Helio Begliomini
História, Documentário e Biografias
Expressão & Arte Gráfica, São Paulo – 2010,
589 páginas
Prefácio I Zilda Cormack
Helio Begliomini acaba de lançar, sem sombra de dúvida, o livro definitivo sobre a história da Academia Brasileira de Médicos Escritores – “IMORTAIS DA ABRAMES”.
Trata-se de uma obra completa sobre os primórdios da Academia, a trajetória de seus fundadores e respectivos patronos, nesses 23 anos de existência.
O trabalho empreendido por Helio Begliomini foi deveras exaustivo e completo. Esmiuçou todo o passado do sodalício, livros, atas, escritos vários. Usou o autor, e com muita propriedade, do recurso da entrevista com alguns titulares fundadores atuantes, apesar de suas idades avançadas, uma vez que a grande maioria dos que a constituíram já ter falecido. Com denodo e persistência procurou atualizar dados pessoais valendo-se de telefonemas aos familiares, e-mails, solicitando fotos e outros dados indispensáveis ao valor da sua obra.
Alhures tive a oportunidade de dizer que só mesmo uma personalidade como Helio Begliomini, portador de uma sensibilidade pertinaz a todo o poeta e escritor autêntico, inteligente, trabalhador, persistente poderia realizar obra de tal magnitude para a posteridade: histórico sobre a Abrames, membros fundadores e respectivos patronos, fotos ilustrativas, membros atuantes, galeria dos presidentes, curiosidades, etc., fruto de intensos trabalhos de quatro anos de pesquisa, redação e revisão.
Cito como exemplo o seu belo trabalho “Academia Brasileira de Médicos Escritores – Vinte Anos de História”, lançado na Semana da Academia de 2007.
Dificilmente alguém conseguirá ultrapassá-lo em um levantamento tão completo. Portanto, nós, acadêmicos, estamos por demais orgulhosos e gratificados por esse esforço com vitória de nosso titular Helio Begliomini, que nos garante com sua abalizada obra, fruto de trabalho minucioso, a memória dos “IMORTAIS DA ABRAMES”.
Zilda Cormack[*]
[*] Titular-fundadora da cadeira no 19 da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames) e primeira mulher a presidir esse sodalício (2000-2001 e 2002-2003).
Prefácio II: Luiz Gondim de Araújo Lins
Somente a acurada pesquisa, permanente levantamento de dados, obstinada determinação tornaram possível a conclusão de obra com tão precioso conteúdo.
A finalidade precípua foi perpetuar o luminoso itinerário de médicos escritores, desde o momento da criação da Academia Brasileira de Médicos Escritores até os dias atuais.
Sem dúvida, Helio Begliomini, médico laureado de São Paulo, fino cultor das letras, foi o grande artífice com auxílio de diversos colegas da Abrames.
Decorreram quatro anos entre pesquisa, redação e revisão, mas o fruto amadureceu e foi colhido.
A obra ocupa 589 páginas, com três partes e dois índices, abrangendo histórico e biografias.
O livro consagra a mais nobre das profissões, aquela que difere de qualquer outra, posto que exige de seus seguidores vocação plena, fiel dedicação com aprimoramento renovado.
Alguns valores indispensáveis à formação médica precisam ser destacados:
CARÁTER – é o que distingue normalmente uma pessoa da outra. Retidão de caráter é meta obrigatória do homem de bem.
MORAL – parte da filosofia alusiva aos costumes e deveres do homem para consigo e seus semelhantes.
ÉTICA – ciência da moral, normas de conduta que separam o bem do mal.
São elos de uma mesma cadeia, filhos da mesma família.
O verdadeiro escritor tem o beneplácito da inspiração ou o talento da construção ao atingir seu desiderato.
Precisa ultrapassar vazios, preenchendo lacunas; vencer desafios, sendo, acima de tudo, grande artífice das palavras.
