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Carolina Ramos

 

Deslizas velho rio, amargo e silencioso,

A esconder, bem ao fundo, a injúria e a dor calada.

Cresceste manso, puro! E teu caudal piscoso

Refletia o esplendor da luz da madrugada!

 

Quantas milhas coleaste! Fértil, dadivoso,

Quantos lares supriste! E se a sede saciada

Afugentou a seca, esse fantasma odioso,

Tiveste, em paga injusta, a face maculada!

 

Hoje, segues tristonho... sujo... moribundo...

Tendo no seio o estigma e, na alma dolorida,

Toda a angústia de ser a lixeira do mundo!

 

Velho rio... depois de tanto desengano,

Entendo porque, enfim, protestas contra a vida

E afogas tua dor no abismo do oceano!