Domingos Zamagna (*)
O amor é o que há de mais importante na vida. Mas não pode haver amor sem liberdade e justiça. Uma sociedade livre e justa se abre para a prática do amor. E a culminância de tudo é a paz. A paz vai além de uma virtude, vai além de um mandamento. A paz é uma bem-aventurança. “Bem aventurados os que promovem a paz, serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).
Todos sabemos que a juventude é a etapa em que as pessoas começam a tomar suas primeiras grandes decisões. O que quase nunca é fácil, pois implica um maior grau de lucidez e responsabilidade. Daí a necessidade de os pais, educadores, religiosos e amigos darem uma orientação segura, mas sem que se imponham ou substituam o próprio jovem, pois ele é quem deve começar a assumir o seu destino. Educar com suavidade e testemunho, parece ser o caminho mais acertado e duradouro.
Um dos perigos que costumam aflorar nessa fase, podendo derivar em implicações prejudiciais na vida dos jovens, é o descuido e até mesmo o pouco caso com a orientação religiosa. É comum verificarmos alguma distância de muitos jovens em relação à religião. Pode ser, e é bem comum, que as moças e os rapazes estejam refutando um determinado tipo de religião que lhes foi apresentado. Uma certa catequese malfeita, as atitudes medíocres de muitos adultos, inclusive de clérigos autoritários ou permissivos, apresentou-lhes mais uma caricatura do que a verdadeira religião cristã e católica. Sob este aspecto, os jovens, com seu comportamento, questionam a cada um de nós que lhes transmitimos o nosso universo de valores.
Mas exatamente porque a juventude é também uma idade de grande vulnerabilidade, é preciso que a ela seja oferecida a oportunidade de fortalecer seu caráter, sua generosidade, seu idealismo e criatividade. Só assim as suas opções fundamentais terão chances de sobrevivência, para que os futuros líderes de nossas comunidades não caiam no conformismo e no deboche, deixando de ser um fermento renovador.
É quando devemos lhes transmitir uma educação ou catequese que denuncie o egoísmo; apresente o sentido humano e cristão do trabalho; da dignidade, liberdade e solidariedade humanas; a busca da justiça, da tolerância e do perdão; o valor insubstituível de uma alegria que brota da convivência amorosa com Jesus Cristo e com aqueles que são o objeto da sua predileção: não a pobreza, mas os pobres; não a doença, mas os doentes; não o pecado, mas os pecadores.
Será que nosso mundo não precisa cada vez mais de jovens moldados pelo espírito das bem-aventuranças? Não seria essa a melhor forma de ultrapassar o limiar da violência e das polarizações, e nos reconduzir a um mundo de paz?
(*) Professor de Filosofia e jornalista¸ membro do Instituto Jacques Maritain e da da ACL.