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7 Raquel Naveira 81a2eNova praga anunciada: uma nuvem de gafanhotos gigantes e vorazes está se deslocando da Argentina em direção ao sul de nosso país para causar estrago às pastagens, plantações e flora nativa.

Trata-se de um exército sem rei, voando juntos em fileiras, carregados por ondas de temperatura elevada. Sua meta é buscar alimento e devorá-lo com fúria: trigo, milho, soja, folhas, não importa, a fome rói seus infatigáveis intestinos. Que desordem terá ocorrido no cosmos para essa invasão que impressiona?

O gafanhoto é a imagem da devastação, da calamidade. Oitava praga bíblica, espalhou-se por toda terra do Egito. Eram gravosos, cantavam esfregando a pata traseira na nervura dura das asas, num som metálico, exasperante. Cospiam líquido escuro, cor de tabaco. Mordiam todos os frutos e ervas. Retiravam o verdor dos campos e dos jardins.

Já os gafanhotos apocalípticos virão na fumaça, tormento físico e moral. Estarão aparelhados para a guerra, com coroas douradas e caudas de escorpiões.

Entre o começo e o fim da jornada, a caminho da Terra Prometida, fica o deserto. A solidão. A ausência completa. Há muito perambulo pelo deserto, com uma túnica de lã branca, que me protege do frio e do calor. Fugi para esse retiro. Ele estava perto de mim, debaixo de minha realidade. Errei longe da tropa e dos camelos, procurando minha essência. Vaguei pelas dunas. Alimentei-me de gafanhotos e mel silvestre como João Batista. Demônios foram meu castigo e suplício. Tentaram-me com miragens, bisões, o céu escurecido por insetos brutos. Isolada, afastada de todos, entreguei-me para morrer, secar e ser liberta. Borboleta rompendo o casulo. Que alta experiência foi peregrinar no deserto! Nômade, refleti, arrependi-me, transformei-me, clamei com minha alma de ninfa. Afinal, poetas e profetas bebem dos mesmos rios que brotam no ermo.

Sim, gafanhotos atravessaram minha trilha. Pulavam enormes distâncias como pensamentos avançados. Mas eram forças malignas, mesquinhas, dissolutas. Queriam me anular, sugar minha criatividade com toda sorte de problemas, falências e obstáculos. Entre dramas e viagens astrais, escolhi dar um salto de fé. Acreditei no impossível.

O vento ocidental mais uma vez soprará fortíssimo e levantará os gafanhotos gigantes. Eles não atingirão nosso país. Não suportaríamos mais esses inimigos. Serão lançados ao mar. O mar os engolirá, vermelho de sangue.

 

*Este texto será publicado exclusivamente pela revista “Conhece-te”, de Minas Gerais, editada por Marcelo Rodrigues Pereira.