Slide

Prefácio de Geraldo Nunes

tremembe 6beb8

Quero apresentar Eduardo Britto que certo dia me procurou trazendo um livro escrito por ele com histórias da Casa Verde. Folheando as primeiras páginas notei que se tratava de leitura agradável, daquelas que contam histórias bem próximas de nós porque falam de nossa cidade, do nosso povo.

Para minha surpresa o autor não era daquele bairro, nasceu no centro - Rua 25 de Março e hoje - com suas três mulheres (esposa e duas filhas), reside no Tremembé. O livro sobre a Casa Verde surgiu porque o Eduardo, formado em Economia e trabalha também como Oficial de Justiça, fazia diligências por lá e assim foi conhecendo pessoas e fazendo amizades.

Estranho? De forma alguma! Francisco Eduardo Brito Araújo, esse seu nome completo, é daqueles que distribuem sorrisos e não apenas determinações da Justiça, é conversador e gracioso. Trata a todos de modo gentil, em especial os idosos, de quem gosta de ouvir histórias.

Assim como a cidade, de tempos em tempos, este moço que é filho de baianos que migraram para a capital paulista e se encantaram por ela, vem com uma nova surpresa: SÃO PAULO TRAMWAY TREMEMBÉ, é seu novo livro recheado de deliciosas notícias que nunca estiveram nas páginas dos jornais, porque são, na verdade os acontecimentos do bairro, narrados por antigos moradores deste Tremembé velho de guerra, vizinho da Serra da Cantareira, ainda o pulmão verde desta “Supercapi”.

O livro fala do antigo trem que saía das imediações do Mercado Municipal e seguia na direção da Cantareira, bifurcando em Areal, hoje Carandiru, em ramais que levavam a Guarulhos e ao Horto Florestal. O trenzinho, inspirador do maior sucesso dos Demônios da Garoa, era puxado por uma Maria Fumaça e chamado pelos engenheiros de Tramway, mas para o povo o nome certo era "transvai" mesmo.

São histórias assim que tornam singelas as páginas deste livro que mostra um pouco do que era a vida de antigos paulistanos que acordavam cedo e pegavam o trem para ir trabalhar. A lenha lançada ao fogo para movimentar a locomotiva, produzia fagulhas que faziam furos nos chapéus e nas roupas dos passageiros. O morador da Zona Norte, em especial do TREMEMBÉ, se destacava por causa do trem e era reconhecido em toda a cidade. Quem o via, mesmo sem o conhecer, sabia que era de lá, do além-Tietê, por causa dos "furinhos".

Se não fosse Eduardo Brito, alguém se lembraria que um dia um trem a vapor subiu a Cantareira escorregando nos trilhos, devido à garotada que ensaboava a linha? Detalhes assim, provam que a História não pode ser escrita apenas nos gabinetes porque ela também está na memória dos antigos moradores, hoje pessoas idosas que, com a experiência adquirida ao longo da vida, ajudam a construir uma nova estrada, esta, sem trilhos e sem fagulhas, mas que levarão, tenham certeza, a uma cidade melhor e mais humana no terceiro milênio que se aproxima.

Não sendo historiador, Eduardo Britto, neste SÃO PAULO TRAMWAY TREMEMBÉ, propõe a fuga ao conceito acadêmico de registrar a história e sugere, mais uma vez, aos estudiosos daqui uma nova tendência para o registro da história que também deve ser escrita com base em relatos, ou seja, através da tão divulgada e ainda pouco explorada memória oral.

Por tudo isso: Parabéns Eduardo Britto, que não teve vergonha de relatar nestas páginas um pouco do bom e do puro modo de viver paulistano. O TREMEMBÉ agradece, um pouco de sua história foi salva neste livro. Parabéns a todos e VIVA SÃO PAULO!

Geraldo Nunes, jornalista, memorialista e repórter aéreo