por Di Bonetti
A amizade é um laço invisível que transcende dados e formalidades. Ela não precisa de lembranças pontuais, mas sim de sentimentos genuínos que se manifestam em pequenos gestos. Ontem foi aniversário de Gilson Alcantara, um artista plástico de 71 anos cuja alma carrega os núcleos do tempo e as histórias que só um pincel pode traduzir. Não cumprimentei no dia exato, mas hoje as palavras vieram com a sinceridade de quem confirmou o valor de um amigo.
Na idade madura, a amizade ganha um significado ainda mais profundo. Ela não exige presença constante, mas sim a certeza de que, mesmo com o tempo moldando nossas vidas, o afeto é sempre o mesmo. Amizades assim são como obras de arte: envelhecem com graça, ganhando novas camadas de significado. Cada encontro é um reencontro com o que há de essencial, um exercício de diário na busca pela continuidade de sentimentos verdadeiros, que resistem ao tempo e se fortalecem na memória.
Gilson é daqueles que transformam telas em janelas para o mundo interior, revelando nuances da vida que muitos não enxergam. Aos 71 anos, ele continua a pintar sonhos e a desenhar lembranças, como quem molda o tempo com as próprias mãos. Sua arte é reflexo de sua essência, de um espírito que já viveu e sentiu o suficiente para transbordar em criatividade.
Hoje, o cumprimento atrasado não diminuiu o afeto, pelo contrário, fortaleceu a percepção de que amizades verdadeiras resistem ao calendário.
Um laço que o tempo não desfez, mas solidificou. Dois caminhos que se cruzaram e decidiram caminhar lado a lado, principalmente na arte. Mais que um artista plástico, Gilson foi o museógrafo responsável por todas as curadoras que realizei sobre a “Mãe do Modernismo Brasileiro” - Anita Malfatti. A cada exposição, esse elo de confiança e parceria consolidou nossa amizade de 22 anos, transformando cada projeto em uma jornada compartilhada e cada desafio em uma jornada de conquistas mútuas. Foram capítulos de uma história de cumplicidade.
Na tela de nossas vidas, Gilson continua a ocupar um lugar especial, pintado com as tintas da amizade que não envelhece e se torna ainda mais bela com o passar do tempo. E enquanto ele segue pintando sonhos e eu escrevendo histórias, nossos caminhos seguem entrelaçados, como pinceladas de uma obra que nunca deixa de se renovar.