Hélio Begliomini homenageia Eurico Branco Ribeiro.
Eurico Branco Ribeiro foi o fundador da cadeira no 21 da Academia Cristã de Letras, tendo escolhido por patrono São Lucas.
Era natural de Guarapuava (PR) e desde o início de sua adolescência já colaborava nos jornais locais “A Nação” e “A Comarca de Guarapuava”. Mudando-se para São Paulo, aos 13 anos, tornou-se redator da edição vespertina de “O Estadinho”, do jornal “O Estado de S. Paulo”, tendo participado também do primeiro grupo de redatores da empresa “Folha da Noite”, como repórter policial, advindo talvez daí sua enorme facilidade em descrever situações as mais inusitadas.
Graduou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1927, com a tese As Águas Medicamentosas Naturais, e dedicou-se à cirurgia geral, sendo assistente do renomado professor Benedicto Montenegro, que foi considerado sempre como “seu mestre”.
Eurico Branco Ribeiro não se dedicou à carreira universitária, mas foi considerado um “catedrático sem cátedra”, tanto pelo seu inestimável conhecimento tanto pela sua grande habilidade cirúrgica. No Sanatório São Lucas, hospital onde foi fundador e diretor, estagiaram com ele muitos médicos do Brasil e de vários países do mundo, mormente sul-americanos. Ademais, estimulou nesse nosocômio a criação de um museu de anatomia patológica, que foi dirigido pelo professor Carmo Lordy, ex-catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e um Museu de São Lucas, inaugurado em 27 de fevereiro de 1962, contendo coleção de quadros, imagens e livros sobre o patrono dos médicos.
Aliás, Eurico Branco Ribeiro era aficionado por São Lucas e um dos seus maiores estudiosos no mundo! Infelizmente, pouquíssimos médicos sabem que o dia 18 de outubro, dia de São Lucas, comemorado no Brasil como o “Dia do Médico”, foi uma árdua conquista graças ao seu impávido empenho, sua inflexível tenacidade e grande liderança.
Dentre outros cargos que exerceu salienta-se que presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, ocasião em que o nome foi mudado para Academia de Medicina de São Paulo; o Departamento de Cirurgia da Associação Paulista de Medicina; a Sociedade dos Médicos da Beneficência Portuguesa; e o capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Aliás, Eurico foi membro de várias entidades médicas do Brasil e do exterior: Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos da América e Uruguai. Recebeu diversas comendas e títulos honoríficos, destacando-se entre eles: a comenda da ordem do Mérito Médico do Governo Brasileiro; cidadão honorário de Curitiba; prefeito honorário de San Antonio, Texas (EUA); membro honorário da Umem – Union Mondiale des Écrivains Médicins e membro da associação dos Cavalheiros de São Paulo.
Eurico Branco Ribeiro era ambidestro e operava com uma muita destreza, precisão e rapidez, tendo sido considerado um dos maiores cirurgiões de gastrectomia do mundo! Realizou nada menos do que 31.500 cirurgias em sua vida profissional. Foi diretor e redator por 45 anos dos “Anais Paulistas de Medicina e Cirurgia”. Publicou mais de 200 trabalhos científicos coligidos quase todos eles em seis volumes de seus Estudos Cirúrgicos (1934-1952), além de A Cirurgia no Sanatório São Lucas, com colaboradores nos volumes, 1939 a 1954 e 1955 a 1967.
Eurico Branco Ribeiro foi também um exímio rotariano. Ingressou, em 1935, no Rotary Club de São Paulo, e assumiu inúmeros cargos, inclusive o de presidente (1945-1946), além de ter participado ativamente da criação da Fundação dos Rotarianos de São Paulo, época em que foi adquirido o Colégio Rio Branco e construído o Edifício Rotary. Aliás, sobre o Rotary publicou 11 livros: Rotary para Mim É... (1942); Um Lema para Rotary (1942); Rotary, o Legado de Paul Harris (1948); Assim é o Rotary (1952); A Evolução do Objetivo do Rotary (1952); O Rotary em Evolução (1954); O Rotary aos 50 Anos (1956); 25 Anos de Rotary (1960); Pelas Avenidas do Rotary (1961); O Rotary Sexagenário (1965); Atividades Internacionais do Rotary (1965), e outros estudos menores, além de inúmeros relatórios. Sob sua responsabilidade direta, vinha periodicamente a público a revista “Vida Rotária”, cujo no 278 – ano XXX – edição especial – foi dedicado post-mortem à sua memória, tendo colaborado também com a revista “Brasil Rotário” e com o boletim “Servir”. Para coroar sua vasta caminhada rotária, foi galardoado com a famosa medalha “Sócio Paul Harris”, em 1975, alta comenda do Rotary International.
Eurico Branco Ribeiro tinha espírito caritativo, o que fez com que exercesse a presidência da Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo por 27 anos consecutivos! Foi também o fundador, tesoureiro e secretário da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos (Sbem), atual Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames); presidiu o Clube dos 21 Irmãos Amigos e também pertenceu a Academia Paulista de Letras, União Cultural Brasil – Estados Unidos; Pen Club de São Paulo (secretário) e União Brasileira de Escritores.
Outras obras de sua lavra são: História de Guarapuava (1922); Esboço da História no Oeste Paranaense; A Sombra dos Pinheirais (1925); Higiene da Imprensa (1926); Gralha Azul (1927); O Coração do Paraná (1929); Viagem às Sete Quedas (1939); O Primeiro Bandeirante (1946); Breviário dos Vinte Anos (1952); O Casamento Ideal (1956); Museus Municipais (1957); O Primeiro Casamento (1969); A Água da Esperança (1969). Planejou, durante 30 anos, escrever a vida de São Lucas, que seria realizada em dez volumes, mas a morte o levou após o quarto volume. Essa obra imortal levou o título de Médico Pintor e Santo, e é subdividida em quatro volumes: I. Antes e Depois do Dia Fatal (1969); II. Argumentos para uma Tese (1970); III. De Autor a Personagem (1971) e IV. Simbologia e Evocação (1974), além de ser autor dos livros: O Livro que Lucas não Escreveu (1969); Lucas, o Médico Escravo (1974); e Fui um dos Setenta (1977).
Eurico Branco Ribeiro escolheu como lema de vida e ex-libris de seus livros a célebre frase de Hipócrates que, aliás, estava estampada no vitral de sua janela: “Conservarei puras a minha vida e a minha arte”. E ele dignamente assim o fez!
Seu nome é honrado post-mortem como patrono da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina; patrono da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores; e patrono da cadeira no 114 da insigne a Academia de Medicina de São Paulo.