Lázaro Piunti
E o asteroide passou relampejando pelas fronteiras da Terra. Neste domingo, 21 de março do ano contado como 2021.
Cientistas calcularam seu peso em 240 milhões de toneladas e o diâmetro perto de um km. A largura correspondente ao tamanho da Ponte Rio-Niterói. Galopando em espantosa velocidade, superior a 124 mil quilômetros por hora, o gigantesco artefato resvalou pelo espaço sideral a uma distância potencialmente perigosa de 2 milhões de km do planeta Terra.
A NASA monitorou a alucinada passagem do “mostrengo” pelo infinito. Foi por volta de uma hora da tarde deste domingo de COVID.
E nós, aqui, indefesos, ficamos a refletir no quanto somos pequeninos, minúsculos seres em comparação aos mistérios do universo.
Com a passagem do viajante solitário, que a estas horas se perdeu nos confins dos mundos rasgando a amplidão do desconhecido, nós desperdiçamos preciosa oportunidade de remissão das nossas fraquezas. Seria o instante sagrado do início de uma caminhada diferente à atual que teimosamente insistimos em perfilhar. Tivesse o colossal objeto, desviando-se do seu rumo, penetrado na atmosfera terrestre e seríamos pó. Nada mais que grãos de poeira insipida, inodora e incolor, espalhados na noite eterna do planeta destruído.
E morto! As nossas malquerenças e nossas rusgas, pessoais ou coletivas, nossas diferenças ideológicas e nossos egoísmos, estariam sepultados na vala comum da escuridão sem fim!
As riquezas de poucos e a miséria de tantos permaneceriam literalmente niveladas no patamar do esquecimento.
As fronteiras geográficas separando países dormitariam no olvido e fulminadas sem arbitragem póstuma!
Imersos no sepulcro do inexistente, exauridos no tempo, todas as espécies transformadas em NADA sequer guardariam a memória da existência aniquilada.
Restaria aos crentes, o privilégio da revivência em outro Plano. Aos incréus, agnósticos e ateus, a consolação do obscuro repouso.
Felizmente, escapamos do sono letárgico, pois o asteroide emigrou para longínquas galáxias.
E nós, atenção nenhuma demos ao episódio.
Desajustados, marcharemos celeremente na sequência inconsequente. A brigar por tudo. E por nada! Até que, não se sabe em que milênio, um asteroide desobediente às leis do Universo, a trovejar o fatalismo, resolva nos atingir mortalmente!