Helio Begliomini
Juscelino Kubitschek de Oliveira - Patrono da Sociedade Brasileira de Urologia
Biografia e Documentário
Expressão & Arte Gráfica, São Paulo – 2005,
248 páginas.
Prêmio Clio de História – 29ª edição (2006) da Academia Paulistana da História.
Prefácio I: Sérgio d’Avila Aguinaga
Convidado gentilmente pelo amigo e colega Helio Begliomini para prefaciar esta magnífica obra de pesquisa, análise da personalidade profissional, humana e política de um HOMEM, aceitei, entre orgulhoso e temeroso, a execução de tal honraria.
Iria escrever para uma das primeiras páginas em uma produção da lavra do Helio e, por imposições da seqüência literária, usufruir as leituras iniciais. Difícil mister.
A tranqüilidade me veio da certeza da rápida passagem dos leitores para o cerne do livro, onde, tranqüilamente e saboreando o prazer da leitura, iriam deparar com um trabalho de pesquisa cuidadosa e iconografia abundante, emoldurada pelo texto escorreito e de estilo límpido, como tudo que provém de Helio Begliomini em todos os assuntos.
“Juscelino Kubitschek de Oliveira – Patrono da Sociedade Brasileira de Urologia” veio para enriquecer a história da Sociedade e reconhecer, para gáudio e orgulho dos urologistas, que um dos nossos atingiu o posto de PRESIDENTE DO BRASIL, sem renunciar aos títulos de médico e urologista.
Pouco poderia acrescentar, a não ser que, tendo sido o Presidente amigo de dois irmãos, Fernando e Haroldo, o primeiro alvo de um afeto intenso do Presidente e o segundo, dono de uma Companhia de Aviação, a Nacional Transportes Aéreos, que fez toda a cobertura das candidaturas do nosso PATRONO, as histórias contadas e gravadas reforçam a convicção do caráter bondoso e democrático do Presidente Juscelino.
Não poderia deixar de acrescentar e mesmo adicionar, em misto de ciúme pela relação Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)-Juscelino, dois fatos importantes: sua participação no 1º Congresso Brasileiro de Urologia, em 1935, como membro da comissão organizadora e relator de um dos temas, e em 7 de outubro de 1943, na chegada dos congressistas do 3° Congresso Brasileiro de Urologia a Belo Horizonte, quando foram recebidos, pessoalmente na estação, pelo Prefeito Juscelino Kubitschek, que os declarou hóspedes oficiais da cidade. O Prefeito participou de várias sessões do Congresso.
O outro fato deu-se em 1957, antes da ida ao Congresso da Confederación American de Urología – CAU, em Mar del Plata. O Presidente Cumplido de Sant’Anna decidiu ir ao palácio com a delegação se despedir do Presidente da República. Sem hora marcada. Como seria evidente fomos barrados. Após minutos de discussão e argumentos inválidos, chega meu irmão, Fernando, e resolve interceder. Desaparece e minutos depois vêm um funcionário recomendando que subíssemos por um pequeno elevador privativo e aguardássemos numa sala. Passado algum tempo entra o Presidente Juscelino acompanhado do Fernando e, com aquele sorriso, foi dizendo “vocês não precisam de hora”. Cumprimentando a todos colocou a mão no meu ombro e disse “que inveja”. Se fosse possível mandaria amputar este ombro para guardar no museu da SBU.
Esses fatos são, penso eu, a única justificativa pelo amável e carinhoso convite, pois, nosso Helio, tinha certeza de que para os velhos, quando “os dias são longos e os anos são curtos”, pouco lhes resta a mais , do que recordar e contar histórias.
O autor manteve a difícil posição do historiador, pois, em várias passagens, cuidou da veracidade e autenticidade dos fatos atribuindo-lhes a dimensão exata, sem ferir ou conspurcar a memória inatingível do Presidente.
O historiador Helio o fez com sutileza e maestria, o biógrafo cumpriu sua missão e o médico enfocou como ninguém as qualidades da figura altamente pragmática, cuja soma redundou em um incomparável Juscelino Kubitschek.
Ao lerem a magnífica obra do Helio Begliomini, poderão ficar tranqüilos pela escolha do Patrono e Defensor da Urologia e um vigilante eterno pelo progresso da SBU.
