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  • Fonte: Frances de Azevedo

Raquel Maria Carvalho Naveira, mais conhecida como Raquel Naveira, minha confreira na Academia Cristã de Letras, onde ocupa a Cadeira 7, cujo patrono é Castro Alves, lançou este ano mais uma primorosa obra sob o título Leque Aberto. Um misto de crônicas e ensaios.

Frances de Azevedo 2 56cceObra que recebeu o Prêmio Mário de Andrade pela UBE/RJ e que, em Setembro deste ano, tive o prazer de recebê-lo, com esta dedicatória: À querida escritora Frances de Azevedo, com amizade e admiração, estas rendas do leque.

Por que rendas do leque?

Após o Prefácio e o Epílogo, dessa mágica viagem, Leque Aberto, a autora assim inicia essa maravilhosa viagem no tempo:

Encontrei entre os guardados de minha mãe um leque. Um leque vermelho como uma aurora boreal. A renda toda revestida de lantejoulas rubras. Abri as hastes brancas de madrepérolas e ele fez um estranho som. Fechei novamente como quem toca um instrumento de flerte e sedução. Era tão vaidosa a minha mãe! Nascera mulher, preocupada com seus retratos e decotes, com o que os outros pensariam de sua beleza. Uma necessidade enorme de ser notada, de não passar nunca despercebida. Ás vezes isso a fazia num vácuo, num vazio, num vazio absoluto, que doía em sua velhice.

Eis, pois, a razão do título da obra.

Ao abrir esse leque de memórias, um calidoscópio surgiu, onde os poemas de Fernando Pessoa, passando por Salomão e Aroldo de Campos, foram lembrados pela autora, num universo mágico de ideias para mais uma viagem literária.

Assim é o poeta, o cronista, o escritor...

Nessa leitura, embarquei e, lá, às folhas 69, me deparei com Margarida!

Se eu fosse uma flor, seria uma margarida.

Margarida, nome de flor, de mulher, de saudade! Sim, de saudade, de um dos jardins de minha infância, onde, elas, cobriram o caixão funerário de Bob, nosso cãozinho, companheiro dos folguedos inocentes! Margaridas que foram o coroamento, o troféu, o presente máximo que lhe ofertamos por ter feito parte de nossas vidas...

Às Fls. 71, Raquel menciona sua visita ao Museu do Prado, em Madri, onde um quadro lhe chamou a atenção As Meninas, de Velásquez. Um delas, a infanta Margarida, aos cinco anos, com um vestido dourado, no estúdio do artista, cercada por damas de companhia, os olhos cravados em seus pais, cujo reflexo é visível no espelho da parede.

Então, tal qual o leque da mãe de Raquel, que lhe abriu a porta de saudosas memórias, eu também, num passe de mágica, me recordei que havia escrito sobre um quadro, com duas meninas, que me acompanhou na infância e parte de minha juventude, que ora transcrevo, reiterando meus agradecimentos e encômios a Raquel.

AQUELE QUADRO

Procurei muito pela Internet, perguntei aos meus irmãos, e até nos meus guardados, por uma ilustração representando duas crianças, meninas, de cabelos encaracolados, loiras e com roupas vaporosas: eram vestidos ao que me lembro! Não sei se usavam chapéus ou laço de fitas. Mas sei, lembro muito bem, que ao pé delas, um cão com pelagem branca e preta, descansava. Estavam sentadas...

Naturalmente que se tratava de quadro célebre, gravura reproduzida que era. Como foi parar lá em casa, emoldurada num quadro, aproximadamente, de 0,40 x 0,40?

Não há como saber, principalmente, agora, que os meus pais se foram.

Como dizia, procurei e procurei. Um pouco hoje. Outro pouco amanhã. E o tempo foi passando... Outras ideias e afazeres tomando conta de nosso dia a dia.

E hoje (12 de setembro de 2017) após receber o livro O Avião Invisível da poeta e cronista Raquel Naveira, minha confreira na Academia Cristã de Letras, animada com suas deliciosas e bem escritas crônicas, pus-renoair fc464me a escarafunchar novamente o Google e, filtrando mais um pouco, cheguei ao nome do autor do quadro - em gravura - que me acompanhou na infância e parte da juventude : Pierre-August Renoir que, em 1878, pintou “Madame George Charpentier et ses enfants”. Gênero: retrato. Período: Impressionismo. Impressionismo cujo nome é derivado da obra “Impressão: Nascer do Sol”, de 1872, de Claude Monet. E surgiu na pintura francesa do século XIX, na chamada Belle Époque.

Não se fala do cão ao pé de uma das meninas que o acaricia. Trata-se de um Border Collie.

Quanto à senhora Charpentier, não tinha, até então, qualquer memória dela, pois apenas as meninas e o cão ficaram gravados em minha mente. Todavia, ao ver o quadro hoje, tudo se aclarou e o fogo da lembrança ardeu por inteiro!

Finalmente, desvendado o mistério da gravura que, em meu imaginário, tão boas recordações me traz, duma época em que todos os meus irmãos – na verdade três meninas e um menino – papai e mamãe, vivíamos juntos e felizes!

Gravura que plasma nossa família no tempo e espaço sideral. Nas nuvens, nas estrelas, no mar: num barco único de amor pleno, onde o riso, a alegria, os sonhos e a esperança permeavam cada palmo de nossa existência!

A gravura se foi, não sei para aonde, porém em minha alma está impregnado do bom saudosismo de um tempo, lindo tempo que se foi e não voltará jamais...

 

Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL