Crepúsculo de um tempo!
“Confesso que vivi” – disse o poeta – e sua frase a tomo por empréstimo.
Sem pedir licença! Pablo Neruda me perdoará!
Na plácida contemplação dos dias idos, noto ter corrido muito.
Porém, tenho cá minhas dúvidas. Não corri o bastante!
E fiquei devendo.
Deveria ter amado mais, oferecido mais. À família, à humanidade inteira!
Muito ficou a ser feito. E, quando me cobro, o sofrer se acentua.
Fui incompetente ou vagaroso na captura dos sinais?
Tento sufocar a tristeza e refrear as próprias mágoas.
Busco entender os significados!
E um sentimento de arrependimento me machuca.
Se mais não fiz, a culpa foi minha?
Eu me imaginava semeador de sonhos!
Logo, porções maiores de frutos bons faltaram à mesa dos vizinhos!
Terei prevaricado no plantio das sementes? Ou falhei no seu cultivo?
E agora é tarde! Os sinais são outros!
Por exemplo: meu cachorro! O Thor já não saltita como antes. Envelheceu! Está mais gordo! E gosta de dormir tardes inteiras!
Pois, o sono que embala o meu cão também me seduz!
Outrora, jamais me permiti sequer um cochilo no esbrasear do sol!
Está exposta a sentença do outono! A Lei do Tempo me alcançou!
Vivo o entardecer mesclado de rotina e silêncio morno.
Mas, a voz interior ainda sussurra débil e frágil apelo à resistência!
É o agoniado ímpeto do espírito combativo!
Expulsar a fadiga! Retardar o seu domínio! Prolongar o seu triunfo!
Enquanto não chega o inverno!
21-01-2022.