Eu me olho no espelho e me pergunto: porque eu sou tão diferente dos outros ao meu redor se, com diz a crença cristã, todos fomos feitos à semelhança de Deus? E mais, feitos do mesmo barro.
A resposta está nos genes que nos amalgam de forma igual, mas diferente. São os genes legados a cada um de nós que moldam as diferenças físicas, mas que, certamente não moldam a essência de nossas almas.
Há, ainda, a influência do próprio meio-ambiente quanto à nossa interação social, a qual, aqui e ali, causa, ora equilíbrio, ora, desequilíbrio de comportamentos. Assim, uns florescem com a meiguice de um beijo maternal, outros com o perfume e a beleza das flores. Outros, ainda, com a chama do amor. Também, dentre muitos outros, diferentemente, desenvolvem carrancas de uma agressividade tal que atormenta e desarmoniza ambientes inteiros.
Aí, cabe a pergunta: onde está a semelhança do ser humano com Deus, se este, há milênios, vem nos pregando palavras de paz e harmonia? Isto nos leva à conclusão de que existem misteriosos enigmas entre o céu e a Terra, impostos à humanidade alusivos à nossa condição de iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes.
E ocorre exatamente visando nos submeter àquela depuração destinada a nos levar à perfeição e, ao final, à exata semelhança com o Criador. Na verdade, somos quais as árvores, aparente e fisicamente iguais, mas que, quando as sementes que as originaram germinaram em solos e ambientes diferentes, impondo-lhes diferentes feitios. Neste sentido, quando temos uma árvore plantada em um solo rico e bem adubado, seu crescimento haverá de ser contínuo e generoso. Por outro lado, aquela semente germinada em terreno tórrido, desértico, ressequido, certamente sofrerá as consequências de retardos ao seu natural desenvolvimento, bem como, um recrudescimento em sua estrutura. Isso tornará essas árvores, quiçá, bem diferentes quanto às suas estruturas e aparências, mas não mudará suas feições genéticas... e ou, hereditárias, (caso típico de variabilidade genética). Sequer, suas funções dentro do contexto que lhe destinou o Criador.
Da mesma forma, nossa vida é sim, plena de situações que nos permitem, ou, nos impõem escolhas de caminhos que nos levam, ora a uma jornada conflitante socialmente, ora àquela em harmonia com a fé e condição de cristãos. Em razão disso, a afirmação de que, embora diferentes, somos totalmente iguais. E no caso específico dos humanos, acredita-se, haja essa convergência final na busca de um florescer consequente de uma depuração total, não obstante nossas vidas tenham percorrido diferentes e conflitantes caminhos. Depuração que nos levam a alcançar o necessário amalgamento de nossos espíritos, e como prémio, a graça celestial, tal qual cremos, nós cristãos: a plena felicidade na glória eterna.
Reinaldo Bressani - Cadeira nº 15, da ACL.