Geraldo Nunes
Nos tempos em que apresentei programas de rádio fui procurado pelo advogado Natal Assad Saliba que me pediu para prefaciar seu livro no qual contava a história do irmão já falecido cujo corpo fora minado pela epilepsia, uma doença para ele incurável.
Com o título “Suplício de um Epilético”, recebi os originais e ao ler percebi que o autor não fazia nenhuma referência à doença, apenas aos sofrimentos das vítimas acometidas por este mal.
Decidi então pesquisar o assunto pela internet que na época não era tão recheada de temas como agora. Foi o prefácio mais trabalhoso que escrevi. Percebi na elaboração que a epilepsia é uma doença complicada e de difícil solução.
O livro publicado em 2007 narra a história de um jovem que passou pela vida terrena e não encontrou a felicidade, emocionou os leitores e surpreendeu em termos de aceitação, a ponto de ainda estar disponível em catálogos digitais como os da Amazon, embora seu autor hoje já não mais esteja entre nós.
Na ocasião, me senti orgulhoso de preparar este prefácio feito para um livro curto de apenas 78 páginas que fez sucesso por ter sido escrito com emoção do começo ao fim:
Prefácio
A epilepsia é uma doença neurológica que afeta pessoas de todas as idades, porém, é mais frequente na infância, porque as crianças são mais vulneráveis a infecções do sistema nervoso central (meningite), a acidentes (traumatismos do crânio), a doenças comuns à idade (sarampo, varicela, caxumba), cujas complicações podem ser fatores de risco.
Depois da convulsão, o epilético tem dificuldade em explicar o que aconteceu, a pessoa desmaia por alguns instantes, algumas vezes espumam pela boca e depois não se lembram de nada do que aconteceu.
As primeiras referências sobre epilepsia começaram a surgir em torno do ano 2000 a.C., na antiga Babilônia e nelas já se pediam restrições ao casamento das pessoas acometidas, pelo caráter espiritualista, os epiléticos eram acusados de estarem possuídos pelo demônio.
Mais ou menos 400 a. C. Hipócrates, o pai da Medicina, dissera, entretanto, que a causa da epilepsia não estava em espíritos malignos, mas no cérebro, tentando desfazer a ideia de uma doença maldita.
Na Idade Média a epilepsia era tida como doença mental e considerada contagiosa. Algumas pessoas desinformadas do nosso tempo, ainda pensam assim.
Com freqüência, ainda se tenta curar esse mal por meios religiosos, mas no século XVIII, Jackson, um neurologista, definiu que a epilepsia era causada por uma descarga anormal das células nervosas.
Séculos se passaram, conceitos, conhecimentos e tratamentos evoluíram, mas preconceitos e desinformação ainda existem, porém, nos surge a oportunidade de se desmistificar esse tema através de uma leitura que emociona.
A epilepsia, como qualquer problema médico crônico, afeta não somente a pessoa que sofre deste mal, mas também os que convivem com ela, em especial a família.
Natal Assad Saliba não é médico, mas também atende pelo título de doutor porque é advogado e tornou-se conhecido no bairro do Ipiranga, onde nasceu e vive até hoje, como o protetor dos indefesos.
Após ganhar causas trabalhistas e nas varas de família, para pessoas necessitadas, recebeu inúmeras vezes como pagamento dos honorários, apenas um sincero muito obrigado!
Este batalhador das causas impossíveis se vê agora compelido a tratar de um tema cuja autoridade, a medicina, não lhe concede, mas a experiência de vida sim.
Natal Saliba escreve sobre a experiência de conviver com as vítimas da epilepsia, como proceder quando o mal se escancara à nossa frente e faz sugestões para as formas de tratamento que devem, no entanto, ter a orientação e o acompanhamento de um profissional de medicina especializado.
O tocante do texto que se avizinha ao longo destas páginas é a forma carinhosa como este advogado, descendente de sírios – libaneses, conta como cuidou de seu irmão. Carinho este com que escreve a respeito de um tema áspero como a epilepsia, não só para quem sofre deste mal, mas para quem convive com ele.
Não leremos nenhuma nova tese médica e nem fórmulas empíricas. Aprenderemos sim, noções de respeito com o ser humano que em todas as situações se faz digno de carinho.
Aprenderemos muito, sem dúvida alguma, porque aprendemos sempre com Natal Saliba.
Como diz uma canção do poeta Vinicius de Moraes; “vai, teu caminho é de paz e de amor...” Natal Assad Saliba: “Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver!”
Geraldo Nunes, jornalista, radialista e escritor, é do Ipiranga, assim como o autor Natal Assad Saliba