A palavra é dotada de especial magia, destacando e distinguindo aquele que dela faz uso. Tem poder especial que define, conceitua, delimita, esclarece, orienta, ensina, remove barreiras, equaciona problemas, conforta, consola, anima.
Escrever é ato solitário; as grandes criações ocorrem em plena solidão. Os momentos de criação são únicos, indescritíveis, não raro sequer anunciados, daí abstração profunda, entrega irrestrita.
Há uma magia que precede a revelação, o vir à tona da obra maior, da bênção recebida.
O escritor e o leitor têm algo em comum: estão sós e, através dessa solidão, abrem cortinas, derrubam muros, decodificam mistérios. E juntos se fortalecem, se reabastecem, se reafirmam.
A Academia Brasileira de Médicos Escritores atingiu maioridade e o fez seguindo trajeto traçado por divinos desígnios.
Parabéns Dr. Helio Begliomini!
Parabéns valorosos membros da Abrames!
Luiz Gondim de Araújo Lins[*]
[*] Fundador da cadeira no 1 e membro emérito da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames). Participou do grupo que planejou e estruturou o sodalício. É o único membro que tem atuado em todas as diretorias desde a fundação da entidade, exercendo a função de vice-presidente em seis mandatos.
Prefácio III: Tito de Abreu Fialho
Nulla tenaci ínvia est via
Para os persistentes, nenhum caminho é impossível
Ao escrever umas palavras sobre a Abrames e o Memorialista, apraz-me dizer, inicialmente, que o sonho se tornou realidade.
Sim: sonharam, inicialmente, Matheus Vasconcellos, Marco Aurélio Caldas Barbosa e o Autor destas linhas. Sonharam e divulgaram seu sonho. A divulgação permitiu que outros se engajassem nele e também sonhassem. Assim, o núcleo cresceu e, de reunião em reunião, não apenas três nem quatro, mas uma dezena, duas, três, e a acanhada sala do gabinete do Marco Aurélio na vetusta Casa da Santa Misericórdia tornou-se tão pequena que as reuniões, sempre regadas por copiosa chuva, passaram a ser no Anfiteatro do Pavilhão São Miguel, também na Santa Casa.
E cresceram também, as visões: de Academia Carioca (Municipal), passou a Fluminense (Estadual) e, finalmente, num rasgo de visão qual voo de águia, a Nacional (Brasileira) nascendo, pois, assim, a ACADEMIA BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES, prontamente apelidada de Abrames!
E o patrono? Esse foi mantido, o imortal autor de “Memórias de um Sargento de Milícias”, o Médico Escritor de apenas um livro, prematuramente falecido, Manoel Antonio de Almeida.
E veio a instalação festiva em memorável noite, no auditório do prédio do Ministério da Educação (quando o Rio era Capital da República), hoje, Palácio Gustavo Capanema, quando verdadeiro dilúvio desabou na cidade, batizando assim a Academia que nasceu “sob o signo das águas”.
Seguiram-se os anos, sucederam-se as Diretorias, mudaram-se tópicos dos estatutos, concursos, mudaram-se locais, mas a “Semana da Academia” continuava sempre, regada pela chuva que insistia com sua presença sobre os eventos.
A pompa inicial das posses terminou. As vestes talares desapareceram. Todavia, há que resgatá-las (e aqui a opinião de um Acadêmico Titular, Fundador, ex-1o Secretário, ex-Presidente, atual 1o Secretário, transferido para o Quadro de Emérito), porque “o hábito faz o monge”, e as posses na Academia devem ser individuais, em qualquer data do ano, não somente em novembro. A posse é a festa do Acadêmico. Nela o recipiendário é saudado por um Acadêmico (seu Padrinho ou Madrinha) e responde livre, suave, satisfatoriamente, dignificando a Entidade, seu Patrono, Antecessores, seu Introdutor, mostrando em um giro sua obra, e isto não pode ser feito nos cinco minutos que a posse coletiva impõe. Repito: há necessidade do brilho individual.
