Slide
  • Fonte: Helio Begliomini

Até pouco tempo atrás estávamos nos conhecendo na comunidade de jovens do Tremembé – o Cuca – Comunidade Unida com Amor. São imemoráveis os momentos de alegria que pudemos sentir, principalmente porque não eram efêmeros, materiais, mas aqueles que vêm do alto, que vêm de Deus!

sonia 0eac1Da esquerda para a direita: Sônia (in memoriam) e as irmãs Maria da Penha e Maria Elisa, no aniversário da Aida Lúcia, minha futura esposa, em 13 de janeiro de 1979.

Quantos encontros de jovens... quantos dias de formação... quantas palestras... quantos momentos felizes!

Nessa época, tivemos muito prazer em conhecer outro grande amigo, o Eduardo Vitor, que o tempo mostraria ser a Sônia a sua futura esposa.

Houve o namoro, noivado e, há três anos, tivemos a satisfação e o privilégio de estarmos aqui, no altar de nossa querida Igreja de São Pedro Apóstolo, para confirmar a alegria do matrimônio de dois grandes amigos descobertos no mais sincero ideal de servir e amar o Cristo (Figura 2).

E por falar em altar, quantas recordações poderíamos saborear sobre este lugar sagrado sob o cuidado de nosso estimado pároco, o padre Bruno. Ele não é somente um firme guia espiritual, um sacerdote por excelência, um fiel intérprete do grande Concílio Ecumênico Vaticano II, mas também um homem simples e um homem de Deus. Ele era da Sônia, do Eduardo e de tantos outros irmãos na fé um verdadeiro pai espiritual, zeloso para com suas ovelhas.

pedro d4e40Em meu apartamento por ocasião de meu aniversário, em 21 de março de 1982. Da esquerda para a direita: Pedro, meu irmão; Ana Telma, Sônia (in memoriam), Stefanie, Tânia, José Alberto, Pio e Eduardo, esposo da Sônia, à frente agachado.

Sob sua orientação este altar foi, para todos nós, fulcro de encontros muito festivos em Deus. Aqui vários colegas foram batizados... crismados... receberam a eucaristia... o sacramento do matrimônio... e o batismo de seus filhos. Também agora, o mesmo sacrifício da cruz que o Cristo teve é revivido por intenção da nossa querida Sônia.

Fomos pegos de surpresa, sem dúvida, com a sua inesperável partida, causando-nos uma ferida profunda, pois muito a amávamos1.

Poderíamos pensar, refletir e indagar como tudo fora acontecer. Tentaríamos encontrar em vão várias respostas e, com certeza, nenhuma seria cabalmente convincente.

Por que tão moça!? Por que logo agora, coincidentemente com o nascimento de seu filho, que tanto almejara!? Por que tão cedo no matrimônio!? Por que ao estar sendo profissionalmente recompensada e uma bela carreira pela frente a esperando!? Na certa, não faltariam porquês e mais porquês...

Na verdade, somos pequenos em corpo e espírito. Se perguntássemos ao Criador, o Pai celeste, o porquê de tudo, Ele talvez respondesse: “meus caros e pobres meninos, vocês não aprenderam do meu Filho enviado – o Cristo, que Ele veio para os enfermos e não para os sãos... ”.

A Sônia foi sempre íntegra, saudável perante Deus! Ela também compreendera que não sabemos nem o dia, nem a hora em que passaremos para a outra vida. Por isso, não perdia tempo e muito trabalhava pelo reino de Deus.

Nós, seus amigos, sentimos profundamente a sua ausência, pois deixou irrevogavelmente nosso convívio. Como já foi dito nas Sagradas Escrituras: “Quem encontra um amigo, encontra um tesouro”. Analogamente, quem perde um amigo, perde um tesouro. Ela era nossa Amiga com “A” maiúsculo, de todos os momentos e de todas as horas, mas era também um tesouro de Deus

casais 2fe86Casais, amigos desde o final da adolescência. Da esquerda para a direita: Geraldo (in memoriam) e Ana Telma; Eduardo e Sônia (in memoriam); Helio e Aida grávida; e Stefanie. O Pio, seu esposo, muito provavelmente estava fotografando a cena, em julho de 1982.

passeio 2bef1Passeio a Campos do Jordão, admirando a beleza da Pedra do Baú, ao fundo, em julho de 1982. Da esquerda para a direita: Pio, Stefanie, Sônia (in memoriam), Helio, Ana Telma, Geraldo (in memoriam) e Eduardo.

campos 9382d Passeio a Campos do Jordão, em julho de 1982. Sônia e Aida no rochedo “Bauzinho” admirando o grande vale, pertencente ao município de São Bento do Sapucaí.

Mas por que tantos assassinos ficam... tantos ladrões... malfeitores... e tanta gente boa se vai!? Talvez, o próprio Cristo novamente reafirmasse: “A Sônia não era doente. Eu vim para os enfermos, pois, só estes é que precisam de um médico”.

A nossa querida Sônia compreendia como poucos que é preciso que a semente morra; seja enterrada para que germine, se transformando numa árvore frutífera. Afinal, foi assim que aconteceu com o Cristo. Foi preciso que morresse e ressuscitasse para que se consumasse o plano de Deus Pai.

Deus, quiçá, ainda nos dissesse: “A Sônia era ponto de união na família, no emprego, no lar, na comunidade e acima de tudo no meu Plano de Amor – Ela era a minha predileta. Eu a chamei cedo, pois, há muito ela já desempenhou a sua primeira tarefa. Agora, é hora de ela realizar a segunda. Com sua ausência e junto a mim, ela estará intercedendo pela unidade, pelo amor, pela alegria e pela vida em plenitude de seus pares”.

Completaria o Pai Celeste: “Era preciso sua ausência física junto dos seus familiares, amigos, de seu lar, da sua comunidade e de seus locais de trabalho, para que muita coisa benéfica, que ela tentou realizar em meu nome em sua breve existência, pudesse ser agora concretizada. Eu a chamei para que compartilhasse logo de minha felicidade e para que fosse anfitriã no meu reino de todos os seus familiares e amigos”.

A nossa querida Sônia, que tanto colaborou nos Cursos de Noivos, na vida da comunidade, na conscientização contra o aborto, foi testemunha viva do amor maternal e do amor divino.

Ela, assim como o Cristo, mostrou que ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelo seu irmão. Ela deu a sua vida pelo seu filho, sendo o parto – a sua cruz e o seu martírio.

A nossa querida Sônia foi exemplo de vida a ser seguido. Em pleno século XX marcado pela autopromoção, materialismo, indiferentismo, relativismo de valores, cobiça e violência de todos os tipos, ela testemunhou que não há outro modo de se chegar a Deus senão o de renunciar a si mesmo pelo seu irmão.

E agora, nós que por longos anos passamos juntos, nos é reservado o mesmo altar, o mesmo pastor, a mesma comunidade, para rezar pela querida amiga, subitamente subtraída pelos imperscrutáveis desígnios do Autor da vida.

Nós, seus velhos amigos, pais e familiares, rezamos pela alma da inolvidável Sônia, para que ela, já na glória de Deus, interceda por todos nós, para que inspirados na vivência do seu exemplo cristão possamos, um dia, alcançar a glória de Deus, junto com Maria Santíssima, todos os santos e anjos.

À nossa querida e inesquecível irmã, uma singela, porém sincera, homenagem, a quem foi uma perene oração ao Criador.

 

1 Sônia teve eclâmpsia durante o trabalho de parto, falecendo horas depois de ter dado à luz seu primogênito, Marcos.