1932: LIBERDADE PARA AS AMAZONAS, do meu Confrade Luiz Eduardo Pesce de Arruda, - Cadeira 40 da Academia Cristã de Letras, cujo Patrono é Gibran Khalil Gibran.
Uma verdadeira aula! Aliás, eu diria, tese de doutorado sobre a peregrinação das Mulheres em busca de seu lugar ao sol, desde o descobrimento do Brasil!
Nesse seu artigo, - assim nominado por ele – observa-se que os passos da metodologia de pesquisa bibliográfica foram seguidos, como bem se vê ao final, com as citações de suas respectivas fontes.
Chamou-me a atenção, sobremaneira, ele ter se valido, além dos dados contidos em livros e sites, também da coleta direta de pessoas que vivenciaram ou ouviram de outras próximas, os fatos históricos. É o caso de sua genitora (Maria Rosina Pesce de Arruda), que lhe narrou o que tinha ouvido da própria mãe!
Inicia pelo RESUMO. Também em inglês (ABSTRACT).
Depois: PALAVRAS-CHAVE: Mulheres, Revolução Constitucionalista de 1932, voto feminino.
Prosseguindo, temos:
DOIS TEXTOS, A TÍTULO DE PRÓLOGO: O Homem e a Mulher. Victor Hugo (1802-1885).
Nestes, a poesia comove e, ao final, grita:
Enfim...
O homem está colocado onde termina a terra;
A mulher onde começa o céu...
Assim, vai discorrendo sobre a árdua trajetória das mulheres na historia da humanidade onde, desde o “critério geográfico, ainda continua sendo alvo preferencial de feminicídio, violência física e simbólica em todos os continentes,...” até alcançar a mulher brasileira:
AS MULHERES EM SÃO PAULO NO ALVORECER DO SÉCULO XX
Nesta parte, vai desde os primórdios do descobrimento do Brasil, mais exatamente “desde a fundação da capela no pátio do Colégio pelos padres jesuítas em 1554, fortemente influenciados pela presença da Igreja, fixando normas de natureza moral e religiosa para nortearem a conduta dos habitantes locais”.
Por certo que, não se olvida da rígida influência dos cânones da Igreja para as mulheres mamelucas, negras e mulatas.
Avança até o período de 1880 a 1930, onde “As mulheres imigrantes... eram, em sua maioria, igualmente partícipes de uma estrutura social e religiosa de inspiração judaico-cristã, contribuindo assim para reproduzir em São Paulo um modelo tradicional de família e sociedade, onde se observava uma rígida divisão de trabalho, com papéis sociais, direitos e deveres culturalmente cristalizados”.
Faz menção ao Código Civil de 1916, que “refletia essa preponderância dos homens nos espaços públicos e no mundo de poder.”.
“A mulher devia ser submissa. Quando solteiras, deviam obediência ao pai e, após o casamento, deviam obediência ao marido.”
A incapacidade da mulher ditada pela lei. (capacidade civil diminuída), por certo, é ressaltada.
“Era seu dever, isso posto, velar pelo marido e filhos. Era uma “verdade cultural” inquestionável, transmitida de geração para geração, sendo a subordinação uma característica comum esperada do comportamento feminino”.
Tal panorama somente será modificado com:
Algumas mudanças, especialmente no cenário econômico, e a rápida expansão do capitalismo. A partir dos anos derradeiros do século XIX e inicio do século XX, contribuíram para a superação desse modelo cristalizado de ordenamento hierárquico familiar.
Cita o conceito de “modernidade liquida” desenvolvido pelo filósofo Zygmund Bauman (1925-2017) que tem suas origens remotas na I Guerra Mundial.
“A Guerra levou as pessoas a reverem conceitos arraigados, a fluidificar verdades tidas até então como cristalizadas e imutáveis.”
“... essa onda de choque, pela modernidade e intensa renovação de costumes, atingiu o Brasil logo após, tendo como frutos, além da moda, da música e da dança, o advento da Semana da Arte Moderna (11 a 18 de fevereiro de 1922), a fundação do Partido Comunista Brasileiro (25 de março de 1922) e o levante do “18 do Forte” de Copacabana (05 de julho de 1922).”
Elenca os nomes de Mulheres brasileiras que se destacaram no automobilismo, na aviação, no serviço público, na politica...
PRENÚNCIO DA GUERRA
A guerra aqui referenciada é a Revolução de 32.
“A manifesta conduta de Vargas, tergiversando em devolver o país à ordem constitucional (e, portanto, em realizar eleições livres), a falta de perspectiva de correção dos rumos da economia e da volta do emprego, devastados pela crise internacional decorrente do “crash” da Bolsa de Nova Iorque somavam-se à percepção da burguesia, da elite intelectual e econômica e da classe política paulista, que consideravam que São Paulo estava sendo tratado como terra conquistada, sentindo que a Revolução de 1930 fora feita contra São Paulo”.
“A temperatura política no Estado se elevou...”
“A partir de 25 de janeiro de 1932, quando da realização, debaixo de chuva, de um imenso comício na Praça da Sé, as manifestações começaram a visar o destino da própria ditadura de Vargas.”
