Frances de Azevedo
Escrever sobre o quê? É a pergunta que surge logo após terminar uma crônica ou artigo. O que me move no dia a dia, principalmente nesses negros tempos de pandemia, de isolamento social, é escrever e escrever...
De repente, bateu esse título, ao pensar em meu sobrinho Valner. Ele é filho de minha irmã primogênita Flórence. Seus dois outros irmãos: Vandré, o caçula, e Wander, o mais velho. Por equivoco do tabelião, este último ficou grafado com W, ao invés de V.
Desde cedo, Valner já gostava do Batman. Quando tinha uns três para quatro anos, costumava andar pela casa com uma capa à La Batman. Tinha o seu mundo de fantasia, onde dialogava com seu super-herói. Assim cresceu com seu ídolo no coração e fora deste, pois que possui uma vasta coleção de acessórios: desde quadros, tapetes, canecas, bonecos e, naturalmente, uma roupa e até revistas em quadrinhos!
Ah, sobre a roupa, num de seus aniversários – e, olha que já era bem grandinho, passava bem dos vinte anos -, eis que, bem lá no alto, sobre o muro da frente de sua casa, ele, o Batman-Valner ou Valner-Batman, surge glorioso! Foi um encantamento geral! Afinal é preciso colocar cor nesses nossos sentimentos, em nossas emoções tão contidas, não é mesmo?! Tiraram muitas fotos. Brincadeiras não faltaram...
Se não bastasse tudo isso, hoje em dia, em plena era digital, um dos seus sinais, para não dizer seu sinal (ou marca) característico pelo Whatsapp é a figura do Batman, ou melhor, várias figuras do seu ídolo; ora soprando morceguinhos, ora transmitindo o sinal de positivo “Batlike”.
Hoje, esse meu sobrinho já passou dos quarenta! Mas, o que isso importa, quando esse super-herói permeou sua vida desde tenra infância?! Esteve a seu lado em todos os momentos. Nunca o abandonou. Suportou seus ataques de mau humor. Suas fases inglórias. Foi seu companheiro de insônias. Quer nas alegrias ou tristezas, o acompanhou. Ah, sua esposa não se incomoda em tê-lo em sua casa, não sente ciúme algum! Há, até, uma Batgirl, pois ninguém pode viver só, não é mesmo?!
Na verdade, todos têm seu (Super) herói ou heróis. Quer na ficção, quer escolhido entre as pessoas que nos cercam. Ou, quem sabe, nos próprios sonhos...
Nos primórdios, eram os seres mitológicos a povoar o imaginário da humanidade. Seres mitológicos gregos, romanos, nórdicos, egípcios, aquáticos (sereias) e os do folclore brasileiro (Saci Pererê, Mula –sem- cabeça, caipora, Saci Pererê...).
A história da civilização está permeada desses seres. Ora para explicar a origem da humanidade, a razão da vida e da morte. Ora para explicar os fenômenos da natureza.
Ainda nos dias de hoje, ouvimos muitas estórias, lendas, como a do Monstro do Lago Ness, (Lenda escocesa). O ET de Varginha (Minas Gerais, Brasil). O Pé-Grande...
Verdade ou mentira, não importa. Desde os primórdios, a humanidade busca uma válvula de escape para fugir da rotina, modelos para protagonizar sua própria vida, um salvador para amenizar suas angústias. Múltiplas são as interpretações.
Um dado interessante são as inúmeras construções que nos foram legadas pelas civilizações antigas, como as pirâmides, os diversos monumentos de pedras gigantescas contendo gravações, desenhos, inscrições milenares, que sugerem terem sido erigidos por seres de outros planetas!
Daí, mais uma razão para a mitificação, a busca por um super-herói, um ser que pudesse e possa responder às essas indagações ainda sem respostas.
Tal nos leva, então, às teorias. Teoria disso. Teoria daquilo. Todavia, no campo das hipóteses, onde as interrogações também não são solucionadas, infelizmente!
Assim, Gotham City é uma cidade fictícia, criada para as histórias em quadrinhos da DC Comics, onde nela há altos indicies de criminalidade e corrupção. Para combater tais crimes, surge, em 1937, Batman, o Homem Morcego, que, quando pequeno, presenciou o assassinato dos seus pais. Estes eram da alta sociedade, bondosos e caridosos. Tal fato aconteceu em 1915. Batman jurou vingança contra todos os criminosos e passou a treinar sozinho. Mais tarde, nos seus filmes, surge outro super-herói: Robin (1940), que passa a ser seu parceiro.
E representando o mal, há o Coringa...
Os poetas também versejaram sobre heróis imaginários ou não...
O poeta Fernando Pessoa apreciava os ideais de Carlyle, tendo sido, em 2008, traduzido um texto denominado O Poeta como Herói: Pessoa e Carlyle, onde, num dos trechos consta:
A concepção do poeta como herói foi introduzida pelos românticos alemães, e levada para a Inglaterra por Thomas Carlyle. Em suas famosas conferências ”The Hero as Man of Letters” e “The Poet as Hero”, ambas de 1840.
Segundo consta: Carlyle observou que os heróis de tipo divino ou profético pertenciam a tempos remotos e já não eram cultuados no mundo moderno. E ele propunha que se considerassem os escritores como os heróis das novas eras.
Numa de suas colocações temos: A função do escritor é a mesma que as eras passadas atribuíam ao Profeta, ao Sacerdote e à Divindade.
A Literatura é uma forma de revelação.
(Tradução inédita da Comunicação apresentada no Colóquio: “Fernando Pessoa, Influences, Dialogues, Responses”, no King`s College de Londres, em Dez. 2008).
Outros poetas modernos também o fizeram. Lembro-me de ter escrito um poema sobre Dom Quixote e Sancho Panza...
Polêmicas à parte, necessário é sonhar, é escrever poesia ou prosa, é ter um (SUPER) HERÓI ou (SUPER) HEROÍNA, pois também temos a Mulher Maravilha, a Batgirl, Capitã Marvel, Supergirl, Ravena, entre outras.
A MINHA MÃE FOI SUPER-HEROÍNA!
É bom que se diga que: Herói é aquele que arrisca a própria vida ou morre por um ato nobre. E super-herói: Personagem de origem fictícia, presente nas historias em quadrinhos, filmes, teledramaturgia, etc., geralmente com superpoderes ou poderes sobre-humanos cuja capacidade é combater o mal.
Frances de Azevedo
Cadeira 39 da ACL