A você minha querida amiga e confreira, Mestre Raquel Naveira, tenho a dizer que é sempre um momento prazeroso e de lúdico embevecimento a leitura de seus poemas e crônicas. Assim, não foi diferente com o seu “Poemas Portugueses”. Dele, à medida que fui saboreando as paisagens, pelo tempo e momentos de sua colheita de lembranças de seu passado e de suas origens, fui, também, colhendo palavras que melhor explicassem este meu reconhecimento.
E nele (Poemas Portugueses) está claro que sua voz nasce no claustro do próprio silêncio – templo das melhores criações – para alcançar, no topo das torres, o badalar dos sinos e daí, retumbar nos montes e nos ouvidos das Parcas, de Diana e de Apolo e, principalmente, de Euterpe, a musa patrocinadora da música e da poesia. Isso, simplesmente, porque sua voz leva emoção à sensibilidade dos deuses. E, porque não, àquela sua casta e sublimada Margarida... fada ou anjo! Pois que, ainda quando, morrendo de amor e alavancando quimeras pela poesia de Florbela, sua própria poesia mostra-se espetáculo certeiro, carregado de notas sutis, plenas de eternidade à aguda sensibilidade do eterno Bocage. No trato da Língua Portuguesa, você, certamente, já se tornou águia, a revoar, soberana, os domínios de Camões que não mais lhe esconde os segredos das palavras. Palavras embevecidas pelo sabor dos seletos vinhos portugueses .
Com certeza, os deuses do Monte Olimpo, mesmo durante as brumas da sua existência, as tempestades e o mar revolto a soprar noites de agonias, invocarão as Parcas para tecerem com robustos fios de prata, de ouro e de eternidade, sua vida e sua poesia. Tudo porque, você traz na alma ingênita, a própria chama da beleza e do espírito do poeta. Porque, você, como poucos, nutre, com maestria, suas palavras, sua voz e seus versos, com o perfume do encantamento. E o faz, bem ao feitio dos grandes vates que nos precederam e inspiraram, legando-nos esta grata e saborosa arte do poetar... do lirismo!
Dentro deste contexto, você é sim uma Tágide... Ninfa do Tejo. Ninfa de lá e de cá. De Portugal e do Brasil. De Campo Grande e de São Paulo. Dos cerrados que alimentam sua alma que nos alimenta com seus versos.
Enfim, você é as asas daqueles pássaros gigantes que sobrevoavam e ainda sobrevoam as sagradas figueiras da Foz, os estuários do Cabo, da Boa Esperança, do Cabo Verde e do Cabo Não, sobre os quais você segue lançando, com sua verve poética apurada, o cheiro da murta e do eucalipto, assim como o fez, Camões.
Deixo aqui, com a suprema pompa do Mosteiro dos Jerônimos, um brinde ao seu talento, com o bom vinho português servido em douradas taças, ainda que, tontos fiquemos... de uva e de encantos.
Reinaldo Bressani - Cadeira nº 15 da ACL - Tel.: 011-99582-8307