“Representantes das elites paulistas, militando até então em campos partidários opostos, membros do Partido Republicano Paulista (derrubado por Vargas em 30) e do Partido Democrático (este último apoiador da revolução de 30), compuseram-se em uma Frente Única, a partir de fevereiro de 1932, Frente esta que adotou como lema o imediato retorno do Brasil ao regime legal, sob a égide de uma ideia-força: Constituição”.
Chega, então, ao fulcro da proposta desse seu Artigo:
AS AMAZONAS: AS MULHERES PAULISTAS VÃO À GUERRA
A alusão ao título As Amazonas, ele foi buscar na expedição de Francisco Orellana, em junho de 1541, que, na procura do lendário El Dorado, conforme narrado por Frei Gaspar de Carvajal, teria aquele se deparado com mulheres guerreiras.
“Em São Paulo, as mulheres foram à guerra...”. 72 mil!
Lutaram bravamente na retaguarda dando suporte aos Soldados Constitucionalistas, costurando, formando múltiplas associações. Como o Clube do Ovo, Clube do Cachecol, Clube das Formigas, Clube das Meias, Clube do Lanche Expresso, Clube do Cigarro. Participando de Campanhas: como a Campanha do Ouro, da ACSP, na qual, as mulheres doaram suas joias e alianças. A Campanha do Capacete de Aço que possibilitou a doação, pelas indústrias, de mais de cem mil capacetes de aço...
Muitas mulheres foram trabalhar nas indústrias de produção de armamento e munição, produzindo capacetes de aço, granadas...
APÓS O MOVIMENTO elas continuaram a cooperar voluntariamente como datilógrafas, taquígrafas, contadoras, correspondentes, estenógrafas, tradutoras, enfermeiras,...
Cita os nomes de várias mulheres da sociedade e do povo que se engajaram na luta em prol do retorno da democracia.
Aqui, menciono apenas uma: A Mulher Símbolo da Revolução: Maria José Barroso, que recebeu o epíteto de Maria Soldado! Mulher negra, nascida em 1895, em Limeira. Voluntária da Legião Negra (unidade inteiramente formada por afrodescendentes). Legião conhecida como: Pérolas Negras!
Conta-se que teria dito a Vargas, ao lhe ser apresentada: Não aperto a mão de ditador!
Vendia doces e salgados na porta do Hospital das Clínicas. Faleceu em fevereiro de 1958, sozinha, num quartinho da Rua da Consolação. Foi sepultada no Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera.
Quanto a mencionar que: Não se sabe ao certo o número de mulheres negras que participaram da Revolução de 32. Talvez quatro...
Na realidade, muitas foram as mulheres negras, pois eram imprescindíveis no contexto familiar (alimentando, dando carinho, apoio moral...). Alistaram-se para acompanhar seus maridos (companheiros) e filhos. Havia muitas enfermeiras negras, a despeito do Decreto 20.109/1931 proibir o ingresso de homens e mulheres negras no curso de enfermagem...
Conforme o historiador Petrônio Domingues: “A história da mulher negra no Brasil ainda não foi devidamente contada”.
A GUERRA ACABOU: A LUTA RECOMEÇA
Em 02 de Outubro de 1932, temos a Cessação das Hostilidades da Revolução Constitucionalista de 32. Posto não houvéssemos vencidos no campo de batalha, ganhamos na redemocratização de nosso país, pois a nova Carta foi outorgada em 34!
“Vargas, que começava a fazer-se reconhecer na esfera nacional por sua habilidade politica, evitou cerimônias de rendição, desfiles comemorativos ou quaisquer atitudes que pudessem ferir as suscetibilidades do inimigo de ontem.”
“A pena mais drástica que aplicou aos constitucionalistas foi o exílio a Portugal de 110 lideres paulistas do Movimento, indultados menos de dois anos depois.”
“Confirmava-se, na realidade local, que conflitos que levaram as mulheres a ocupar posições antes reservadas aos homens, dada a emergência e flexibilidade que guerra exige, via de regra resultam, quando vem a paz, na consolidação dos novos espaços conquistados.”
“a partir de então, leis passaram a ser implementadas para assegurar os direitos das mulheres”.
No ano seguinte, instala-se a Assembleia Nacional Constituinte. E, finalmente, em 1934, foi outorgada a nova Constituição, conferindo, às mulheres, vários direitos, principalmente o de distinção de sexo quanto à remuneração, entre outros direitos...
Assim, o Confrade Luiz Eduardo Pesce de Arruda chega à:
CONCLUSÃO
...a superação de barreiras centenárias em desfavor das mulheres não se fez da noite para o dia.
“ caminhada das mulheres rumo à igualdade, embora seja um ideal por se atingir plenamente, e a despeito da circularidade da história, com seus progressos e recuos, sobre o que este artigo já abordou brevemente, sem dúvida foi influenciada pela participação das mulheres no Movimento Constitucionalista de 1932”.
Mais que uma luta pela redemocratização do país, foi uma luta – bem sucedida –na busca da dignidade da condição feminina. (grifei).
E, obviamente, declina suas fontes de estudo:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...
Ficou curioso?!
Certamente que sim! Quem não ficaria, diante de tema tão apaixonante e ora estudado à exaustão, com critério e extrema dedicação, eh?!
Loa, pois, ao Coronel Luiz Eduardo Pesce de Arruda!