazzo. Após alguns anos, em razão de suas crescentes atribuições acadêmicas, permaneceu apenas no Hospital Sírio Libanês, onde, em tempo parcial procurou desenvolver sua limitada clinica privada. Em fins de 1972, sentindo necessidade de adquirir novos conhecimentos, dirigiu-se para o Serviço do Prof. J. Talairach, em Paris, onde aprendeu juntamente com J. Bancaud e G. Szikla, as mais modernas técnicas de estereoelentrencefalografia e “repèrage” na cirurgia das epilepsias para a seguir implantar essas novas técnicas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
De retorno ao Brasil, de posse dos conhecimentos adquiridos em mais este estágio sentiu-se o acadêmico preparado para implantar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, um centro pioneiro em Neurocirurgia Funcional.
Esses fatos coincidiram com o convite que recebeu para implantar um centro dessa especialidade no Instituto de Psiquiatria desse Hospital, onde iniciou a implementação de seu próprio serviço estimulado pelos Profs. Fernando de Oliveira Bastos e A.C. Pacheco e Silva para, em espaço físico, ali existente, fundar um Centro de Pesquisa em Fisiologia Cerebral Humana, integrado com o Instituto de Psiquiatria. Ali passou a se dedicar inteiramente a tal objetivo, dando início a intervenções funcionais para epilepsias e psicocirurgias. Em virtude do crescente movimento e da inadequação das instalações então existentes, o centro cirúrgico foi fechado por cerca de um ano para remodelação e reformas, ínterim em que passou o acadêmico a atrair e formar novos valores para consigo dar origem a uma equipe multidisciplinar de trabalho e pesquisa. Assim nasceu a Divisão de Neurocirurgia Funcional do Hospital das Clínicas e a nova Disciplina de Psicocirurgia (MNP-405), aprovada em 2 de abril de 1974: em seguida à criação da Residência em Neurocirurgia Funcional em janeiro de 1973. Apoiado e reconhecido que foi pelo MEC, FINEP e FAPESP, foi possível implementar nesse novo serviço, através de verbas especiais, as atividades dessa nova Divisão, logo reconhecida como tal pelo Governo do Estado. Foi então possível dar início à formação de pessoal especializado, muitos deles enviados com bolsas ao exterior para especialização. Assim foram criados nessa nova Divisão os setores de Neurologia, Psiquiatria, Neurofisiologia Clínica e EEG, Neurocirurgia Funcional e Estereotaxia, Neurendocrinologia, Neuranestesia, Neurorradiologia, Neuroquímica, Engenharia Biomédica e Informática, Neuropatologia, Eletrônica Médica, Enfermagem Especializada, U.T.I., Psicofisiologia, centro cirúrgico e arsenal cirúrgico, laboratório de anatomia, biblioteca, desenho, fotografia e documentação científica, serviço social, terapia ocupacional e reabilitação, administração e enfermaria com 41 leitos, contando à época e a Divisão com 11 médicos e um total de 65 funcionários paramédicos, todos formados e treinados através desse centro, tendo sido o objetivo do acadêmico que todos falassem uma linguagem comum – a linguagem das neurociências – integrados nas mesmas metas e nos mesmos ideais. O acadêmico acredita ter conseguido esses objetivos apesar da realidade e das dificuldades encontradas no país, em relação aos trabalhos de pesquisa e vanguarda. O objetivo primordial da criação do CENEPSI – Centro de Neuropsicocirurgia, entidade civil, que administra a Divisão, foi o de criar através desta nova entidade, um instrumento de trabalho que permitisse colocar em prática as idéias e os projetos do acadêmico para o estudo da fisiologia cerebral humana a essa época ainda inexistente em nosso meio. Percorreu nestes anos a maior parte desse caminho, e o acúmulo de experiências nas centenas de casos operados, somente após todos estes anos de seguimento têm-no permitido colher os primeiros frutos em termos de resultados e conclusões dessas intervenções, o que é atestado pelo volumoso número de trabalhos, que tem levado a congressos nacionais e internacionais, e que tem sido publicados somente após muitas revisões e reflexões. A Neurocirurgia Funcional é ainda uma jovem especialidade em nosso meio, e infelizmente pouco divulgada, mesmo nos grandes centros. Têm sido ingentes os esforços do acadêmico para divulgar essa especialidade no Brasil, onde ela é ainda considerada como de extrema sofisticação. Orgulha-se, entretanto, de constatar que possui um dos únicos serviços do mundo que conseguiu, apesar das adversidades do meio, reunir num único serviço todas as áreas da Neurocirurgia Funcional.