Sérgio d’Avila Aguinaga*
*Nascido em 19 de junho de 1922. Aos 17 anos foi professor secundário de Física, Química e História Natural. Formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1947. Como estudante, estagiou no laboratório de análises e bacteriologia sob a chefia de Arlindo de Assis. Foi interno do Serviço de Cirurgia e Urologia do Hospital São Francisco de Assis e posteriormente assistente (4a. e 9a. enfermarias sob a chefia do dr. Jorge de Gouvêa). Foi interno do Pronto-Socorro sob a chefia dr. Darcy Monteiro e interno da Casa de Saúde São José.
Trabalhou em 1948, 1949 e 1950 no Massachusetts General Hospital em Boston. Foi assistente de Urologia da Universidade Federal Fluminense e livre-docente de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado da Guanabara.
Foi professor catedrático de Urologia, em 1967, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Estagiou no setor de transplantes em Cambridge-England (1968), tendo como chefe Roy Calne, Honorary Clinical Consultant. Fez a Escola Superior de Guerra em 1976.
É titular remido e ex-presidente da SBU (1977-1979); emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Academia Nacional de Medicina e foi seu presidente (1993-1995). É membro das Academias de Medicina do Piauí, da Paraíba, da Espanha, da Polônia e licenciado pela Ordem dos Médicos de Portugal. Tem 287 trabalhos publicados, livros, poesias e ensaios.
Recebeu as seguintes condecorações: Ordem do Mérito Médico, do Mérito Naval, do Mérito Aeronáutico, do Mérito Tamandaré, do Mérito Avante Bombeiro, além de Cidadão Benemérito do Estado da Guanabara.
Prefácio II: Ronaldo Damião
Fiquei surpreso e honrado quando recebi o convite para prefaciar este livro de Helio Begliomini. Surpreso porque, para mim, prefaciar um livro é novidade. Honrado porque tenho grande admiração pelo autor e sobre quem ele escreve, o Presidente dos Presidentes, Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Passei a ter um contato mais próximo com o autor em 1995, no XXV Congresso Brasileiro de Urologia, quando lancei minha candidatura à Presidência da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Durante o café da manhã, no hotel, aproximei-me e perguntei se ele havia recebido minha carta anunciando minha candidatura. Na verdade conhecia muito bem sua aversão pela maneira com eram realizadas as eleições em nossa Sociedade: através de delegados representantes de cada Estado. Begliomini era a favor do voto universal e escrevia em nosso boletim sobre isso, bem como sobre a necessidade de uma discussão mais ampla sobre os destinos da nossa SBU.
Assim que perguntei ouvi a resposta: sim, recebi sua carta que basicamente descrevia um resumo de seu currículo, o que tem valor, mas o mais importante é conhecer suas idéias, o que você pretende fazer, e na carta não havia nada disso.
Naquele momento compreendi, mais do que nunca, que era preciso apresentar uma proposta de trabalho, o que fiz após exaustivas reuniões com aqueles que me apoiavam. Acabei sendo eleito com 90% dos votos e iniciamos um trabalho de democratização e descentralização da nossa SBU. Instituímos o voto universal que vem se mantendo até os dias de hoje.
Durante estes 10 anos, de alguma forma, continuo trabalhando pela nossa Sociedade e sempre que sou consultado procuro indicar o nome de Helio Begliomini para algum cargo que exija muita dedicação. Foi Presidente da Comissão de Ética na minha gestão e voltou a ser na atual, onde exerço o cargo de Secretário-Geral.
De fato, quero confessar que na minha vida como dirigente da SBU, o urologista, escritor, poeta, contista e cronista Helio Begliomini teve marcante influência nas minhas ações. Assim sendo, elevo este convite a uma grande honra para mim e lamento não ter o mesmo dom para retribuir o quanto fui aquinhoado pelo seu pensamento e publicações. Só posso escrever com a sinceridade do fundo da minha alma.
Quando comecei a ler esta obra sobre Juscelino Kubitschek de Oliveira, não imaginava encontrar tanta sensibilidade e grandiosidade no médico que se eternizou como um dos maiores estadistas brasileiros.