Mas isso tudo ia se perdendo. Eis que um Acadêmico Titular, Fundador (ainda não Emérito por vontade própria) resolveu resgatar a memória da Academia. Sim. A Abrames já ultrapassou vinte anos! Urge que algo nesse sentido seja feito e então, em boa hora, o Acadêmico Helio Begliomini levantou esta bandeira e com denodo, tenacidade e dinamismo resolveu escrever tal livro, norteado pelo lema de sua terra nata: “Non ducor duco”.
Com os cumprimentos
Tito de Abreu Fialho[*]
Saudações Literárias
Mais um livro primoroso
De Helio, laborioso
E notável Professor
Sim! Qualquer Academia
Deve sentir alegria
Por este grande Escritor.
Neste momento, não calo,
E de Cadeira, pois, falo
Sem receios nem vexames:
Helio, sim, por seu valor,
É Titular, Fundador,
Da nossa grande ABRAMES!
A Academia Paulista
De Letras, bem se insista,
De parabéns, pois, está:
Helio, assim escrevendo,
Vai Médicos revivendo,
Melhor maneira, não há.
“Asclepíades” juntando,
Vai memória resgatando
Esse memorialista
Baluarte da Cultura,
Também da Literatura
E da Ciência Paulista!
Receba, Helio, afinal,
Meu aplauso original
Para este seu Trabalho.
O cumprimenta, contente,
D’ABRAMES, ex-Presidente.
Tito de Abreu Fialho.
[*] Fundador da cadeira no 6 e membro emérito da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames). Participou do grupo que planejou e estruturou o sodalício e foi seu 2o presidente (1992-1993).
Prefácio IV: Daniel Pinheiro Hernandez
Este livro – Imortais da Abrames – é obra de fundamental importância para a Academia Brasileira de Médicos Escritores, especialmente por tratar-se de um registro histórico sem precedentes para a nossa Academia.
Seu autor – o confrade Helio Begliomini – aprofundou-se, como bem o conhecemos, em intensos e incansáveis trabalhos de pesquisa, buscando fatos, versões, fotos, depoimentos e tudo mais que pudesse compor o excepcional conteúdo deste livro, que impressiona pela riqueza de detalhes. Foi um trabalho exaustivo, resultante de investigações, redação e sucessivas revisões, realizado ao longo de quatro anos de muito esforço e dedicação.
Assim, sinto-me extremamente honrado por ter sido escolhido, pelo nobre confrade, para ser um dos prefaciadores deste livro. È uma tarefa lisonjeira, que muito alegra e enaltece este que ora escreve esta pequena apresentação. Tarefa das mais gratas, por ser o amigo autor um dos mais tenazes e brilhantes colaboradores da Abrames e que, com sua erudição, nos proporciona uma obra ímpar, bela, muito bem apresentada e de conteúdo metodicamente pesquisado e brilhantemente documentado.
Imortais da Abrames é uma obra completa! Dividida em duas partes, conta a trajetória da Academia – através de seus personagens –, desde sua idealização até os dias de hoje.
A primeira parte é rica em detalhes, trazendo, ao leitor, aspectos ordenados e bem interessantes, como a história da Abrames e de seu patrono, dos membros fundadores, as cadeiras e seus patronos. Também relaciona todos os membros da Abrames, sua galeria de presidentes e as diretorias. Além disso, ainda traz um necrológico, como justa homenagem àqueles que não estão mais entre nós, mas engrandeceram o caminho trilhado pela Academia. E, complementando, o autor acrescenta dados estatísticos e curiosidades. É, portanto, segmento para leitura, consulta e pesquisas.
Na segunda parte, também com riqueza de detalhes, o autor relaciona as biografias dos patronos e dos membros das respectivas cadeiras, trazendo, sempre que possível, fotografias relacionadas, conseguidas nos quatro anos de busca pela vida daqueles que, portando o medalhão da Abrames, com trabalho, participação e dedicação, a fizeram sólida e perene.
