Lázaro Piunti
Morreu um jornalista. Apresentou-se a São Pedro e foi encaminhado para cadastro e posterior destino à moradia eterna. Ao mencionar sua profissão, o alvoroço foi espantoso.
O santo Porteiro do Céu foi logo dizendo não querer jornalista no Reino divino. “Gente de sua espécie causa problema. Dê o fora”. – bradou o Porteiro do Paraíso, vozeirão de pescador aposentado.
O anjo da guarda que acompanhara o jornalista a vida inteira na Terra, disse lamentar muito, mas seu destino era o inferno. E indicou-lhe a estrada!
Chegando lá, ao bater na porta do gabinete do capeta, foi reconhecido como jornalista e a confusão foi maior. Espumando igual vaca-brava com bezerro novo, soltando chispas pelas narinas de cavalo xucro, o assessor do “Coisa Ruim”, com seu par de velhos chifres carunchados e fedendo a enxofre e pó de mico, reagiu com violência. Aos berros, despejou sua coleção de “Nome feio” contra o infeliz vomitando pragas e ameaças. E declarou que jornalista não era aceito no seu território fumacento. “Criatura do seu tipo só faz fofoca, arruma encrenca, escarafuncha onde não deve, mete o bico sem ser chamado. Puxa o carro. Jornalista no inferno, nem a pau”.
Novamente o enjeitado procurou seu antigo anjo, expondo o dilema. O bom anjo admitiu ter jamais conhecido situação tão estranha. Alguém ser rejeitado tanto no céu como no inferno. Diante do impasse levaria o assunto à discussão da assembleia divina. Enquanto isso, sugeriu ao infeliz permanecer provisoriamente hospedado em uma nuvem brumosa. Passou uma semana, nada. Quinze dias e sem solução.
Até o santo anjo sumira! Depois de um mês, já de saco cheio, sem cerveja e sem mulher, sentindo-se totalmente inútil, o jornalista teve uma ideia e resolveu editar um jornal.
Sucesso! Assim que publicou a 1ª edição, recebeu cumprimentos de ambos os lados. Até um vereador que ardia no caldeirão condenatório fez voto de louvor. E o jornalista ganhou duas credenciais com entrada grátis no céu e no inferno.
Sem trocadilho: Jornalista é fogo!