Lázaro Piunti
Estou no posto abastecendo o carro. A frentista, moça de uns 30 anos, se aproxima e pergunta se posso dar uma orientação. Concordo, sorrindo e ela desabafa. Seu pai abandonou sua mãe fugindo com outra mulher quando ela era criança. Anos depois sua mãe faleceu e ela foi criada pela avó.
Atualmente está casada e tem dois filhos pequenos.
O marido é servente de pedreiro e a família vive em casa alugada.
Nesta semana foi procurada pela assistente social do Fórum que lhe trouxe uma notícia. Seu pai, 65 anos, está doente, teve uma perna amputada e a mulher com quem ele vivia após abandonar sua mãe, não o quer mais em seu teto. E a “meio irmã” está pouco se lixando pelo pai. A garota é complicada, viciada em craque e vive à custa da mãe – a qual se garante com a aposentadoria do velho enfermo.
Enfim, a pergunta e o pedido de aconselhamento: a frentista não quer receber o pai em sua casa e indaga se pode rejeitá-lo, pois a assistente social a está pressionando.
Antes de responder, peço a Deus alguma luz. E olhando fixamente para o rosto ansioso da frentista, digo compreender sua revolta com o pai que a abandonou quase bebê e foi buscar novo relacionamento.
Do ponto de vista legal ela não tem obrigação de acolher o pai. E tentando dar suavidade à minha voz, pergunto se ela crê em Deus... Ela confirma!
Declaro, a partir dai, que, na condição de cristãos, não nos é permitido recusar a acolhida, ainda que o ato signifique uma cruz pesada a carregar.
A moça me ouviu e algumas lágrimas brilharam em seus olhos. Afastou-se e eu fui embora com o coração triste e o espírito abatido.
Um drama da vida, como tantos. Há outros piores, mas, este, me machucou.
Realmente o mundo é um vale de lágrimas. E eu, diante do fato, me senti um inútil.
Lázaro José Piunti - 18-09-24.