Imortais da Abrames é uma obra indispensável, não só aos acadêmicos, mas a todos que se dedicam à literatura, considerando-se, ainda, uma particularidade: é a única, neste âmbito, a tratar, em tamanha plenitude, dos membros de uma Academia formada por médicos escritores.
Obra singular, Imortais da Abrames, proporciona ao leitor uma ideia bastante completa da Academia, desde sua fundação, passando pela trajetória dos seus membros, até chegar à atualidade, que o tempo, inexorável, tornará passado e, portanto, digno de ser contado àqueles que viverão o futuro da nossa Academia.
Helio Begliomini fez, nesta obra, um trabalho de mestre. Conhecido como pesquisador da História da Medicina, aplicou toda a sua experiência na confecção desta que será, por muito tempo, a referência máxima da história da Abrames, contada pela vida dos seus membros.
Imortais da Abrames é isto: um livro raro, escrito por um raro Acadêmico. E que a nós, leitores, faz viajar pelo passado e passear pelo presente, e nos faz olhar – e desejar – um futuro de sonhos, de muito trabalho e de glórias para a Abrames, que o tempo jamais apagará.
Daniel Pinheiro Hernandez[*]
[*] Titular e terceiro ocupante da cadeira no 8 da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames). Foi o 7o e, até agora, o mais jovem presidente do sodalício (2008-2009).
Prefácio V: Ivo Pitanguy
Tendo Manuel Antônio de Almeida como patrono, a Abrames reúne em seu quadro aqueles que, além de se dedicarem ao ofício diário de médico, encontram na literatura um momento de reflexão, exprimindo na palavra escrita um pouco da sua vivência – tratando, curando ou amenizando o sofrimento de seu semelhante.
Helio Begliomini nos apresenta um verdadeiro tratado, com a biografia dos 159 membros – entre patronos, fundadores e ocupantes – que compõem a história da nossa Academia Brasileira de Médicos Escritores.
É uma bela iniciativa, em que IMORTAIS DA ABRAMES será um estímulo a mais para o médico que, compreendendo a vida, tantas vezes sente a necessidade de compartilhar suas emoções e pensamentos com os outros.
Ivo Pitanguy[*]
[*] Segundo ocupante da cadeira no 15 da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames); quarto ocupante da cadeira no 22 da Academia Brasileira de Letras (ABL); membro titular da cadeira no 67 da Academia Nacional de Medicina (ANM) e patrono da cirurgia plástica brasileira.
Prefácio VI: Juçara Regina Viégas Valverde
“Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala.” (Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”.)
A presença feminina na Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames) tem sido atuante. Há uma patronesse, Francisca Praguer Fróes, patronímica da cadeira no 24. As mulheres entre os cinquenta fundadores foram quatro: Maria José Werneck (RJ), Zilda Cormack (RJ), Coracy Teixeira Bessa (BA) e Dulce Morgado Castellar Pinto (RJ). Posteriormente ingressaram: Maria da Paz Manhães (RJ), Inaura Vaz Carneiro Leão (RJ), Marli Piva Monteiro (BA), Thereza Freire Vieira (SP), Sara Riwka Erlich (PE), Marialzira Perestrello (RJ), Josyanne Rita de Arruda Franco (SP), Leila Maria Campos Jordão (RJ), Janine Cynamon Ajzman (RJ) e Juçara Regina Viégas Valverde (RJ). Hoje somos 10 acadêmicas. A Abrames nestes 23 anos já foi presidida por uma mulher por dois mandados, Zilda Cormack (2000-2001 e 2002-2003) e, pela segunda vez, por Juçara Regina Viégas Valverde (2010-2011). A Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames) é a única academia literária exclusiva de médicos conhecida no mundo.
