Toca o telefone. Ainda mantenho o fixo. Pulo da cama com a agilidade que julgara perdida. Quatro e pouco da manhã. Atendo, já preocupado com alguma notícia ruim. Do outro lado, uma voz supostamente feminina grita: “Pai, me acuda pai, eles me pegaram, me salve, pai, ai, ai, ai”.
Na minha idade a vivência proporciona algumas compensações. Por isso não me espanto. Entendi, num relance, tratar-se de comunicação falsa, certamente do interior de um presídio. Resolvo levar na brincadeira! Por que não? E dou corda.
- Filha, que aconteceu, minha filha?
- Pai, eles me pegaram pai, tô aqui, me salva, me salva pai, me escuta, escuta eles, pai. (E chora!).
- Falésia, tenha calma. O que aconteceu filha, diz para seu pai.
Aí entra o vozeirão na conversa:
- Mano, perdeu, mano. Tamo com sua fia aqui. Nóis devorve ela, mais tem que pagá resgate, viu? Fica na boa e nada acontece cum ela”.
Minha filha retoma:
- Pai, eles quer dinheiro, pai, escuta eles, pelo amor de deus, pai, sinão vão me matá, pai”.
- Falésia, me diz uma coisa. E sua irmã, Penedia? Você não estava com ela? Cadê a Penedia? E o namorado dela, o Rochedo? Não reagiu? (Sempre achei esse Rochedo um mole).
O cara volta ao telefone e ameaça:
- Parceiro, chega de papo, vô dá o número da conta e ocê deposita lá e nóis libera a mina, tá falado”?
Eu insisto:
- Cara, espera aí. Antes quero falar com a Penedia, minha outra filha e o namorado dela, o Rochedo. Chama os dois.
Falésia, chorosa, vem ao telefone e diz que ao ser sequestrada Penedia e o Rochedo se mandaram. Fugiram. A pé!
Aí já me cansei. E tiro “sarro” do sequestrador de araque. Imagine minhas filhas chamarem-se Falésia e Penedia. E um candidato a genro por nome Rochedo. Logo se vê não conhecerem bulhufas de Geografia.
E arremato: Perdeu bandidão. Fica com ela, otário.
“Não tenho filha”!
Lázaro Piunti -
(fato real – 24/06/19).