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Prefácio I - (Alfredo José Mansur)

Livros se edificam assentados em pilares intangíveis: a inspiração que o fez nascer, o trabalho de pesquisa que propiciou e enriqueceu o seu conteúdo, a redação propriamente que levou a cabo a empresa, entre outros. Concertaram-se a circunstância inspiradora, o ambiente de pesquisa e trabalho harmonizados pelo autor que acolheu e traduziu a inspiração em resultado tangível e concreto da ação inspirada – o livro.

Alfredo José Mansur 13424A circunstância que deu origem ao presente volume nos remete há mais de um século. O desenvolvimento de uma comunidade, de seu ambiente social e de uma missão profissional aglutina-se muitas vezes em uma das formas de organização: uma pólis, uma sociedade, uma instituição, entre outras. Tal conciliação nasce e se viabiliza graças a impulsos que se consolidam nascidos de necessidade histórica ou social alicerçados em valores fundamentais de uma missão profissional de acordo com o seu ambiente espiritual, o seu Zeitgeist, e transformadas em ação por uma especial inclinação de espírito de pessoas vocacionadas para que se supere o limiar do vir a ser e reunir forças de permanência para existir

A Academia de Medicina de São Paulo palmilhou esse percurso e alçou-se à existência e à permanência em 7 de março de 1895, a partir da reunião de 40 ilustres médicos. Na ocasião do evento fundador foram enunciados conceitos qualificadores e substantivos documentados publicamente; ilustremos citando alguns deles – significativa, imponente, supraindividual, forças de alma, ideia mais elevada, unificação científica da classe, saúde da família médica brasileira. Poderíamos entender essas expressões como luzes de um firmamento que permitem entrever a natureza das disposições que se reuniram.

Entre as polímatas virtudes desse seleto conjunto destaquemos, além das reconhecidas competências profissionais e científicas, a pluralidade de origem – médicos paulistas da capital e do interior do estado, colegas de outros estados do País e estrangeiros, graduados no Brasil (Rio de Janeiro, Bahia), mas também na França, na Itália, na Alemanha, na Bélgica, na Escócia. Registremos também o impulso social manifesto na Policlínica de São Paulo para atendimento voluntário da população carente. Fincaram sólidos alicerces. E assim passou-se mais de um século. O tempo pode ser consolidador, sem o seu concurso, não há a existência; não há a permanência; mas o tempo pode também incorrer no risco de olvido. Mas há possibilidades de coibir esse risco – a narrativa e seu registro.

O conteúdo, que ora se nos apresenta, resulta de mais um trabalho historiográfico competente e dedicado, que resgata uma parte importante do Zeitgeist em torno da nascente comunidade médica paulista organizando-se: emergem detalhes do espírito da época, tanto no sentido médico (por exemplo teorias a respeito da etiopatogênese da febre amarela, tratamento da sífilis, do mal de engasgo, da hanseníase) quanto no sentido das orientações filosóficas (darwinismo, positivismo) e políticas vigentes (republicanismo). Foram reunidos registros desde anteriores à fundação do que hoje é a Academia de Medicina de São Paulo, bem como dados biográficos dos seus fundadores, informações sobre a sua prática profissional e de suas contribuições médicas, médico-sociais e em alguns a participação na vida política. Não é surpresa o fato de que muito do que foi amealhado pelo autor foram informações nas mais variadas fontes pesquisadas e nem sempre de acesso fácil ao nosso historiógrafo que lograram tornar-se primorosamente organizadas em narrativa documental e fluente.

O autor, acadêmico Helio Begliomini, titular e emérito da cadeira no 21 da Academia de Medicina de São Paulo, tem se dedicado a lapidar essa história preciosa nos seus detalhes no decorrer de mais de uma década por meio de trabalho incansável e ininterrupto de pesquisa e de resgate de informações e de documentos da época e posteriores, fontes devidamente reproduzidas ou citadas. Sua experiência já foi demonstrada, cultivada e consolidada em solenes publicações prévias. O incansável e dedicado historiógrafo, desta feita, brinda-nos a todos com este volume intitulado “Fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo”, no qual segue no cultivo dos valores que regem e elevam a Medicina e a Academia de Medicina de São Paulo, por meio da justa e devida reverência aos seus fundadores e a nossos antecessores.

Honrado pelo convite a prefaciar esta obra, cumpro o agradável dever de, em nome dos meus confrades acadêmicos, incumbir-me de manifestar o agradecimento, o reconhecimento e o aplauso por mais uma contribuição do autor, o acadêmico Helio Begliomini.

 Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1975, onde, no Hospital das Clínicas (HC), fez residência médica em medicina interna e cardiologia (1976-1978), e dedicou-se à carreira universitária, conquistando a condição de doutor (1982-1987) e de livre-docente (1996) de cardiologia. Ademais, galgou o cargo de diretor do corpo clínico e diretor da Unidade Clínica de Ambulatório Geral do Instituto do Coração (Incor) do HC-FMUSP, onde tem se dedicado à assistência, ensino e pesquisa, com ênfase à endocardite infecciosa, insuficiência cardíaca e avaliação da saúde cardiovascular em pacientes ambulatoriais.
Alfredo José Mansur foi editor dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia (1999-2001) e compõe o corpo editorial dessa revista, bem como da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, e do periódico Autopsy & Case Reports. É membro titular da cadeira no 35 da Academia de Medicina de São Paulo, tendo por patrono Antonio Ferreira de Almeida Júnior (1892-1971).

