Lázaro Piunti
Para combater a invasão de escorpiões em minha casa adotei sete galinhas. Soltas no quintal, sob a chefia do pomposo galo Carijó, elas se ocupam da eliminação dos aracnídeos e ainda me premiam
com ovos. Da melhor qualidade! Caipira!
Porém, a natureza e suas circunstâncias reservam surpresas. Eis que apareceu sem aviso um Lagarto. Diariamente ele abocanha um ovo, sob protesto da família galinácea e minha indignação.
uriosamente percebi que o safado surrupia apenas um ovo e se retira deixando intacta a ninhada. Contei inocentemente o fato às pessoas que convidara para almoço no último feriado. Antes não o tivesse mencionado!
Para minha infelicidade uma sobrinha que amo resolveu levar o tema para o campo ideológico. Defendeu o Lagarto em nome do Meio Ambiente justificando o seu sagrado direito famélico, garantia de sobrevivência. O namorado dela, alinhado às suas teses, sustentou ser o Lagarto seguramente socialista, pois, fosse conservador e capitalista, roubaria toda a ninhada.
Antes de minha resposta, um primo meu, de meia idade, contestou definindo o réptil um autêntico vilão sem escrúpulos. Travou-se acalorada discussão.
O filho progressista do meu primo conservador apoiou veementemente minha sobrinha e namorado. Outro sujeito, amigo do meu primo, tentou contemporizar sugerindo o reforço da cerca do quintal de modo a inibir a visita do intruso.
Nova enxurrada contestatória. Sobraram vozes defendendo o direito do Lagarto de ir e vir. A reunião tinha por escopo jogar conversa fora e depois do almoço seguiria com uma partida de escopa.
Infelizmente, o encontro perdeu a graça. Parte dos presentes formou um grupo radicalizado em defesa do Lagarto socialista. Outra turma agregou a frente de acusadores das ações corruptas do escamado.
Eu fiquei acuado, recolhido a um canto. Uma porção significativa perfilhou comigo e logo fomos tachados de “maioria silenciosa” enquadrados na faixa nebulosa dos analfabetos políticos!
O almoço caseiro foi servido em clima de paz armada e, após, cada qual tomou seu rumo. No quintal em alvoroço, as galinhas cacarejavam exigindo a merecida ração diária! Lembrei-me do preço do milho em alta. A produção advém do Agronegócio! Fiquei a cismar se o senhor Lagarto, de alguma forma, poderia ajudar com as despesas! Mas, já não tinha como perguntar às pessoas. O que pode ter sido útil à salvação de algumas amizades!