Frances de Azevedo
Procurei muito pela Internet, perguntei aos meus irmãos, e até nos meus guardados, por uma ilustração representando duas crianças, meninas, de cabelos encaracolados, loiras e com roupas vaporosas: vestidos, ao que me lembro! Não sei se usavam chapéus ou laço de fitas. Mas sei, lembro muito bem, que ao pé delas, um cão com pelagem branca e preta, descansava. Estavam sentadas...
Naturalmente que se tratava de quadro célebre, gravura reproduzida que era. Como foi parar lá em casa, emoldurada num quadro, aproximadamente, de 0,40 x 0,40?
Não há como saber, principalmente, agora, que os meus pais se foram.
Como dizia, procurei e procurei. Um pouco hoje. Outro pouco amanhã. E o tempo foi passando, eis que outras ideias e afazeres tomam conta de nosso dia a dia.
E hoje (12 de setembro de 2017) após receber o livro da poeta e cronista Raquel Naveira, minha confreira na Academia Cristã de Letras, animada com suas deliciosas e bem escritas crônicas, pus-me a fuçar novamente o Google e, filtrando mais um pouco, cheguei ao nome do autor do quadro em gravura que me acompanhou a infância toda e em boa parte de minha juventude: Pierre-August Renoir que, em 1878, pintou “Madame George Charpentier et ses enfants”. Gênero: retrato. Período: Impressionismo. Impressionismo cujo nome é derivado da obra “Impressão: Nascer do Sol”, de 1872, de Claude Monet. E surgiu na pintura francesa do século XIX, na chamada Belle Époque.
Não se fala do cão ao pé de uma das meninas que o acaricia. Trata-se de um Border Collie.
Quanto à senhora Charpentier, não tinha, até então, qualquer memória dela, pois apenas as meninas e o cão ficaram gravados em minha mente. Todavia, ao ver o quadro hoje, tudo se aclarou e o fogo da lembrança ardeu por inteiro!
Finalmente, desvendado o mistério da gravura que em meu imaginário tão boas recordações me trazem, duma época em que todos os meus irmãos – na verdade três meninas e um menino – papai e mamãe, vivíamos juntos e felizes!
Gravura que plasma nossa família no tempo e espaço sideral. Nas nuvens, nas estrelas, no mar: num barco único de amor pleno, onde o riso, a alegria, os sonhos e esperança permeavam cada palmo de nossa existência!
A gravura se foi, não sei para onde, porém em minha alma está impregnado do bom saudosismo de um tempo: lindo tempo que se foi e não voltará jamais...
Frances de Azevedo - Cadeira 39 da ACL - (12/09/2017)