Deparei-me com artigo do meu confrade Domingos Zamagna, Cadeira 28, da Academia Cristã de Letras, cujo patrono é Frei Antonio Manoel de Vilhena, sob o título: O Que é Um Padre?
A partir daí, um calidoscópio de lembranças foi-se formando...
Pensei: Não poderia ser outro o Patrono da Cadeira de Zamagna, pois ele aprecia peregrinar pelo mundo canônico, onde costumeiramente nos brinda com seus preciosos artigos eclesiásticos prenhes de lições de vida!
Assim, esse não poderia ser diferente. O Confrade Zamagna, doutrinariamente, inicia indagando: És católico? Então tu me entendes. Mesmo se ainda não foras católico, mas simplesmente cristão ou religioso, tu me entenderias também.
Descreve o Padre como um ser diferenciado pela vestimenta, onde o colarinho e uma pequena cruz o diferenciam dos demais. Ele, o Padre, ali está próximo de quem dele necessite. Aquele tempo de vestes extravagantes e suntuosas não existe mais. Hoje podemos vê-lo no meio do povo, ajudando, conversando.
Cita São Vicente de Paulo (1581-1660) que nos transmitiu estes ensinamentos:
Tereis por mosteiros as casas dos pobres. Por cela, vosso quarto de aluguel; por capela, a igreja paroquial; por claustro, as ruas da cidade; por clausura a obediência; por véu a santa modéstia.
Também afirma que há que ser versado em línguas, porquanto ao falar para seu rebanho há que saber se expressar.
Ao final, diz que: das mãos do padre receberás o pão e o vinho que selam uma aliança verdadeiramente nova, tornados Corpo e Sangue de Cristo, pelos quais antegozas a alegria de uma união que jamais terá fim.
Lembrei-me, então, de minha mãe (Adalgisa), pois ela entrou para um convento, sobre o qual nos contava muitas histórias diferenciadas, a começar pelo seu novo nome: Irmã Leontina. Lá aprendeu francês: Rezava em francês. Trabalhava numa enfermaria, como ajudante. Ressaltava que todo cuidado é pouco na hora de medicar, pois uma gotinha a mais, poderia piorar o estado do paciente. Contava-nos particularidades, como a de certas noviças que costumavam entiotar os cabelos (termo utilizado em Minas Gerais que significa bem vestido, bem arrumado), o que, no convento, era proibido. Sua estadia nesse - infelizmente, nem eu ou meus irmãos sabem o nome – foi por um breve período, creio que, uns dois anos. Ela não chegou a vestir o hábito. Acabou saindo. Tempos depois, conheceu papai e se casou. Tiverem cinco filhos. (No site Geneaminas consta o histórico de sua família).
Talvez, por sua ligação com esse Convento, ela também nos contava histórias de santos, como Santa Tereza De Ávila, Santa Terezinha... Foram histórias importantes para nós, porquanto mamãe ressaltava o aspecto moral de cada uma delas...
Tive a oportunidade de visitar Ávila, na Espanha, e conhecer o túmulo de Santa Teresa. Foi deveras emocionante, pois a história narrada assomou à minha mente no instante em que vi aquele, provocando sensação agradável...
Também me matriculou no Colégio Margarida Maria (Rua Jaguari), próximo de onde morávamos, lá no Bosque da Saúde. É um colégio de freiras Francesas, fundado em 1954, onde cursei os dois primeiros anos do então colegial e estudei piano por um tempo. Deste, fiquei somente nas primeiras noções, e toquei algumas peças básicas, como Pour Elise, Maria Luisa a Quatro Mãos; esta com minha irmã Francinei. Meus passos na música foram breves, Infelizmente. Mamãe apreciava piano. Cheguei a comprar dois: cada qual ao seu tempo, porém quem realmente fez valer tal aquisição foi meu segundo sobrinho Wander, que toca de ouvido...
Prosseguindo no tema, ressalto que a patronesse da minha Cadeira (39), na Academia Cristã de Letras, também é uma freira: Madre Maria Teodora Voiron, nascida em 06 de Abril de 1835, em Chambéry, França, tendo recebido, na pia batismal, o nome de Luiza Josefina Voiron. Com 23 anos veio ao Brasil, sendo precursora do primeiro colégio para meninas e moças no Estado de São Paulo (Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu). Faleceu em 17 de Julho de 1925. Tramita em Roma seu processo de beatificação. Recebeu o título de venerável por ter a Igreja reconhecido o grau de suas virtudes.
Quando falamos em freira, não podemos nos olvidar de Irmã Dulce, cujo nome era Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nascida em 26/Maio/1914 (um ano antes de minha mãe) e falecida em 13/Março/1992, Salvador Bahia. Pertencia à Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, São Cristóvão, Sergipe. Conhecida por suas ações humanitárias de dedicação extrema aos pobres e enfermos de sua cidade, sendo conhecida como “O anjo bom da Bahia”. Foi canonizada pelo Papa Francisco, no ano passado (2019), em 13 de Outubro, como Santa Dulce dos Pobres. Nossa Primeira Santa brasileira!
Madre Tereza de Calcutá: Anjezé Gonxhe Bojaxhiu M. C., era de etnia albanesa, porém naturalizou-se indiana, tendo nascido em 26/08/1910 em Skopje, Macedônia do Norte e faleceu em 05/09/1997. Assim como a nossa Irmã Dulce, dedicou-se aos pobres e desvalidos. Foi fundadora da Congregação das Missionárias da Caridade, com mais de cinco mil membros espalhados por 139 países. Também foi canonizada pelo Papa Francisco, três anos antes de Irmã Dulce, em 4 de Setembro de 2016. Conhecida como Santa das Sarjetas.
Girando esse calidoscópio de coincidências, resido ao lado do Mosteiro Santa Tereza, das Carmelitas Descalças, com cerca de trinta freiras em completa clausura. Tive a oportunidade, depois de muitos anos, de conhecer esse oásis, cuja entrada é pela Av. Jabaquara, 244, formando um triângulo que abrange a Alameda das Boninas, a Avenida Senador Casimiro da Rocha e Avenida Jabaquara, aqui no bairro de Mirandópolis. Sua arquitetura em estilo neocolonial, azulejos pintados em azul narrando a via crucis de Santa Tereza, seus aprazíveis jardins, nos atraem sobremaneira. Abre à visitação e missas: estas às seis horas da manhã.
Bem haja, pois, o texto de meu Confrade Zamagna por me proporcionar este momento de entrelaçamento de lembranças pessoais e interpessoais...
Frances de Azevedo
Cadeira 39 da ACL