Prefácio II - (Rubens Belfort Mattos Júnior)

Prefaciar este novo e importante livro do acadêmico de tantas academias, Helio Begliomini, é uma grande honra. O sucesso de suas publicações impacta pela receptividade no meio cultural e médico brasileiro e, também, pela importância destas informações.

Rubens Belfor M Jr 11397Nosso país, infelizmente, perdeu grande parte da memória, inclusive na área médica, e publicações assim resgatam o passado e demonstram riqueza cultural do autor e do nosso meio.

O registro é importante para as instituições e para toda sociedade, e o Dr. Begliomini investe e doa seu precioso tempo e grande capacidade em benefício deste resgate muitas vezes quase impossível e sempre complexo, envolvendo pesquisas de documentos e informações de fontes variadas e frequentemente contraditórias.

A História é viva e pertence não apenas ao passado, mas, começando nele, passa pelo presente e, talvez, esteja ainda mais importante para o futuro. Pois, através da história, sim, podemos entender o passado, viver o presente e planejar este futuro.

A efervescência cultural e econômica de São Paulo ao final do século XIX terminou por atrair também, ao lado das centenas de milhares de imigrantes de pouca cultura formal, outros que aqui aportaram, trazendo diplomas e reconhecida capacitação médica na Europa. Passaram a conviver com médicos brasileiros, geralmente membros da riqueza cafeeira, treinados quase sempre na Bahia e Rio de Janeiro e, com frequência, também com estágios na Europa, notadamente na França, mas também Itália, Inglaterra, Alemanha e outros países.

São Paulo crescia e, acumulando valores culturais, passou a ter número maior de médicos e os nossos primeiros líderes e professores, envolvidos também em assuntos políticos e com frequência envolvidos em disputas e atritos profissionais.

As informações aqui apresentadas sobre nossa medicina e os fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo são muitas e merecem ser conhecidas. Desde a falta de união inicial entre médicos até a progressiva consolidação das instituições, através do exemplo solidário e atividades científicas, frutos do amadurecimento. Trata-se de rico relato dos primórdios das nossas primeiras associações médicas que desabrocharam na Academia de Medicina de São Paulo.

É verdade que a história geralmente é contada a partir dos mais ricos e dos vencedores, mas também inclui os demais; e é sempre importante lembrarmos que, além dos personagens neste livro existem centenas de médicos que contribuíram nas trajetórias aqui registradas, demostrando sim, a riqueza médica e intelectual de São Paulo desde o século XIX.

Também a preocupação com aspectos sociais da medicina, o combate às enfermidades infecciosas, a melhoria da qualidade de vida e as tentativas sempre presentes de assessorar os governantes eram ideais também desde os fundadores das diferentes entidades que terminaram se agregando inicialmente na sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo.

Um grande livro, fonte de conhecimentos importantes que permitem uma análise histórica e sociológica da medicina paulista, rara de ser encontrada com tanta clareza, minuciosidade e perspicácia intelectual. Sem dúvida, todos reconhecemos aqui os méritos intelectuais do autor e o agradecemos pela utilidade desta obra em benefício de todos e representando a nossa Academia de Medicina de São Paulo e da Medicina Brasileira.

Graduou-se pela Escola Paulista de Medicina, hoje, Universidade Federal de São Paulo (EPM – Unifesp, 1970), onde se especializou em oftalmologia (1971-1972) e fez seu mestrado na disciplina de microbiologia, imunologia e parasitologia (1978). Doutorou-se em oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1981) e, em microbiologia e imunologia, na EPM – Unifesp (1985). Dedicou-se à carreira universitária nessa tradicional instituição de ensino, galgando a condição de livre-docente, professor titular (1989) e, hoje, professor emérito de oftalmologia. Foi também professor titular de oftalmologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí (1977-1985).
Rubens Belfort Mattos Júnior é pesquisador 1A do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Foi membro do Conselho Superior da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. É presidente do Ipepo – Instituto da Visão. Presidiu a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), a Associação Pan-Americana de Oftalmologia, o World Ophthalmology Congress e a Academia Nacional de Medicina (2020-2021). É também membro da Academia Brasileira de Ciências, Academia Ophthalmologica Internationalis, Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil, Academia Brasileira de Oftalmologia, Conselho Nacional de Ciências e Tecnologia, e honorário da Academia de Medicina de São Paulo.
Publicou mais de 1.000 artigos e foi orientador de 80 doutores e mestres. Dentre as comendas e honrarias recebidas têm-se: prêmio Conrado Wessell, medalha Vision to Teach, medalha ao Mérito Oswaldo Cruz – Presidência da República; Ordem do Mérito Científico Nacional – Classe Grã-Cruz; medalha Duke Elder e medalha do Conselho Internacional de Oftalmologia.