Lázaro Piunti
Crepúsculo de um tempo!
“Confesso que vivi” – disse o poeta – e sua frase a tomo por empréstimo. Sem pedir licença! Na plácida contemplação dos dias idos, noto ter corrido muito. Porém, tenho cá minhas dúvidas. Não corri o bastante! E fiquei devendo.
Deveria ter amado mais, oferecido mais. À família, à humanidade inteira! Muito ficou a ser feito. E, quando me cobro, o sofrer se acentua.
Fui lento ou incompetente na captura dos sinais? Tento sufocar a tristeza e refrear as próprias mágoas. Busco entender os significados! Assusta-me a omissão quanto às possibilidades perdidas. E o sentimento de certa decepção me magoa.
Se mais não fiz terá sido culpa minha? Eu me imaginava semeador de sonhos! E percebo que porções maiores de frutos bons faltaram à mesa dos vizinhos!
Terei falhado no plantio das sementes? Ou prevariquei no seu cultivo? E agora é tarde! Os sinais são outros!
Por exemplo: meu cachorro! O Thor já não saltita como antes. Envelheceu! Está mais gordo e gosta de dormir tardes inteiras! Esse sono que embala o meu cão também me seduz! Outrora, jamais me permiti sequer um cochilo no esbrasear do sol!
Está exposta à sentença do outono e a Lei do Tempo me alcançou! Vivo o entardecer mesclado de rotina e silêncio morno.
Mas, a voz interior ainda sussurra na alma.
É o débil e frágil apelo à resistência, ou agoniado ímpeto do espírito combativo!
Quero expulsar a fadiga, retardar o seu domínio e deter, por um lapso de tempo ainda, o seu triunfo!
Porém, a realidade é clara. Está visível a aproximação do inverno!
Lázaro Piunti -
21/01/2022