Lázaro Piunti

O planeta antigo, de guerras e ódio, egoísmo e injustiça, acabara.
Em seu lugar surgira o Planeta Amor. Na terra nova, as crianças brincavam nas ruas, sem medo e sem pressa.
As férias escolares eram em Março e Setembro.
Em Março, as crianças se divertiam nos respingos de chuva molhando seus rostinhos lindos e faziam bolinhas de lama nas enxurradas límpidas que lavavam as ruas.
Em Setembro, festejavam a vinda da primavera ajudando no plantio do milho. Nos jardins as flores desabrochavam sorridentes.
Nos outros meses as crianças tinham aulas ao ar livre; no verão, debaixo das copas das árvores e, no inverno, as aulas eram ministradas no conforto acolhedor dos espaços aquecidos pelo fogo das lareiras, sob o cheiro agradável dos gravetos de pinho e cipreste.
Extintas as guerras, não se fabricavam mísseis. Sobrava dinheiro!
Hospitais modernos eram edificados longe dos centros urbanos e o tratamento médico gratuito.
Toda família tinha direito a uma porção generosa de pão e puro leite nas padarias. O lanche matinal era brinde estatal.
As sessões legislativas consumiam um dia inteiro, uma vez por mês. Na praça principal. Os projetos discutidos à vista do povo. Senadores e deputados se reuniam uma vez por ano, durante uma semana, nas capitais. Ideias e projetos eram debatidos via internet. E na reunião anual se discutia e se aprovava mediante consenso. O governo central era mínimo.
A unidade do País se mantinha forte, pelo bom senso dos governantes honestos. A Polícia, ante a ausência de criminalidade, utilizava as esvaziadas cadeias para cursos de artesanato e nos presídios se ensinavam profissões técnicas e pedagógicas. Os quartéis se transformaram em universidades do saber.
Cada pessoa adulta obrigava-se a plantar pelo menos uma dúzia de árvores por ano.
A jornada de trabalho se cumpria em quatro dias: terça, quarta, quinta e sexta.
Os adultos saudáveis executavam jornada laboral de seis horas diárias. Proibida hora extra! Pois era desnecessário o desgaste físico e facilidades havia com a elevada tecnologia!
Os de idade acima dos setenta exerciam a nobre função de julgar, com a serenidade dos sábios. “Afinal, a velhice tudo sabe e pouco pode, enquanto a juventude tudo pode e pouco sabe”. Sábados e domingos destinavam-se ao livre culto de cada um.
Na segunda ocorriam jogos esportivos, passeios, teatro e recreação. Cânticos variados e muita música, com danças típicas e saraus. Ninguém ousava agredir, mesmo levemente, o semelhante. A punição era pedagógica! O eventual infrator se obrigava ao labor de regar as flores do jardim do bairro oito semanas completas. E extirpar erva nociva.
A TV enfatizava a difusão cultural e artística de refinado gosto. As novelas eram alegres e divertidas e filmes de curiosidade envolviam temas criativos, além da elegia à mãe natureza. Estimulava-se a elaboração de chás de plantas, em sabores e paladares distintos. Aulas de natação e primeiros socorros eram ministrados ao raiar do sol.
No falecimento de uma pessoa, a solidariedade era total e pelo menos um membro de cada família da cidade comparecia ao velório. O caixão era transportado de mão em mão, até o jardim do descanso perene! O cortejo seguia e as casas comerciais cerravam portas, em respeitosa homenagem. Produziam-se belezas, cada qual vivenciando o dom do amor, a cantar o hino universal da paz! E o lema “Quem não vive para servir, não serve para viver”, era parte da aula inaugural nas escolas, finalizada com a frase: “Não sabe o bem que faz aquele que faz o bem”.
