Palestra apresentada na Academia Cristã de Letras no dia 19 de outubro de 2021.
Dom Antônio Maria Mucciolo.
(Castel San Lorenzo, Itália, 1823- São Paulo, 2012)
Cad. N°28, Academia Cristã de Letras.
Por Maria Cecília Naclério Homem, Cad. 25 da Academia Cristã de Letras.
Nasceu no dia 1º de maio de 1923, em Castel San Lorenzo, pequena cidade de Campania, Sul da Itália, Província de Nápoles. Faleceu em São Paulo, em 2012, aos 89 anos de idade, com falência múltipla dos órgãos. Aos 14 anos, demostrou sua vocação sacerdotal, tendo estudado no seminário de Botucatu durante 12 anos. Ordenou-se sacerdote no dia 4 de novembro de 1949, com 26 anos, por Dom José Carlos Aguirre, Bispo Diocesano de Sorocaba, que o designou professor e diretor espiritual do Seminário, com 160 seminaristas. Depois de três anos, foi nomeado Reitor (p. 51) do Seminário denominado S. Carlos Borromeo..
Seu lema: “Sentire cum Ecclesia” – Sentir com a Igreja. Seu modelo: a Sagrada Família.
Foi sacerdote por 27 anos e, durante 12 anos, Bispo da Diocese de Barretos, que assumiu no dia 3 de setembro de 1977. Por 11 anos (1978-1989), exerceu o arcebispado de Botucatu. Com João Monteiro de Barros Filho, empresário de Barretos, com o jornalista Augusto Marzagão, também barretense, e o Dr. Marcelo Aparecido Coutinho, advogado, natural da cidade de Areias, fundou a Rede Vida de Televisão, de abrangência nacional, em 1º de maio de 1995, data de sua primeira transmissão. Trata-se de uma TV católica, de abrangência nacional, consagrada a Maria Santíssima, sob a proteção de São José, com sede em São José do Rio Preto, SP. Seu símbolo: a estrela-guia de Belém, que conduziu os Reis Magos até a manjedoura onde nascera o Menino Deus.
Nessa TV, manteve o cargo de Presidente e, entre outros, um programa de entrevista denominado “Frente a Frente com Dom Antônio”. Seria uma TV voltada para os interesses da “Família Brasileira, de acordo com a Constituição Federal”.
Diariamente, a Rede Vida apresentava e segue apresentando o Santo Terço e, em sua Capela, a Santa Missa. Mas, procura ser uma televisão eclética, ao propiciar a participação até mesmo de líderes de outras religiões, embora sempre de inspiração cristã.
Apesar de se tratar se uma empresa independente, a Rede Vida contou com o apoio de Dom Luciano Mendes de Almeida, que presidia a Conferência Nacional dos Bispos – CNBB, tendo sido instituído o INBRAC – Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, com o objetivo de colaborar com o empreendimento. Para tanto, formou-se um Conselho Superior, presidido por Dom Antonio Maria Mucciolo, composto por 11 integrantes, cinco dos quais seriam bispos, religiosas, padres e leigos, salientando-se Dom Fernando Antonio Figueiredo, Bispo Emérito de Santo Amaro, e Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro.
Da aproximação com João Monteiro de Barros Filho “íntegro e solícito”, Dom Mucciolo escreveu em suas Memórias, que recebeu continuamente desse Senhor um grande apoio em suas atividades pastorais, contando, para isso, com o jornal Diário de Barretos, propriedade do empresário, bem como com as demais rádios dessa cidade, as quais sempre foram colocadas gratuitamente à sua disposição.
Ao chegar a Barretos, em 1977, pensou Dom Mucciolo, em comum acordo com o clero, em dois pontos principais: a construção de um seminário para a formação de novos sacerdotes, e de uma casa de encontros, centro de espiritualidade. No ano seguinte, iniciou a construção da Casa de Encontros com 2.500 m2 de área construída (P.58 e s.)