“A palavra anda de carona nas asas da borboleta,
salta para o tapume,
depois para o topo da escada.
Na carona da palavra,
transcendendo a luta,
contra a vida e a morte,
num sopro de eternidade.”
Alice Spindola
A Abrames foi fundada no dia 17 de novembro de 1987 – dia e mês de nascimento de Manuel Antônio de Almeida, seu patrono – no anfiteatro Miguel Couto do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, na cidade do Rio de Janeiro. Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) era médico, jornalista, cronista, romancista, crítico literário e também patrono da cadeira no 28 da Academia Brasileira de Letras.
A história da Abrames inicia-se com Marco Aurélio Caldas Barbosa, eleito presidente da comissão que reuniu os médicos: Mateus Vasconcelos, Miguel Calille Jr., Tito de Abreu Fialho, Maria José Werneck, Perilo Galvão Peixoto, Syllos de Sant'Anna Reis e Luiz Gondim de Araújo Lins. Estabeleceram seu estatuto, as insígnias acadêmicas e escolheram para patrono da Abrames Manuel Antônio de Almeida.
A Abrames é composta de cinquenta cadeiras, com o princípio da vitaliciedade modificado (Estatuto, 1987) e a condição de membro emérito, quando ocorre a vacância da cadeira sem que o titular perca a sua condição de acadêmico.
Os patronímicos das cinquenta cadeiras da Abrames foram destacados médicos escritores, 23 deles pertenceram à Academia Nacional de Medicina; 16 tiveram seus nomes ligados à Academia Brasileira de Letras; e entidades, tais como Academia Mineira de Letras, Academia Fluminense de Medicina, Academia Paulista de Letras, Academia Brasiliense de Letras, Academia Luso-Brasileira de Letras, Academia Petropolitana de Letras...
A Abrames, sendo oriunda da Sobrames, possui grande parte de seus membros das diversas regionais estaduais da Sobrames dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Paraná, Amazonas, Rondônia, Ceará, Pernambuco e Goiás.
Decorridos vinte e três anos de existência da Abrames, encontram-se ainda entre nós dezoito de seus cinquenta membros fundadores.
Estamos percorrendo o décimo primeiro mandato bianual tendo como presidentes: Marco Aurélio Caldas Barbosa (1989-1991), Tito de Abreu Fialho (1992-1993), Júlio Arantes Sanderson de Queiroz (1994-1995 e 1996-1997), Jorge Picanço Siqueira (1998-1999), Zilda Cormack (2000-2001 e 2002-2003) e Abilio Kac (2004-2005 e 2006-2007), Daniel Pinheiro Hernandez (2008-2009), Juçara Regina Viégas Valverde (2010-2011). Luiz Gondim de Araújo Lins participou de todas as diretorias; em seis gestões como vice-presidente e, ultimamente, como orador oficial.
“Se não se espera, não se encontra o inesperado,
sendo sem caminho de encontro nem vias de acesso.”
Heráclito, “Fragmento 18”.
A Abrames há 23 anos atua no cenário cultural brasileiro difundindo suas teses, ideias, mensagens e sentimentos para o mundo da língua portuguesa. Neste terceiro milênio um novo desafio nos é imposto pela dinâmica do mundo atual: o de socializar o conhecimento produzido nesta casa que é uma das guardiãs da cultura da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país; como escritores temos este compromisso com a sociedade
Se a Medicina contribui para curar doenças, a literatura e a poesia ajudam a curar a alma, e há muitas almas a serem cuidadas. Se não podemos curá-las, que suas dores, ao menos, sejam aliviadas por meio de nossos escritos. Escritores e poetas trabalham com o imaginário, com o lúdico. Ao mesmo tempo em que expomos nossos sentimentos, emocionamos aqueles que nos leem. Ampliar nosso universo de leitores é uma das metas da nossa academia.