Na integração multidisciplinar que vem desenvolvendo, a relação mente-cérebro foi ressaltada, na busca de melhor compreender essa dualidade milenar sobre o conhecimento do homem. Essa preocupação foi tamanha a ponto de predominarem os aspectos psiquiátricos, sociais e humanos do paciente do serviço nas discussões de casos das reuniões clínicas semanais da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Além disso, a busca de recursos técnicos do mais alto nível propiciou o surgimento de uma equipe que é também responsável por parte da formação dos residentes do Instituto de Psiquiatria, quer em termos teóricos que partem da neurofisiologia, passando pela Neuropsicologia, até aos fundamentos filosóficos das psiconeurociências, áreas das quais a equipe tem sido totalmente responsável nessa formação, seja em termos práticos, através de supervisão individual, seja na participação em reuniões de discussão no Instituto de Psiquiatria sobre casos psiquiátricos e nas pós-graduações e na Disciplina de Psicofisiologia.
Em 16 de julho de 1977 foi feita então pelo Governador do Estado de São Paulo, Dr. Paulo Egidio Martins, a inauguração oficial da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, ocasião em que o acadêmico fez realizar um Simpósio Internacional, evento auspicioso para o qual convidou todos seus ex-mestres, responsáveis por seu preparo e treinamento durante aos anos que passou no exterior. Publicou, logo a seguir, através da Raven Press, de Nova York (1979), em co-autoria com T. Rasmussen, “Chairman” convidado para presidir esses trabalhos, o resultado desse Simpósio Internacional, sendo este o primeiro livro da literatura consagrado à Neurocirurgia Funcional (FUNCTIONAL NEUROSURGERY), o primeiro a sistematizar e a definir os propósitos dessa então nascente especialidade. Dias depois, o acadêmico foi: “Local Chairman”, e organizador do Congresso Mundial de Neurocirurgia Funcional e Estereotaxia, realizado no mesmo mês em São Paulo – “World Society for Stereotaxic and Functional Neurosurgery – entidade mundial da qual já foi Vice-Presidente e desde 1973 varias reeleito como MEMBRO DO BOARD OF DIRECTORS. Em 1982 foi o acadêmico eleito Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Funcional, da qual foi o fundador.
O objetivo de criar um centro clínico de investigação, de alto padrão, que pudesse ser utilizado como instrumento de trabalhos pelos que se interessassem por qualquer dos diversos campos das neurociências tem sido em grande parte preenchido. O acadêmico acredita ter sido de grande importância a integração desses centros numa clínica psiquiátrica, já que a seu ver o pensamento psiquiátrico representa a última etapa e o coroamento do estudo da mente humana. Muito deve, portanto, essa obra à escola psiquiátrica de São Paulo, que tanto estimulou a enveredar pelos caminhos ora trilhados. Inicialmente, encorajado pelo Prof. A.C. Pacheco e Silva, personagem de grande visão e discernimento que, juntamente com o Prof. Fernando Bastos, não titubearam em implantar um serviço cirúrgico multidisciplinar numa clínica psiquiátrica, recebeu esse serviço ulteriormente, o apoio de seus sucessores.
A experiência que o acadêmico durante vários anos, adquiriu no exterior, na formação e organização, e depois no Brasil, de um serviço-modelo, influiu profundamente na formação atual do acadêmico, nele estabelecendo princípios e critérios de liderança, com os quais vem exercendo suas atividades de chefia na Divisão por ele fundada, ocupando cargo de responsabilidade cada vez maior.
Procurou ainda, o acadêmico, alicerçar esse novo serviço na clássica pirâmide embasada num triângulo com os vértices representando o ensino, a pesquisa e a assistência, fatores que irão permitir a evolução do pensamento cirúrgico rumo a uma meta científica, sem a qual permanecerá estagnado. Tendo isto em mira, procurou sempre dar grande importância aos estudos prospectivos e controlados por protocolos uniformizados, para a melhor valorização dos resultados obtidos em grandes casuísticas clínicas e cirúrgicas. Isto tem permitido, nesse serviço, aplicar no homem os mesmos princípios da metodologia científica experimental, sempre dentro do processo ético do tratamento médico, observando não os modelos deliberadamente produzidos, mas os produzidos pela natureza, pela patologia, aproveitando-se os resultados da cirurgia assistencial na pesquisa científica sobre as funções do cérebro humano.
