Thais Fernanda Maul Bizarria homenageia Mário Hoeppner Dutra.
Congratulação “in memoriam” do excelentíssimo doutor desembargador Mário Hoeppner Dutra
Mário Hoeppner Dutra nasceu em 06 de maio de 1914, em São Paulo, no interior,
na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, e foi criado pelos pais com muito amor.
Era filho de José Benedicto Dutra, homem íntegro e de valor,
que atuava como professor de desenho e galgou o cargo de supervisor.
Supervisor de Ensino do governo do nosso Estado.
Era filho de dona Isabel Alice Hoeppner Dutra, que com os filhos tinha grande cuidado.
Dutra era o segundo filho de mais quatro: Licínio, Renato, Lourdes e Lahyr.
(pronúncia Lair – nome de homem)
Nasceu em linhagem cercada de ensinamentos cristãos, uma verdadeira fortaleza.
O patronímico Hoeppner é de ascendência alemã e Dutra de origem holandesa.
Ao ingressar nos bancos acadêmicos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco,
sua família já residia em São Paulo, no bairro da Consolação.
A tão sonhada classificação, turma de 1936, fora fruto de suor e dedicação.
Era o dia mais feliz da sua vida: o anúncio da almejada aprovação!
Como acadêmico, fundou uma revista na Faculdade de Direito:
intitulada “Ritmo”, para a comunidade acadêmica foi um grande feito.
Desde a Academia, sempre foi um aluno comprometido e estudioso.
Já plantava e semeava um trajeto esplendoroso e honroso.
Foi o primeiro da família a cursar Direito. Era um vocacionado.
Atuou com esmero como fiscal de rendas do Estado,
inspetor federal de ensino, assessor na 1ª Delegacia de Segurança Pública e advogado.
Ingressou na magistratura em 1940, sendo um insigne magistrado.
Galgou o cargo de Vice-Presidente do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo.
Depois tornou-se Desembargador e em maio de 1979 foi aposentado.
O coroamento e triunfo do excelso doutor Mário advieram da sua enorme dedicação,
do amor por Deus, pela família, estudos, Justiça e pela honrosa profissão.
O nosso admirado congratulado, antes de ser juiz de Direito na Capital,
Atuou como Magistrado em São Carlos, Queluz e Casa Branca.
Cada cidade era uma nova experiência, uma nova lembrança.
Repudiava a rinha de galos, comportamento inserido no rol de contravenções penais.
O nosso homenageado foi condecorado pela Sociedade Protetora do Animais.
Orador eloquente, insofismavelmente, discursava com sublimidade,
Tendo sido por Deus certamente abençoado. Entre discursos mil,
fê-lo no sesquicentenário da Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil.
Naquela festividade, saudou a sua amada Faculdade:
(ABRE ASPAS)
“Velha Faculdade que vive comigo numa grande saudade!
Saudade de um São Paulo antigo,
Quase aldeia (ainda menino), dos moços poetas e dos langorosos lampiões a gás.
Velha Faculdade dos tempos coloniais” (DUTRA, 1981, p. 16)
(FECHA ASPAS)
Estupenda a trajetória pessoal, jurídica e literária do nosso homenageado.
Membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Paulista de Magistrados,
Academia Paulista de Direito e da Academia Cristã de Letras, onde ocupou a cadeira n.º 4.
Talentosíssimo, apreciador da arte no geral. Simplesmente fabular.
Amava fotografar, pintar e inventos projetar.
Exímio escritor, pescador e poeta.
Doutor Mário foi um estudioso de diversos temas.
De obras literárias, como “Boemia do Silêncio” e “Perfie - Discursos Poemas”,
passando por livros técnicos, como “Personalidade Jurídica das Sociedades Irregulares”,
“Delito de Rixa” e “Direito de Preferência”,
Sua biografia conta com diversos artigos, ensaios, comentários e conferências.
Inolvidável a sua obra mais famosa: “Furto e Roubo”.
Admirado por estudantes e renomados juristas, tal como Damásio de Jesus,
que em seu Código Comentado de Direito Penal
fez menção ao nosso homenageado de forma sublime e especial,
destacando esse estudo como primeira referência de ambos os tipos penais.
Pode-se garantir tratar-se de uma das obras jurídicas mais tradicionais.
Doutor Mário fez história e ficou para história. Quanta glória!
Foi-lhe atribuído, sob a presidência do desembargador
José Renato Nallini, o seu nome ao Fórum de Itaquaquecetuba,
consagrando também “post mortem” uma carreira impoluta.
Dutra era um apaixonado pelo Direito, pela Arte e Literatura. Amigo do saudoso poeta Paulo Bomfim.
Ambos possuíam casas de veraneios vizinhas, no litoral sul paulista.
Certamente uma amizade preciosa no plano terrestre e celestial. Uma amizade sem fim.
Entre eles, são incontáveis os momentos de bate-papo e do compartilhamento de conquistas.
Com dom esplendoroso no campo jurídico, literário e artístico
apreciava diversos autores, fator do seu perfil característico.
Era habitual a leitura não só de livros na área jurídica, mas também de Literatura e poesia.
