Em 2009 prefaciamos o livro Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa, obra do pesquisador musical Assis Ângelo, lançado em São Paulo pela GTT Editora
Geraldo Nunes*
Conheço o jornalista e escritor Assis Ângelo dos tempos em que ele era assessor de imprensa da Companhia do Metrô, tendo passado posteriormente pela CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Naqueles tempos, não imaginava que aquele profissional sisudo e até carrancudo no atendimento das pautas do dia a dia, pudesse guardar dentro de si algo tamanha sensibilidade em relação às artes e à música.
A descoberta aconteceu lendo uma reportagem de jornal que informava ser Assis Ângelo, o maior colecionador de discos com músicas que falam de São Paulo. Além de guardar consigo essas gravações, catalogou tudo e sabe com detalhes a história e os nomes de inúmeros compositores e cantores brasileiros de todos os gêneros.
Para quem trabalha em rádio a descoberta foi maravilhosa. Convidado para a estréia de um programa nosso apresentado há quinze anos, Assis Ângelo levou para os ouvintes tudo aquilo que uma matéria de jornal não teria como apresentar: o som das músicas presentes em seu acervo.
Contei este caso para explicar que não poderia haver pessoa melhor para escrever um livro que conta a história dos Demônios da Garoa, grupo musical que tem a cara de São Paulo, do que este paraibano de João Pessoa que adotou a metrópole para si e foi adotado por ela.
Assis Ângelo é unha e carne com São Paulo, assim como são os Demônios da Garoa. Por isso, só mesmo um nordestino saberia descrever a íntima relação deste grupo musical com a cidade que as pessoas do nordeste que aqui chegam, convivem, sofrem e depois se apaixonam. São Paulo para quem vem de fora, é algo que não se explica, mas que se entende, porque existe e tem força.
Mais fácil é compreender a simpatia cativante dos Demônios da Garoa, grupo que se mantém único e inimitável há mais de 60 anos, embora Arnaldo Rosa e Antônio Gomes Neto, fundadores do grupo, já tenham partido dessa vida. Os dois se foram, mas deixaram lastro, algo como uma norma de conduta: “Para tocar ou cantar nos Demônios da Garoa, é preciso transmitir alegria aos que também querem sorrir”. Assim, vendendo alegria, nossos “demônios” de hoje seguem felizes a cantar.
A trajetória do grupo é muito bem contada pelo mestre Assis Ângelo. Tem início nos programas de auditório do rádio de antigamente e culmina com o lançamento do primeiro disco, Sanfoneiro Folgado, uma rancheira de Mário Zan e Motinha. Explode em sucesso a partir de 1953 com Mulher Rendeira, um baião extraído de um tema popular da Paraíba para o filme O Cangaceiro de Lima Barreto, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes.
Depois, tem início a amizade com Adoniran Barbosa e as canções que até hoje os Demônios da Garoa cantam por exigência do público: Saudosa Maloca, Iracema e Trem das Onze, vencedora do carnaval do Rio de Janeiro, em 1965, foi aclamada em pesquisa como a música que mais faz lembrar São Paulo.
Há outras canções, todas tão singelas, que enumerá-las seria por demais cansativo. Assim, pela gentil incumbência que me deram de apresentar este trabalho escrito, comemorativo dos primeiros 60 anos deste grupo de vozes irmãs, quero saudar a todos e dizer que pela primeira vez na história do Brasil, está sendo lançado um livro para contar unicamente a história de um grupo musical. Aqui está: “Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa”.
Outros livros falam de estilos musicais e de vários conjuntos. Este fala somente dos Demônios da Garoa para provar mais uma vez que este grupo predestinado, é pioneiro e não à toa, está no livro dos recordes como grupo musical há mais tempo unido na história da música em todo mundo. Demônios da Garoa, com o orgulho de ser brasileiro.