A poesia “humaniza o homem”. Um artista não exprime emoções que apenas serão entendidas por ele, mas o que é comum aos outros homens. Isto é a universalidade na poesia. A poesia não pode almejar permanecer como posse de poucos, pois é libertadora, é pensamento qualificado, porque reflete sentimentos humanos e incorpora arte e liberdade, enquanto elaboração criativa e conceitual. A poesia deve ser instrumento civilizatório, de educação da sensibilidade das massas, tanto quanto o possível. Por ser a mais antiga das ocupações intelectuais, através da qual o homem contou, primeiramente, os seus delírios e alumbramentos, relatou aventuras, organizou sentimentos e desenvolveu a arte de amar, a poesia possibilitou ao homem adquirir humanidade
“A poesia é a porta de entrada para um mundo de percepções ultra-humanas,
ficcionais ou não, que deixa a arte e a invenção como substrato
e não paga tributo a nenhuma moral.”
Ricardo Sant’Anna Reis
Devemos procurar estimular a prática de repensar e incentivar o debate e intensificar as discussões sobre a nossa função social e o compromisso com a educação no seu sentido mais amplo.
Os escritores são produtores de conhecimento e informação. Formadores de opinião seja ela jornalística, artística, pedagógica, técnica, científica ou cultural. A transmissão de conhecimento faz parte de um processo educativo que deve aliar todos que acreditam que é possível viver a utopia de uma sociedade melhor. Só um cidadão bem informado tem acesso a bens culturais e é capaz de exercer conscientemente a sua cidadania. Temos muito a contribuir.
Ao longo desses anos construímos a nossa história por meio da nossa produção literária. E, como a história se reescreve sem cessar, continuaremos a escrevê-la. Somos ao mesmo tempo autores e sujeitos dessa história que não pode ser apenas preservada, mas também difundida. É importante que possamos integrar nossas atividades com as da História da Medicina, divulgando nossa atuação para entidades afins e para as escolas de Medicina de todo o Brasil. Nossos estudantes devem ser informados sobre a importância do humanismo e da literatura seja ela em prosa ou verso.
Que sirva de inspiração para o desenvolvimento da Abrames o “Centenário de Joaquim Nabuco (1849-1910)”, político, escritor pernambucano – Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo –, uma das figuras mais importantes do abolicionismo e um dos criadores da moderna prosa brasileira que, em 1891, ajudou a fundar o Jornal do Brasil, do qual foi redator-chefe. Convidado pelo governo republicano foi encarregado de diversas missões diplomáticas e chefiou a Embaixada Brasileira em Londres e em Washington, onde morreu.
O que irá garantir a imortalidade da Abrames e de nossos autores é a nossa biblioteca, composta por nossas obras; portanto não poupemos esforços no registro e publicações. A Abrames precisa agregar-se a entidades literárias como a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de História da Medicina, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – RJ e o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro.
Vamos caminhar em direção ao nosso ideal, o de disseminar a cultura na esperança de que, com nossa atuação, possamo-nos juntar aos que acreditam na formação de uma sociedade na qual o encontro das diferenças humanas e da diversidade cultural se dê de forma respeitosa e enriquecedora, tornando-a mais humanizada.
Esta casa de médicos literatos necessita da construção contínua da sua memória para divulgação da sua história. Contamos com o trabalho diuturno do nosso acadêmico Helio Begliomini[1], que com suas atualizações mantém viva a história da Abrames na nossa vida acadêmica.
“Responderei conforme puder e o melhor que puder.
O que poderá suceder, e isto me desculpará,
desde já, é não responder tão depressa.”
Fernando Pessoa, “Quando fui Outro”.
Saudações acadêmicas
Juçara Regina Viégas Valverde[2]
[1] Nota da autora: citações do trabalho de Helio Begliomini em "O Bandeirante. Ano XVI – no 180 (novembro), 2007” apoiaram este texto.
[2] Segunda ocupante da cadeira no 6 da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames) e segunda mulher a presidir esse sodalício (2010-2011).