- a qual a própria comunidade barretense pediu que se chamasse “Cidade de Maria” – em terreno doado pelo engenheiro Dr. Guilherme Seráfico. O empreendimento foi tão bem sucedido que, em 1980, três congregações já estavam nele instaladas. Doravante, receberia não só o apoio das autoridades federais, estaduais e municipais, como também de organizações cristãs europeias. Em 2011, ano em que foram editadas as Memórias de Dom Mucciolo, a Cidade de Maria estaria abrigando um total de 8 congregações religiosas, tanto femininas quanto masculinas, nacionais e estrangeiras (Mucciolo, op.cit. p. 59-65, 66-86).
A 3 de novembro de 1989, Dom Antonio Maria Mucciolo tomou posse na Arquidiocese de Botucatu, composta de 52 paróquias (op.cit.,p.89). Foi o terceiro Arcebispo dessa importante cidade do Estado de São Paulo, tendo sua posse ocorrido na presença de cardeais, bispos, sacerdotes e paroquianos.
Como Arcebispo, promoveu vários cursos: de Bíblia, de Comunidades Eclesiais de Base - CEBS, Concílio Vaticano II, Catequese, Teologia, etc. Construiu uma casa para sacerdotes idosos, denominada “Casa Cura D’Ars, que é o padroeiro do Clero Diocesano, asilo que teria funcionado por cinco anos.
Dom Antônio Maria Mucciolo aposentou-se a 20 de agosto de 2000, tornando-se Bispo Emérito. Foi ainda admitido como integrante da Academia Cristã de Letras de São Paulo, a 9 de junho de 2008, como segundo ocupante da Cadeira nº 28, cujo patrono é Frei Antônio Manoel de Vilhena, fundada por Frederico Perry Vidal e cujo ocupante atual é o professor Domingos Zamagna.
Pertenceu também à Academia Botucatuense de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e ao Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, locais em que conviveu com artistas, cientistas e intelectuais. É autor da obra: Lembranças de Minha Vida, São Paulo, Edições Loyola, 2011.
Faleceu no dia 29 de setembro de 2012, aos 89 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, após ter sido internado por problemas cardíacos e renais no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.1
Incansável, sua vida foi sempre dedicada à sua vocação sacerdotal, assumindo continuamente, uma série de iniciativas que enriqueceram sua Missão, sempre em conformidade com a doutrina Cristã, ou com os fatos e atos propostos pelo Evangelho de Cristo.
Em entrevista com Dom Fernando Antonio Figueiredo,
Bispo Emérito de Santo Amaro, São Paulo, sobre Dom Antonio Maria Mucciolo, no dia 28 de junho de 2021, foram destacadas, como obras principais de Dom Mucciolo, a Rede Vida de Televisão, a Cidade de Maria que incluía o Seminário Paulo VI, situadas a cerca de 20 km de Barretos. No centro de uma pequena gleba, há casa de encontro, uma congregação religiosa, cada uma com terreno e casa próprios.
Dom Fernando, hoje Presidente do INBRAC e membro do Conselho da Rede Vida, salientou a existência de diversas congregações, em cuja diversidade, havia UNIDADE, isto é, comunhão entre uns e outros, função essa a ser exercida pelo bispo, através do DIÁLOGO. É preciso ser artífice nas diferenças existentes nas Dioceses, isto é, congregar as diversidades. A propósito, as CEBS eram inúmeras, havia na Igreja de 300 a 400 Comunidades.
A Rede Vida encontra-se no Brasil todo, ela é ecumênica, no sentido de dialogar com os cristãos, e ainda, com os não cristãos. Dom Fernando Figueiredo observou também, que o coração de Dom Mucciolo foi sempre aberto ao diálogo, com quem quer que fosse.
Pessoalmente, guardo a melhor lembrança dele como meu confrade que foi na ACL: entrevistou-me pela Rede Vida, no dia em que tomei posse na cadeira nº25, cujo patrono é Ruy Barbosa.
1 BIBLIOGRAFIA: MUCCIOLO, Dom Antonio Maria, Lembranças de Minha Vida, São Paulo, Edições Loyola, 2011. Além da Entrevista que tive com Dom Fernando Antonio figueiredo, Bispo Emérito de Santo Amaro, foi consultada também a Biografia escrita por Helio Begliomini, atual Presidente da Academia Cristã de Letras, constante no verso da biografia do acadêmico Domingos Zamagna, 3º ocupante da cadeira Nº 28, da Academia Cristã de Letras.