Reinaldo Bressani
Para um poeta, os versos nascem quais as águas cristalinas brotadas de uma fonte bucólica e que, depois, correm, ora mansamente, ora turbulentas, pelos córregos e rios, saciando a sede de todos por onde passa.
Igualmente, os versos correm para saciar a sede daqueles que têm o gosto pela leitura do lúdico e o hábito de saborear a magia que eles contêm.
É que os versos têm o condão de, em seu tempo de lirismo – pulsante no coração do poeta -, clarear figuras esconsas atrás dos véus transparentes, como se trazidas à frente da claridade do Sol.
É como se a magia da poesia despertasse de uma noite azulada, junto com o despertar da aurora matinal, com a alegria de um dia de céu primaveril. Aurora carregada pelo brilho e perfumes das flores e das cores; dos voos, revoos, e cantares pela consagração da própria vida; das bênçãos fluidas sobre a fauna e a flora. Também, sobre os humanos que tenham seus corações harmonizados na fé que os humaniza.
Daí a analogia aventada entre o nascer dos versos e o brotar das águas cristalinas, tendo em vista que, ambos trazem em si, clara simbologia projetada por insólitos nascimentos: um com a dimensão da poesia, outro com a essência da vida.
Assim, desperto para a destinação que lhe foi reservada, lança-se o poeta, de forma antagônica, sobre as brumas de um mundo obscurecido pelo insólito, pelo desconhecido, com olhar e poder desanuviante sobre esses mistérios.
Então, da escuridão da noite, traz à claridade do dia, a messe colhida do jardim de sua inquietação capaz de romper as impenetráveis barreiras das obscuras sendas enigmáticas.
Visionário, cria insólitas figuras e lúdicas imagens. Dá cores e sentido às tragédias. Também, às alegrias e às belezas que encantam os sonhos que se lhe afloram.
Enfim, o poeta dá luminescência ao verbo da vida.