Apaixonou-se pelas obras de Paulo Bonavides, Pontes de Miranda, Nelson Hungria,
Paulo Bomfim, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Vinicius de Moraes
Goethe, Cecilia Meireles, Camões e Carlos Drummond de Andrade.
Vasta e riquíssima a sua lista de predileção em cada nova idade.
Na vida do doutor Mário, a leitura diária do jornal Estadão era trivial.
Revelarei agora uma curiosidade: embora atuasse na área penal,
a sua matéria predileta, desde os bancos acadêmicos, era Direito Comercial.
No campo pessoal, Mário teve matrimônios. O primeiro com Irene Muniz Dutra,
que frutificou com Ivan, Antônio Carlos, Maria de Fatima e Renata.
O segundo com Maria Cecilia Alckmin Dutra. Juntos conceberam Carlos, filho temporão,
que me atendeu com gentileza e muito educação,
o que propiciou a elaboração dessa singela congratulação.
Aproveito para registrar a minha eterna gratidão.
O nosso congratulado teve cinco filhos na totalidade.
Renata, infelizmente, falecera em tenra idade.
Dois enveredaram para o Direito: Ivan, promotor aposentado e Carlos, procurador.
Enquanto Antônio Carlos, Maria de Fátima optaram por outra área de concentração.
O sempiterno homenageado assistiu o jardim da sua família florescer.
Presenciou o nascimento de três dos netos: Renata, Flávio e Eduardo.
A neta Georgia não conseguiu ver nascer.
Contudo, lá do céu, certamente orgulhou-se desse alvorecer.
Doutor Mário, em âmbito pessoal e profissional,
galgou uma trajetória simplesmente gloriosa e sensacional.
Contudo, a vida não é feita só flores, há espinhos.
Algumas agruras fizeram parte do seu caminho.
Por mais de uma vez, enfrentou a viuvez.
Ainda, em trágico acidente na estrada, perdeu sua filha tão amada.
Com apenas seis anos de idade, a bela Renata virou uma estrela encantada.
Sobre o nosso homenageado, vale rememorar um momento bem feliz.
Em suas segundas núpcias, fez um “tour” com a esposa na Europa e encantou-se com Paris.
Ficou admirado com a cidade luz, com a dama de ferro e com castanhas de Portugal.
Costumava dizer, munido de um alto astral, um fato para si bastante especial:
que as castanhas quentes eram boas de saborear e para o bolso esquentar.
As férias costumavam ser em sua casa de veraneio no litoral.
Lá usufruía de instantes de alegrias e da pescaria.
Da esposa, dos filhos e da natureza gostava de estar rodeado.
O seu peixe predileto era o robalo.
Passava horas pescando no rio de Itanhaém.
A pescaria costumava ir muito além...
Outra curiosidade: Dutra sabia fazer pipas como ninguém!
Insofismável o seu talento com trabalhos manuais.
Incontáveis foram os dias em que pai e filho faziam e empinavam pipas no lazer.
Certamente, momentos e lembranças muito especiais.
Outra grande paixão do nosso congratulado é a fotografia.
Ele apreciava documentar paisagens, natureza morta e as viagens.
Seus pintores prediletos eram Durval Pereira e os seus tios pintores.
Cresceu em uma família de artistas consagrados e inspiradores,
Tanto é que na obra “Os artistas Dutra – oito gerações”,
de autoria de Augusto Carlos Ferreira Velloso,
os familiares são rememorados e cumprimentados.
Há registros de pinturas e do histórico familiar tão grandioso.
Dutra possui valor inestimável, foi um ser humano ético, admirável,
sempre autêntico e justo em seus propósitos de vida.
Incontáveis são as suas condecorações e títulos honoríficos.
Que caminhada terrena majestosa e bem vivida!
Contribuiu de forma inigualável à Justiça e às artes.
Embora de semblante sério, tinha um espírito elevado, é sempiterno, é baluarte.
A efemeridade da vida nos faz refletir: estamos na Terra e um dia iremos partir.
Aliás, a vida é como uma viagem de trem.
Há ensinamentos que vão de geração em geração, que vão além.
Tal como a música “Caramba... Galileu da Galileia”, de composição de Jorge Bem,
o estupendo Dutra aos filhos parafraseava o seguinte trecho como ninguém:
“Se um malandro soubesse o quanto vale a pena ser honesto. Seria honesto só por malandragem”.
Caminhando para o final,
o grande Mário Hoeppner Dutra, após cirurgia de tumor intestinal,
partiu em 15/06/1997, em razão de infecção adquirida em hospital.
Chegou o fatídico dia da partida, daquele que fora uma fortaleza cultural.
Ele certamente passou a brilhar no plano celestial.
Neste mundo, o nosso congratulado continua sendo muito amado.
Resta a lembrança desse paradigma de integridade, de generosidade,
da sua estupenda figura paterna,
bem como a esperança de que um dia todos nós caminharemos lado a lado na vida eterna!
Um abraço poético e repleto de poesia: Thais Fernanda Maul Bizarria, acadêmica titular na Academia Cristã de Letras, cadeira n.º 35