Lázaro Piunti
Dia dos Pais!
Lembranças tantas!
No escaninho das passagens proporcionadas pela nossa saudosa convivência, uma se sobressai.
Marca forte cravada em minha alma e tecida em labaredas de fogo.
Ao longo da vida carrego como herança o recado do meu pai! Que sobrevive em mim.
Palavras esculpidas como uma espécie de advertência e aviso, mistura de ensinamento e dolorosa punição.
Explico!
Eu tinha 21 anos, o ano 1968.
Naquela tarde de julho eu disse ao meu pai ter sido convidado a ser candidato a Vereador. Tempo de idealismo sem mácula, quando Vereador em minha cidade sequer tinha subsídio, salário ou qualquer vantagem financeira.
Eu me sentira valorizado, dominado pela empolgação, pois os chefes dos dois grupos políticos da cidade me abordaram com o convite tentador. A reação do meu pai, calma e sem pressa, foi um balde de água fria. Em poucas palavras, ele disse: “Meu filho, a politica é quase sempre feita por gente ruim; as pessoas prometem mundos e fundos ao povo e depois não cumprem o que prometem; ganham e cuidam dos seus interesses, roubam, mentem e enganam”.
Eu respondi, com a voz cheia de ímpeto juvenil: “Por isso mesmo quero entrar na política; se os honestos não se metem o espaço fica para os maus”!
Meu pai, quase 80 anos, mãos calosas de lavrador, rosto sereno e cheio de mansidão, olhou por um breve momento para mim. Calado, fiquei esperando sua palavra final. Ele falou lançando uma sentença que beirava maldição: “Meu filho, em nossa família até agora ninguém se meteu na política; se você quer, é sua vontade, vá em frente; com a minha bênção...
Mas, tenha muito cuidado; e, nunca se esqueça do que vou dizer: jamais suje o nosso nome”!
Baixei os olhos, abracei meu pai e segui meu destino.
O resto da História está registrado nos arquivos dos cartórios e nos documentos oficiais da cidade. Fui eleito vereador, o 3º mais votado e, na eleição seguinte, o mais jovem prefeito. Por quatro vezes o povo me fez prefeito. Em disputas alternadas e votação crescente, em época de reeleição proibida. Hoje, perto dos meus 76 anos, após vivenciar fases de alegria sendo útil ao próximo e a dor de dezenas de processos, trago o espírito em paz. Pois, resistindo às armadilhas não me corrompi e, fiel ao nome do meu pai, guardei seu precioso conselho como a mais sagrada herança – legado valioso de definição tão simples, mas sublime: Dignidade!
Lázaro José Piunti