Pensava que JK tivesse sido um urologista clínico, fato muito comum naquela época. Desconhecia suas aptidões cirúrgicas, sua devoção pelo juramento de Hipócrates, sua opção exemplar pelos desfavorecidos, sua determinação em aprofundar sua técnica e conhecimento com os grandes mestres da urologia mundial.
No capítulo das "Atividades como Médico Militar", Begliomini cita um pensamento inominado: "Heróis tivemos muitos, faltam-nos historiadores capazes de colocar na história os nomes desses grandes homens".
Posso afirmar com toda a convicção que esta obra remete ao autor o título de grande historiador, pois dá a dimensão verdadeira que merece nosso grande herói, Juscelino Kubitschek de Oliveira, como médico urologista e grande estadista.
JK não foi, dentre tantas realizações administrativas, somente o homem que construiu Brasília. JK foi um estudante pobre que galgou muito sucesso na sua profissão médica graças a muita dedicação, persistência e bravura, inclusive como médico cirurgião na Revolução Constitucionalista de 1932.
A obra de Begliomini lança uma pergunta que nunca nós, urologistas, encontraremos a resposta: o que seria da urologia brasileira se ele continuasse somente urologista?
Com certeza perderia a nação brasileira; mas, certamente, a Urologia teria traçado outro caminho e provavelmente estaríamos hoje estudando a técnica de JK da prostatectomia radical para tratamento cirúrgico do câncer da próstata ou já conheceríamos uma técnica cirúrgica mais eficiente para reconstrução de uma nova bexiga.
Begliomini não deixou de relatar, inclusive, fatos comprometedores inerentes a qualquer ser humano: a doença urológica que o acometeu e deixou seqüelas e uma paixão não solucionada que perdurou durante muitos anos.
"Juscelino Kubitschek de Oliveira: Patrono da Sociedade Brasileira de Urologia" preenche uma grande lacuna na nossa história e deve ser recomendado não só aos mais jovens, mas também àqueles que viveram os desdobramentos de sua época para que conheçam o lado mais nobre de sua vida: ser médico e urologista.
Ronaldo Damião*
* É membro titular da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Medicina Militar. É professor titular de Urologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e chefe do Departamento de Especialidades Cirúrgicas do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ).
É doutor em Urologia pela Universidade Federal do Estado de São Paulo e livre-docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Foi presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (1997-1999); presidente do XXVII Congresso Brasileiro de Urologia (1999); editor-chefe do Boletim da Sociedade Brasileira de Urologia (1999); presidente da Comissão de Seleção de Título de Especialista da SBU (1993-1995); chefe do Departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (1991-1993) e diretor da Secção de Urologia do Capítulo do Estado do Rio de Janeiro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (1992-1994).
É editor-associado do Jornal Brasileiro de Urologia desde 1997; atual secretário-geral da Sociedade Brasileira de Urologia (2003-2005) e membro correspondente da American Urological Association e da European Urological Association.
Prefácio III: Walter J. Koff
O eterno Presidente Juscelino foi talvez o maior brasileiro do século XX. Foi eleito e empossado em um período muito tumultuado da vida política brasileira. Getúlio Vargas havia se suicidado um ano antes, deixando um terrível vazio na política e no coração de boa parte dos brasileiros e sido sucedido, primeiro, pelo Vice-Presidente Café Filho e, após, pelo Presidente do Congresso, Carlos Luz, sempre sob ameaça de golpe militar e arruaças em quase todo o país.
No exercício da presidência ele, de imediato, arregaçou as mangas e executou um programa de governo jamais repetido na história republicana. Deu início acelerado à transferência da capital federal do litoral, onde sempre esteve desde o descobrimento do Brasil, para o centro geográfico do país-continente. O planejamento desta fundamental medida de interiorização do país e abertura do imenso planalto brasileiro à civilização já constava de todas as constituições brasileiras há muitas décadas; porém, nenhum presidente se havia aventurado a sequer iniciar tamanha empreitada , pois Juscelino iniciou e terminou a tarefa no seu período de governo. Planejou uma grandiosa capital com uma arquitetura ultramoderna e um plano urbanístico revolucionário do grande urbanista Lúcio Costa, muitas décadas à frente do seu tempo. Executou toda a obra em menos que 4 anos, e terminou o seu governo já com Brasília inaugurada em 21 de abril de 1960.
