- by Di Bonetti -
Um ano sem Paulo Bomfim. Um ano de saudades.
Essa semana publiquei no site da Academia Cristã de Letras uma crônica da Acadêmica Frances de Azevedo sobre “Pontes”. Lindo texto que me fez pensar na quantidade de Pontes que o poeta Paulo Bomfim construiu ao longo da vida.
Paulo foi um príncipe em todos os aspectos. Fisicamente foi um homem bonito, elegante e charmoso. Conquistava todos os corações que dele se aproximavam, além das mulheres... Seduzia pela simpatia, pelo brilho no olhar e pela generosidade. Sua humanidade não tinha tamanho.
Mestre na arte de viver, Paulo contagiava por sua tolerância com o próximo. Foi um homem bom. Um dos melhores que conheci em minha vida. Lembro-me quando dizia: “Sou bom, mas não sou tolo”. Podia não esquecer algum mal que tivessem lhe impingido, mas perdoava sempre. Foi íntegro de alma.
A sala de almoço na Rua Peixoto Gomide, 1653, era távola oval, onde o número ideal de cadeiras era 6, para conforto de todos, mas na maioria dos almoços a mesa era composta por 8. Nesse reduto, Paulo Bomfim escolhia seus convidados já pensando na construção de pontes amigas. Quando convidava alguém que não fazia parte dos encontros rotineiros, analisava as afinidades. Fui testemunha ocular de tantas pontes que o poeta construiu. E fotografei todos os encontros que pude. Fotografias que contam histórias.
O poeta apreciava os contadores de histórias, e para ilustrar, me lembro uma ocasião em setembro de 2013, Paulo convidou para almoçar num sábado, o advogado Luiz Perisse Duarte Junior, que havia sido responsável por organizar uma ópera nos jardins da casa de uma amiga em homenagem ao poeta.
Perisse, chegou acompanhado de seu filho Guilherme. Paulo me disse, você vai conhecer o Perisse, um excelente contador de histórias, dada sua vasta sapiência, além da memória invejável. O Poeta convidou para compor a mesa o historiador Jorge Caldeira, e Yedda Falzoni, amiga querida de vida toda, erudita, letrada e com uma fluência encantadora. Foram momentos que brindamos com bom vinho, ao sorvermos conhecimento.
Foram praticamente 13 anos documentando os almoços que alavancaram a existência do poeta.
Tantos almoços e inúmeros encontros.
Recordo-me a muitos anos o dia que Paulo Bomfim telefonou-me e disse: “Menina, venha almoçar no sábado, quero que conheça um casal ímpar, sensacional.” Foi o dia que conheci Dr. Raul Marino Junior, neurocientista, ao qual o poeta se referia como um gênio da medicina, tal a contribuição obtida para o Brasil e Drª. Maria Ângela Zaccarelli Marino, phd endócrina, cuidou por muitos anos da tireoide do Paulo Bomfim. Admirável pesquisadora sobre os malefícios causados na população do entorno das petroquímicas. Drª Angela é nossa Erin Brockovich brasileira. (Filme: Erin Brockovick – Uma mulher de talento – com Julia Roberts).
Nessa caminhada, Dr. Raul e Paulo, amigos de infância, se frequentavam. Paulo era um admirador inquestionável do casal.
A indicação do Dr. Raul Marino Junior para Academia Paulista de Letras foi feita por Paulo Bomfim.
Dr. Raul confessou que não existe um único dia em que não se lembre do amigo.
Durante anos Dr. Raul zelou pela saúde do poeta e por sua insônia crônica. Foi Dr. Raul Marino que internou o poeta quatro vezes na última década. Também indicou o seu amigo e cardiologista, Dr. José Marcos De Gois, que cuidou do poeta até o último suspiro.
Dr. José Marcos De Gois muitas vezes me emocionou, tal o carinho e admiração com que tratava seu ilustre paciente, Paulo Bomfim. Todas as vezes que Dr. Gois passava visita nas internações do poeta, se aproximava do leito e beijava-lhe a testa, as vezes com olhos marejados. Presenciei. Ninguém me contou. Admirável humanidade do Dr. Gois, que desfrutou de deliciosos almoços na casa do poeta.
Tornei-ma amiga do casal. Hoje chamo Dr. Raul de “Padrinho” e Drª Angela de “Madrinha”, pois foi Dr. Raul Marino quem me levou, como jornalista, para desenvolver os sites Academias: Cristã de Letras (ACL) e Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ), onde faço assessoria de comunicação. E por falar em sites, Paulo Bomfim construiu uma ponte comigo e com a Academia Paulista de Letras, em um almoço com o Presidente na época, Renato Nalini, na sua primeira presidência da Academia, que me contratou para desenvolver o site da APL, alimentando-o por 6 anos.
Foram tantos encontros que não cabe num livro. Estabeleceu-se algumas confrarias em torno da távola oval. Apreciávamos ouvir as gostosas histórias do querido sociólogo Jose de Souza Martins e sua esposa Heloisa, da antropóloga Fraya Frehse, que sempre nos presenteava com a deliciosa sobremesa, strudel de maça, pois sabia que o poeta adorava, a agradável conversa de Ana Luiza Martins comentando suas pesquisas históricas, a qual Paulo Bomfim tinha um carinho especial. O Poeta comentava que dois livros que mais apreciava entre as suas 36 publicações era o INSÓLITA METRÓPOLE, organizado por Ana Luiza, e sua FOTOBIOGRAFIA.
O tempo é responsável por amenizar as perdas e suavizar as saudades. Mas, Paulo Bomfim, confesso, deixou no mundo um vazio feito precipício.
Comentei semana passada com o amigo José Renato Nalini, que em razão dessa Pandemia, é melhor que o poeta tenha sido poupado e não esteja passando por isso. Estaria muito triste por não poder reunir-se com os amigos para os celebrados almoços.
Paulo Bomfim. Minhas saudades serão eternas.
“O céu é mais conservador do que a terra. Todas as tardes um acendedor de lampiões ilumina as estrelas” (Paulo Bomfim)