Deste modo, conseguiu o acadêmico criar no Hospital das Clínicas um novo serviço no verdadeiro sentido da palavra, criando um centro de estudos ainda inexistente, “tabula rasa”, e não simplesmente transformando ou adaptando outro já em atividade.
Em 1977, inaugura o funcionamento do Laboratório Experimental de Neurocirurgia Funcional – LIM-45, unidade instalada no Prédio da Faculdade de Medicina da USP e destinado a experimentação animal, principalmente da neurofisiologia aplicada à epilepsia.
Destarte, há de se notar que o acadêmico vem dedicando praticamente toda sua vida profissional à carreira universitária, procurando limitar sua dedicação à clinica particular ao necessário para complementar sua formação como neurocirurgião universitário totalizado. Com o fito de não se isolar totalmente na pesquisa pura, mantendo-se distante da Neurocirurgia de rotina, o acadêmico fundou, em 1983, o Instituto Neurológico de São Paulo, onde, em atividade de grupo criou infra-estrutura material e humana que viesse a complementar sua carreira como neurocirurgião de atividade mais abrangente.
TITULARIDADE:
Como coroamento de sua carreira universitária, o acadêmico por ocasião da abertura da primeira vaga para Professor Titular na recém-criada Disciplina de Neurocirurgia, prestou concurso para essa posição em abril de 1990, sendo aprovado em primeiro lugar pela banca examinadora, após o qual veio a exercer a Chefia da Disciplina de Neurocirurgia no Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, juntamente com a Chefia da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Permaneceu durante 15 anos nessa posição até sua jubilação em março de 2006. Nessa posição organizou e administrou o Serviço em apreço e seu Pronto-Socorro, treinando e formando 4 a 5 residentes de Neurocirurgia anualmente, participando de cirurgias, visitas, reuniões clínicas e simpósios e congressos no Brasil e no exterior, na publicação de trabalhos científicos e em pesquisas ligadas ao LIM-45, seu laboratório de neurofisiologia localizado na FMUSP. Durante essa fase, e é com considerável humildade que declaramos ter sido esse serviço reconhecido em nosso território como o melhor para treinamento e atendimento neurocirúrgico em nosso país.
FASE BIOÉTICA:
Prestar concurso, novamente, desta feita de Professor Livre-Docente em Bioética da Instituição que o formou e acolheu, representa para o acadêmico, o coroamento de uma carreira e de uma vocação inteiramente dedicada às neurociências, e às ciências humanas, sendo seu intuito continuar colaborando, junto à Faculdade de Medicina da USP e serviços afins, na criação de um núcleo de Bioética subordinado à Faculdade de Medicina da USP, que venha a integrar todos os especialistas dessa instituição em ciências humanas e que possa representá-la, como centro de excelência na Universidade, no país junto à coletividade internacional.
Nosso interesse e dedicação à Bioética teve início após nosso estudos em Teologia e Neuroteologia, seguidos pelo Curso de Especialização em Bioética realizado na Faculdade de Medicina da USP, seguido pelo Mestrado em Bioética realizado em 2007 na Universidade São Camilo, após defesa de tese.
Esses estudos vieram nos demonstrar, após nossas experiências em Filosofia e Teologia, que a Bioética hoje, é a mais bela expressão de uma construção comum do saber humano perante o desafio da vida. Tendo ela a vida e a saúde humana como objeto de estudo é, através da Ética – ramo da Filosofia – tornou-se hodiernamente, a mais vibrante área da Filosofia e da Ética aplicadas, com dimensões extra-institucionais, desde que, como ciência transdisciplinar que é, relaciona-se com uma série de outras disciplinas, tais como: a Filosofia, a Ética, a Moral, a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Teologia, a Teologia Moral, a Ecologia e o Humanismo, ao cuidado e às virtudes, como bases de uma Medicina mais humana.
Acadêmico anterior
Álvaro do Amaral
Posse: 21/09/1979 - (2º ocupante)
Álvaro do Amaral nasceu em 18 de outubro de 1907, na cidade de São Paulo.
Bacharel pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco foi membro dos vetustos Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; do Instituto dos Advogados de São Paulo e da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg).
Ademais, foi o segundo ocupante da cadeira no 5 da veneranda Academia Cristã de Letras, tendo como patrono Vicente de Carvalho (1866-1924), assim como titular da cadeira no 24 da insigne Academia Paulista de História, tendo por patrono Simão de Vasconcelos (1597-1671).
Álvaro do Amaral organizou 10 cursos de História em São Paulo, no Ateneu Paulista de História, do qual foi presidente. Foi galardoado com várias comendas, medalhas e títulos, bem como foi autor de diversas obras literárias, dentre as quais têm-se: Padre Manuel da Nóbrega - O Precursor do Bandeirismo Paulista (1966); O Padre José de Anchieta e a Fundação de São Paulo (1971, em dois volumes); e Rui Barbosa Historiador (1971).
Adolfo Lemes Gilioli
Posse: 30/08/1995 - (3º ocupante)
Adolfo Lemes Gilioli nasceu em 18 de março de 1921, em Lins (SP). Seu pai era alfaiate e sua mãe dona de casa. Mudou-se para a capital paulista, onde terminou o ginásio e fez o cursinho para a Escola Politécnica.
Graduou-se em engenharia química na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Após a sua graduação atuou como engenheiro em indústrias. Também cursou jornalismo na Escola Cásper Líbero, além de estudar perícia criminalística na Academia de Polícia. Anos mais tarde estudou na Escola Superior de Guerra.
Como professor lecionou física, química, matemática e desenho industrial no Mackenzie e Anglo Latino. Estruturou e dirigiu seu próprio colégio, o Instituto Kennedy de Educação, destinado a cursos técnicos. Atuou também como perito criminal e presidiu a Associação dos Peritos, aposentando-se nessa profissão aos 70 anos.
Adolfo Lemes Gilioli foi maçom e venerável da Loja Francisco Glicério (1977-1979). Foi o terceiro ocupante da cadeira no 5 da ínclita Academia Cristã de Letras sob a patronímica Vicente de Carvalho (1866-1924). Nesse sodalício galgou a condição de presidente, atuando nessa função em dois mandatos (2002-2003 e 2004-2005).
Seu filho, Adolfo, dizia que seu pai “adorava preparar livros e cursos. Não fazia pensando em faturar, mas por prazer”. Ademais, ministrou cursos de oratória e, em sua terra natal, fundou, em 2009, da Academia Linense de Letras, da qual foi seu primeiro presidente.
São de sua lavra os livros: Código de Ética do Perito Criminal (s/d); O Despontar da Fraternidade Estrela do Sul (1998); Liderança e Oratória: O Cavaleiro da Eloquência (s/d); O Poder da Palavra (s/d); Academias e Discursos de Acadêmicos (2001); e Lins, Terra Querida – A Trajetória de uma Ialense (2008).
Adolfo Lemes Gilioli esteve ativo até o final de sua vida. Tinha muito amor pela Academia Cristã de Letras e veio a falecer subitamente, de um infarto, no banheiro, após o término de uma das reuniões desse sodalício, no dia 17 de outubro de 2012, contando com 91 anos. Era viúvo da professora Adi Gaudêncio Lemes Gilioli e deixou cinco filhos, oito netos e uma bisneta.
Texto feito pelo acadêmico Helio Begliomini, segundo ocupante da cadeira no 10 da Academia Cristã de Letras, tendo por patronesse Marie Barbe Antoinette Rutgeerts van Langendonck.
Fundador
Bernardo Pedroso
Posse: 01/12/1967 - (1º ocupante)
Bernardo Pedroso nasceu em São Bernardo, aos 11 de abril de 1898, onde fez seus primeiros estudos. Era filho do vereador Felpício Pedroso.
Escritor, poeta e jornalista, atuou com dinamismo em vários jornais do estado e em revistas da época, como “Augusta” e “Portugália”. Transferiu-se, em 1908, para a capital. Foi funcionário da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos de São Paulo, onde se aposentou.
