lmo. Sr.
Dr. Ruy Martins Altenfelder Silva
Presidente da Academia Cristã de Letras
São Paulo
Caro Presidente
Uma carta de despedida é sempre difícil de ser escrita. Comprovo esta verdade.
Talvez seja mais fácil e menos contundente digitar um ponto final, do que traçar as primeiras linhas.
Cheguei à ACL em 2011, encaminhada por meu marido, Cláudio de Cápua, que, acreditando em mim, lançou meu nome como candidata a uma Cadeira, empenhando-se para que fosse aprovado. A ele, portanto, e àqueles que me elegeram, meu profundo agradecimento.
Meu marido desconhece esta despedida. Sei que se oporia a ela, e, por isso mesmo, antecipei-a sem o seu conhecimento, para que não a tentasse evitar, solapando o meu tão doloroso quão difícil intento.
Tudo tem seu tempo hábil, caro Presidente, e é indispensável que reconheçamos nossos próprios limites. Cheguei próximo aos meus, que, com a graça de Deus, foram até bastante estendidos.
Se não foi devidamente aproveitado o longo espaço vital que recebi, posso garantir-lhe que, sinceridade e ânimo não me faltaram para que cumprisse a meta.
Ante o carinho e a cordialidade com que fui recebida nesta Academia, deixei que raízes mais profundas a ela me ligassem, tornando-se, agora, verdadeiramente impossível erradicar os ternos liames que aqui me prendem.
Por morar fora da Pauliceia, procurei, desde que empossada, cumprir os deveres assumidos a partir da presença assídua às reuniões mensais desta Academia. Que me recorde, apenas uma delas não contou com minha presença, e, com certeza, por motivo plenamente justificado.
Minha Santos não fica longe de São Paulo. Mas... também, não é tão próxima assim, que a distância não pese nestes ombros cansados de carregar 95 anos, completos neste 19 de março.
A saúde, como de esperar, agrava-se a cada dia, sem motivo para queixas, uma vez que ainda respeita a minha capacidade de pensar e de me exprimir com clareza, o que já é uma extraordinária benção de Deus, que agradeço com muita emoção.
Assim sendo, caro Presidente, peço que sejam relevadas minhas ausências às reuniões mensais, a partir desta data. Ou, caso não seja isto possível, que meu nome seja excluído do Quadro Associativo desta Academia que, em qualquer dos casos, há de continuar sempre, a ter lugar de especial destaque no meu coração.
Mesmo ausente, seguirei, de longe, os passos da ACL, mantendo cordial contato com meus caros Confrades e Confreiras que o desejarem, via internet. E, sempre que possível, o nosso Boletim virtual contará com a minha colaboração.
Sem estender-me demasiado e a evitar maiores emoções, aqui deixo um abraço maior do que meus braços, para todos aqueles que, mercê do seu carinho, tanto se fizeram estimar e cuja permanência, na vida que me resta, será garantida não apenas pela afeição, mas, também pelo quadro preso à minha parede, que não permitirá que as névoas implacáveis do tempo tentem apagar a afabilidade de suas indeléveis fisionomias.
Respeitosamente e com muita estima, que anseio seja recíproca, aqui deixo minha emocionada despedida.
Até um dia... que somente Deus conhece.
Carolina Ramos - Cad. 22 / Patrono Santo Agostinho.