Lázaro Piunti
Foi logo cedo. SURPRESA, meu cão de confiança, latiu próximo ao meu quarto e entendi o recado. Aliás, SURPRESA e eu nos entendemos até por sinais.
O fato é que estava havendo grave agitação no espaço da família galinácea. TUNÍSIO, o Galo, não cantou na madrugada e as suas doze amancebadas esposas abandonaram os ninhos.
Galinhas, Frangas e o Galo soberbo cacarejavam no quintal, e, para meu desencanto, THOR, o velho cão pai de Surpresa, também se juntara aos rebeldes. Não ousei pedir silêncio, pois a turma estava tiririca e eu deveria tratar o assunto com cuidado. E respeito! Convidei o chefão do galinheiro a apresentar a pauta de reclamações. E ele erguendo a crista altiva e insolente, foi taxativo.
A partir de agora as madames não aceitariam mais entregar os ovos botados sem régia compensação. Da produção ovípara, metade seria para quitar o milho santo de cada dia e a outra metade reservada para o aumento da família empenada. E, sem acordo, não haveria mais ovo posto. Tentei argumentar. Sem controle da natalidade haveria sobra de pintainhos e aumento natural dos gastos com a comida. Aí, a conta não fecharia.
E só me restaria desfazer do galinheiro e repassar seus moradores a algum sitiante abastado. Eles e eu seríamos vítimas do capitalismo selvagem! Meu minifúndio não aguentaria as despesas. Imaginei que minha explicação fez efeito e calou aparentemente a voz dos recalcitrantes. Puro engano! Uma semana depois ficou claro que a proposta não prosperou.
A produção de ovos foi reduzida pela metade. Porém, a comilança seguia a mesma. Eu não reduzi a alimentação dos agregados. Além de ato injusto, seria desumano. Mas, sem a contrapartida ao investimento, como sobreviver à difícil situação? Até hoje permanece o impasse. Consulto os adeptos da Direita Conservadora, à procura de uma luz. Faço a mesma solicitação aos camaradas da Esquerda, na esperança de uma sugestão prática e pragmática para equacionar o dilema. Até lá, exercerei o dom da paciência.
Lembro que há limites na espera. Quando eu não puder mais pagar as contas com a compra do milho, fornecer água limpa, gramado vistoso e restos do almoço oferecidos ao Coletivo do Galinheiro... Pedirei concordata. Na sequência irei à falência. Não venham os ideólogos de qualquer matiz ou viés, me responsabilizar pelo fracasso. Está provada a minha honesta vocação em preservar a Democracia. No entanto, ela não suportará a falta de bom senso dos radicais do galinheiro!
Lázaro Piunti - 04/03/2025.