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Frances de Azevedo - Junho/2020

Ainda na esteira de me manter sã intelectualmente, neste período de quarentena ou de isolamento social, ousei também enveredar pelo caminho das pedras. Não das pedras no sentido literal. Não! Refiro-me aos das pedras que têm voz. Aquelas que falam bem alto. Aquelas que contam histórias de nossa história.

Interessante, pois, há algum tempo, aliás, muito tempo, eu colecionava pedras. Sempre fui atraída por elas. Tinha uma caixa de papelão onde as guardava. Gostava, principalmente, dos seixos rolados, talvez por serem bem lisinhas e redondinhas. Aonde quer que fosse, normalmente nas minhas viagens, eu procurava trazê-las, De certa feita, até encontrei uma que estava partida ao meio. As duas partes se encaixavam perfeitamente! Elas me contavam historias dos lugares pelos quais passei e, obviamente, suas próprias histórias! Posto pedras, duras, frias, conseguem carregar em seu bojo múltiplos sentimentos, informações seculares, milenares!

Mas não são dessas pedras que quero contar aqui. Não!

Quero contar, ou melhor, as pedras que a seguir mencionarei têm o condão de nos transportar há centenas, milênios, de anos atrás. Desvendarão seus segredos, abrirão seus corações prenhes de histórias da antiguidade. São historias intrigantes, incríveis, misteriosas, que falam de nosso planeta e, quem sabe, de outros, através de seus representantes que passaram por aqui.

Duvida?! Frances de Azevedo 1 25820

Eu não!

Múltiplos são os sítios arqueológicos encontrados em nosso mundo. Percorrê-los todos?!

Essa não é a intenção aqui, senão tentar extrair leite dessas pedras...

São relatos instigantes, fantásticos, bombásticos. Não sou eu quem os descreverá, mas as próprias estátuas, os muros, as construções, os palácios, os monumentos, os afrescos, as inscrições, as figuras incrustadas, e outros tantos sinais, desenhos e demais cravados/gravados nessas monumentais estruturas de PEDRAS do passado!

Nossa imaginação alça voo, vai além, muito além do que possamos pensar...

Lá na Inglaterra, cerca de 130 km de Londres, há um monumento arqueológico formado por estruturas de pedras de grande porte, dispostas num círculo que, ao que se sabe, fazia parte de um maior. Alguns blocos chegam a pesar cinquenta toneladas! Num determinado ponto, reflete o sol no solstício de verão. É considerado um local místico e religioso. Data de, mais ou menos, quatro mil anos, A. C. É conhecido por Stonehenge.

Estruturas semelhantes e com a mesma finalidade foram descobertas em outros países, como as Pedras de Sternnes, na Escócia. E o que chama a atenção é o fato de como foram construídas, pois nas regiões em que estão localizadas não há existência alguma de pedreiras! De onde foram retirados aqueles blocos imensos, pesando toneladas? Como foram transportadas? E a habilidade na sua construção, onde uma lâmina não consegue passar entre um bloco e outro?!

As Pirâmides do Egito foram construídas pelos faraós para abrigar seus corpos. Datam de, mais ou menos, 2.600 anos A.C. Foram descobertas mais de uma centena, na península de Gizé. As mais conhecidas, que aprendemos nos bancos escolares, são: Quéops, Quéfren e Miquerinos: Nomes dos faraós que as erigiram. Estas são guardadas pela Esfinge de Pedra, um ser mitológico, com corpo de leão e a cabeça de um faraó. O Sudão é o país com o maior número de pirâmides. Mais de duzentas!

A pergunta formulada acima, aqui se repete: Como foram transportados blocos únicos de pedras pesando, alguns, dezenas de toneladas?!

Muitas outras pirâmides foram construídas em outros países, como o México, Peru, Grécia, Camboja...

Também inúmeras muralhas de pedras estão espalhadas em diferentes países, como a Muralha de Antonino, na Escócia. Muralha de Adriano, ao norte da Inglaterra. Muralhas da China. Muralhas que cercam castelos, fortificações...

Estátuas e mais estátuas a olharem o céu, a procura, talvez, de seus senhores, de seus criadores. Quem sabe?!

Monumentos erigidos em pedras, homenageando vultos históricos, mitológicos!

O que dizer dos Obeliscos, talhados num bloco só, com inscrições, figuras, apontando também para o céu, como se buscassem conversar com seus criadores!

E quanto às obras majestosas de escultores e artistas, como Leonardo da Vinci, em seu quadro A Virgem das Rochas, onde retratadas figuras em uma gruta, tendo ao fundo pedras esculpidas pelo pincel do artista?!

A Pietá de Michelangelo: escultura de Jesus nos braços de sua mãe. Posto lavrada em pedra, é de uma leveza impar, que transcende o humano. Fico a imaginar, ele, o escultor, iniciando essa obra, num enorme bloco de pedra disforme, fria, dura, buscando, bem lá no fundo, trazer a lume, tão bela obra! Por igual a escultura de David, sua obra mais conhecida e a mais importante do Renascimento, que retrata esse herói bíblico, com detalhes anatômicos incríveis! Tive a oportunidade de conhecer referidas obras, admirá-las por um longo tempo, sentir a força e a beleza que delas emanam! Pedras que falam, que conclamam a beleza!

O assunto é extremamente envolvente, extenso e complexo, assim, só me resta suavizar, citando alguns dentre os muitos poetas que poetaram sobre as pedras. Por que não?!

Fernando Pessoa escreveu: Pedras no Caminho?

Cujo final, assim reza:      

Pedras no Caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo.

O poeta Carlos Drummond de Andrade poetou sobre uma pedra: No Meio do Caminho:

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Outros, como Manoel de Barros: A PEDRA.

Pedra sendo

Eu tenho gosto de jazer no chão.

Só privo com lagartos e borboletas.

Certas conchas se abrigam em mim.

De meus interstícios crescem musgos.

Passarinhos me usam para afiar seus bicos.

Às vezes uma garça me ocupa um dia.

Ficou louvoso.

  • Eu irrito o silêncio dos insetos.
  • Sou batido de luar nas solitudes.
  • Tomo banho de orvalho de manhã.
  • E o sol me cumprimenta por primeiro.

E escrevendo agora sobre pedras, me dou conta, como poeta, que nunca escrevi um poema sobre elas. Será que este é o momento. Vamos lá.

PEDRA ANGULAR

A pedra de Drummond

Deu-me forças para seguir adiante.

Aquela pedra no caminho,

Que denomino pedra angular,

Justamente aquela pedra,

Foi bálsamo, o corolário,

Guardada num relicário,

A me impulsionar,

A me fazer ir adiante.

Louvo, pois, aquele dia,

Aquela pedra,

No meio do meu caminho!

 

Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL