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Reinaldo Bressani

Meses de julho e agosto - auge do inverno na capital paulistana. Manhãs e tardes geladas. Frio que penetra fundo na derme daqueles que circulam pelas ruas da metrópole. Cerração, garoa e poluiçãoflores perfeitas cdef3 sobre a capital do trabalho, iniciam e encerram os dias, num ritual característico do seu cotidiano. Situação peculiaríssima imposta aos que correm para o mister do bandeirante – as labutas pela sobrevivência, na dignidade dos propósitos de cada um.

Mas, nesse cenário onde nem tudo é cinza, e onde, bem mais do que se possa imaginar, descortinam-se panoramas simplesmente magistrais e deslumbrantes que surpreendem pelas ricas nuances de seu colorido intenso.

Intercalando-se incisivo entre os dias sóbrios, ora em períodos breves, ora por tempo mais prolongado, o Sol, radiante e claro, fonte de vida perene, bem cedo, na aurora dos dias, salienta-se por sobre a linha do horizonte, fazendo, caprichosamente, reluzir o orvalho nas folhas dos jardins e das praças, em prenúncio de espetáculo desejado.

E, nesses momentos, ora em meio ao frio intenso, ora, sob sol aquecido, dou-me conta de que, tal clima, a princípio adverso, favorece certas plantas e, apesar de nos fazer tremer, dá-nos um céu expressivo, extremamente azul, de horizonte largo e generoso, afastando as trevas da escuridão e ampliando a sensação de liberdade.

Assim, nesta estação invernal, de alternâncias climáticas sensíveis e auroras tardias, porém de simbioses resplandecentes, brota vida e beleza nas cores fartas dos jardins.

Nem mesmo os mais desatentos, focados na obrigação de suas atividades e no agito atroz do trânsito quase sempre confuso, deixam de atinar maravilhados à magnitude do viço primaveril (que seria extemporâneo, não fosse ele decorrente de espécies típicas da estação fria) e do vernal arrebatamento que cativa, encanta e enleva a todos.

Assim é que, por todo lado, por todo canto, exposto aos olhos, o esplendor inebriante das formas, das cores e dos perfumes; dos ciprestes-dourados, das tuias-azuis, das palmeiras, das acalifas, das camélias, das dombéias, dos jasmins-amarelos, dos narcisos, ipês-roxos e ipês-amarelos, e manacás-de-jardim. Também, dos clerodendros, rododendros (azaléias), sapatinhos-de-venus, viuvinhas, bocas-de-leão, acácias-mimosas, íris, amarílis, caliandras, glicínias, bauínias e vincas.

Ainda, as peperômias, os plumbagos, os hibiscos, as orquídeas, as prímulas, e o delicado e belo amor-perfeito.

Manifesto poder etéreo que harmoniza a natureza para suavizar as tensões e conciliar as relações entre os homens através do equilíbrio das mutações, bem como, das nuances das cores, dos perfumes e da intensidade vibrante da luz solar.

Motivante de reflexão conscienciosa quanto à sabedoria inconteste com que a natureza nos brinda.

Evidência sutil e inteligível quanto à existência de um Deus zeloso com sua criação. 

Deus que nos dá, a todo instante, mostras de Sua presença generosa, e exemplos gritantes de que, o deleite, o belo e a paz, decorrem, de maneira vital, da harmonia da luz, das coisas, da fauna, da flora, das cores e, principalmente, das atitudes, dos gestos e das palavras dos homens. E, aos homens, a harmonia resulta essencialmente do diálogo, do bom senso e da boa vontade.

Consequentemente, a vida no ápice de seu ideal... no seu resplendor máximo da aspiração cristã.