Para permitir usar a nova cidade planejou e executou a abertura de gigantescas rodovias ligando os quatro cantos do país à nova capital. Basta mencionar, para comprovar estes fatos, a rodovia Belém-Brasília, eixo Sul-Norte do novo Brasil, construída no meio de uma das selvas mais inóspitas e recônditas do mundo e com extensão de milhares de quilômetros.
Somente a transferência da capital seria suficiente para consagrar uma administração presidencial. Porém, Juscelino pensava num país e num povo que agonizava por progresso e ansiava por uma vida mais digna. Fundou a indústria de construção naval, criou a indústria aeronáutica que hoje é uma das mais importantes do mundo em termos de aviação civil e, principalmente, concebeu e implantou a nova indústria automobilística, tornando o país auto-suficiente na produção de veículos automotores.
Dirigiu a economia com enorme competência e instituiu a paz política no país, entregando ao seu sucessor um país tranqüilo e confiante no futuro. Não quis o destino que o próximo presidente fosse uma figura com a mesma grandiosidade, e com isto sofreu o nosso inesquecível presidente com o retrocesso político, e os chamados anos de chumbo, que se seguiram à sua presidência. Quando recuperado dos traumas e perseguições injustamente sofridas, e se preparava ,mais uma vez, para voltar a ser candidato ao cargo supremo do país, a morte o colheu prematuramente numa rodovia, justamente uma das tantas que havia ampliado e reformado.
Entretanto, este livro do nosso mais eminente escritor urologista, dr. Helio Begliomini, sobre Juscelino, não trata desta história, já tantas vezes contada e, infelizmente, ainda tão desconhecida dos brasileiros.
Um grande país precisa de grandes heróis e nós não honramos sequer um dos maiores, que foi o nosso grande presidente.
Este livro descreve uma face quase desconhecida deste grande brasileiro que para a maioria das pessoas surpreendente. Porque Juscelino Kubitschek de Oliveira era médico-urologista, o primeiro e único urologista do mundo a ser presidente de seu país. Não um mero médico diplomado que trocou de interesse após receber o diploma. Mas sim, um especialista de alta capacidade, treinado num dos melhores serviços de urologia do mundo de então, em plena cidade-luz. Um urologista com treinamento na Paris do início dos anos trinta do século XX!
Esta é a história descrita neste livro. Nele, de modo magistral, o dr. Begliomini descreve esse lado ignorado até aqui desse eminente brasileiro que nos enche de brio e orgulho. Afinal ele foi, em primeiro lugar, um médico e, mais do que isso, foi urologista como nós!
Estas foram as razões que nos levaram a proclamá-lo patrono da urologia brasileira e dar seu nome a nossa mais importante condecoração, a Medalha Brasileira Juscelino Kubitschek de Oliveira de Mérito Urológico. Ele estará, a partir de agora, sempre ligado à Sociedade Brasileira de Urologia, sua imagem impressa em todos os nossos documentos e em todas as nossas realizações.
Porque, acima de tudo, temos orgulho do seu nome e honramos a sua memória: o de maior brasileiro do século XX. Agora, finalmente, temos o nosso herói – o Urologista Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Walter J. Koff*
Foi residente de cirurgia geral e de urologia. Fez mestrado, doutorado e livre-docência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É Fellow da University of California, Los Angeles; da Baylor School of Medicine; do Texas Medical Center, Houston ,Texas; da University of London, The Hospital for the Sick Children e do Karolinska Hospital, Estocolmo, Suécia.
É professor titular de urologia e andrologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); professor de pós-graduação do programa de pós-graduação medicina: cirurgia (UFRGS), e coordenador da área de urologia do referido curso. É atual presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (2003-2005).
Possui mais de 200 artigos publicados em revistas indexadas e mais de 50 artigos publicados no exterior. Tem 280 trabalhos apresentados em congressos nacionais e 45 apresentados em congressos no exterior. Escreveu mais de 40 capítulos de livros e editou 7 livros científicos.
Foi fundador e primeiro presidente da Fundação Médica do Rio Grande do Sul.