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Lázaro Piunti

Comadre Silvana era uma robusta portuguesa nascida em “Trás dos Montes”, província de Vinhais.Lazaro Piunti b1860

Aqui se casou com o lusitano Pero Augusto dos Anjos e com a graça divina tiveram uma penca de filhos.

Dona Silvana era excelente costureira, rezadeira, benzedeira e, se necessário, guarda-noivas.

O que vem a ser guarda noivas? Digamos que uma moça de família prestes a se casar com algum mancebo fosse informada que o noivo tinha uma filha fora do casamento? Feitas as investigações por amigos e familiares e não sendo procedente o boato, se sabia que a suposta mãe solteira estava mesmo querendo dar o golpe do baú. Principalmente quando era um bom partido!

Comadre Silvana era chamada para resolver o caso. E assim aconteceu com a moça Laura, afilhada de batismo de dona Silvana. Quinze dias antes do casório, chegou a ela denúncia anônima. O futuro esposo, Laércio, teria dormido com a filha do Zão. De fato, Marieta, filha do Zão tinha uma pequerrucha e, segundo as más línguas, a menina guardava certa semelhança com o garboso Laércio.

Dona Silvana descobriu que a mãe solteira era sobrinha do João Feio, o qual planejara a história querendo ajeitar a vida da sobrinha com um bom partido. No dia das núpcias, igreja apinhada de gente, pairava um murmúrio no ar. Marieta espalhara que interpelaria o noivo na hora do “SIM” no altar e acusaria o moço de ser o pai desnaturado.

Dona Silvana não iria deixar a afilhada Laura passar esse vexame.

No dia do casório se postou à entrada da Igreja, pouco antes das quatro da tarde, daquele sábado setembrino. A noiva, muito linda, véu e grinalda e um buquê de flores silvestres nas mãos, adentrou ao templo ao som da marcha nupcial. Comadre Silvana ficou à porta, de tocaia. Não demorou e Marieta apontou nas imediações, mas nem deu tempo de subir as escadarias externas da Matriz. A destemida dona Silvana foi logo erguendo sua sombrinha azul e metendo bronca em Marieta. “Suma daqui sua vadia, que vosmecê não vai atrapaiá casamento de gente séria; vai juntar seus trapos com o seu tio, o safado do João Feio, o ladrão de sua virgindade. Desapareça, danada, ou vai sentir o peso da pancada no cocuruto".

E sacudiu a sombrinha, ameaçadora. Assustada, Marieta escapuliu, refugiando-se na charrete postada na esquina e a comadre Silvana ainda atrás. Transeuntes viram a sirigaita subir as pressas na charrete. Na boleia, João Feio. Dada e passado em algures ou alhures! Mais não digo. Foi assim que me contaram a história!