Bernardo Pedroso lutou infatigavelmente pelos objetivos culturais da Casa do Poeta de São Paulo, a qual dirigiu de 1965 a 1971. Presidiu também o Instituto Monteiro Lobato e foi membro das seguintes entidades: União Brasileira de Escritores; Associação Paulista de Imprensa; Grêmio Literário Castro Alves (Porto Alegre); Academia de Letras de Uruguaiana; Centro de Estudos Históricos Gustavo Barroso, da Universidade Católica de Lorena, dentre outras entidades culturais de várias cidades.
Seus méritos são também atestados pelas medalhas com que foi agraciado: “Centenário Marechal Rondon”; “Brigadeiro Couto de Magalhães”; “Combatentes da Revolução Paulista de 1932”; e o diploma de “Honra ao Mérito nas comemorações do I Centenário da Introdução dos Telégrafos no Brasil.
As crianças e os jovens mereceram da sua parte atenção e carinho. A elas dedicou poesias, especialmente no seu livro Juvenília, contribuindo assim para a sua formação intelectual.
Bernardo Pedroso ingressou, em 1o de dezembro de 1967, como fundador da cadeira no 5 da ínclita Academia Cristã de Letras, escolhendo por patrono Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924), advogado, jornalista, político e magistrado.
São de sua lavra as obras: Juvenilia (1947, poesias infantis); Doutor Joãozinho (1961, poesias infantis); Poemetos ao Mar (1963); Outonal (1964, literatura); e Trovas (1965, poesias).
Faleceu na cidade de São Paulo, em 6 de fevereiro de 1972, contando com 71 anos. Seu nome é honrado post-mortem na Escola de Educação Básica Municipal “Bernardo Pedroso”, em São Bernardo do Campo (SP), bem como na Rua Bernardo Pedroso – na Vila Nova Utinga, na capital paulista.
Texto feito pelo acadêmico Helio Begliomini, segundo ocupante da cadeira no 10 da Academia Cristã de Letras, tendo por patronesse Marie Barbe Antoinette Rutgeerts van Langendonck.
Patrono
Vicente de Carvalho
Essa cadeira tem como Patrono o Celebrado poeta Vicente de Carvalho, sendo o meu antecessor nosso ex-presidente Adolfo Leme Gilioli.
Vicente Augusto de Carvalho, meu patrono, nasceu em Santos, em 05 de abril de 1866, aprendendo as primeiras letras nessa cidade, concluindo os preparatórios em São Paulo, no Colégio Morton. Ingressou na Academia de direito, bacharelando-se em 1886, passando a advogar em Santos. Tornou-se Republicano e Deputado provincial em 1887, em 1891, deputado constituinte. Foi Secretário do Interior nos governos Cerqueira Cesar e Bernardino de Campos, voltando a advogar em 1892. Em 1895, deixou as atividades literárias e jornalísticas para se converter ao positivismo. Depois de 5 anos como fazendeiro em Franca, retornou à advocacia e às letras. Em 1907, mudou-se para São Paulo, sendo nomeados juiz e, em 1914, Ministro do Tribunal de Justiça. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1909 e faleceu em 22 de abril de 1924. Logo atingiu a culminação parnasiana em oposição ao romantismo, caracterizando-se pela sacralidade da forma, respeito às regras de versificação, preciosismo rítmico e vocabular e rimas raras (a arte pela arte), movimento que contou com expoentes como Machado de Assis, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac (tríade parnasiana). Seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da antiguidade clássica, e seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas inspiradoras. Casou-se em 1888, em Santos, com Ermelinda Ferreira de Mesquita (Biloca), com quem teve 15 filhos.
Sua carreira poética foi marcada pela obra Poemas e Canções (1908), que contou com prefácio de seu amigo Euclides da Cunha e teve 17 edições. Pintou como ninguém o mar indeciso entre a atração da praia e da lua e, nas canções praianas, mostrou uma alma de caiçara, de pescador, pensando, talvez, navegar, mas sentindo-se engaiolado numa civilização postiça, segundo seus versos:
Essa felicidade que supomos
Árvores milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos
Existe, sim, mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos
(Velho tema, soneto)
Discurso de recepção
Discurso de recepção - Cadeira nº 05
Discurso de posse
Discurso de posse - Cadeira nº 05