Geraldo Nunes
Paulo Bomfim nasceu depois dos modernistas de 1922, mas teve a sorte de conviver com eles, como no caso de Anita que desenhou seu rosto e o fez parecido com a cidade à qual dedicou tanto amor.
A Pauliceia Desvairada que se espraia no horizonte, o fez escrever: “... capital de todos os absurdos! ... cidade feita de cidades, bairros que proclamam independência...
“O céu cansado do concreto que o arranha, cresce ao mar das periferias...”
“... No centro todos os vícios e todas as virtudes convivem nas esquinas da São João... onde os domingos são quadrados cabendo na tela dos aparelhos de TV...”
“O metrô é o mergulho no inconsciente urbano, nele o mesmo silêncio dos elevadores...”
Diz mais o poeta dos tempos modernos:
“Carlitos operário ou estudante, comerciário ou burocrata, é técnico em sobreviver...”
“Planalto dos desencontros, porto dos aflitos, rosa de eventos onde até o futuro tem pressa de chegar...”
Os modernistas daquela São Paulo tão distante se encontraram na poesia do meu amado e saudoso poeta Paulo Bomfim.
Ele veio depois, mas ainda deu tempo de escrever “Minha Insólita Metrópole”, cujos versos enxertados nesta crônica fazem dele em um modernista ao lado daqueles que estão sendo lembrados neste centenário da Semana de Arte Moderna.
Paulo respirou Mário, Oswald, Tarsila, Guilherme de Almeida.
São estes com quem convive agora, a vibrar dos ares, dias melhores para essa mal-amada cidade de São Paulo que ainda assim, consegue ter os seus amantes.