Rosa Maria Custódio (Setembro/86)
Estamos no Ano Internacional da Paz e o que mais se vê, no nosso dia-a-dia, está longe de celebrar a tão almejada paz.
Guerras e guerrilhas, ameaças atômicas e desequilíbrio ecológico, injustiças sociais e exploração do homem pelo homem, misérias e fome; estas são algumas pinceladas das cores cinzentas que o homem vai deixando nos murais da história de nossa civilização.
Está na hora de mudarmos de cores e de rumo. O final do século se aproxima e, querendo ou não, somos levados a tomar consciência do momento importante e histórico que vivemos. O final de um século não significa o final de uma civilização, não precisa significar destruição e morte de um povo.
Com o avanço tecnológico, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e das comunicações, os povos do mundo inteiro passaram a fazer parte de uma imensa aldeia global. Experiência inteiramente nova que indica o início de uma nova era.
Todo um código linguístico precisa ser criado no sentido de permitir uma comunicação mais efetiva entre os povos que agora fazem parte da mesma aldeia. Todo um novo código de ética e de valores precisa ser desenvolvido para permitir uma maior e mais justa integração social.
No seu processo civilizatório, o homem já percorreu muitos caminhos, já criou muitas linguagens, muitas normas de conduta e código de valores. Mas, como o ser humano não é perfeito, está sempre conhecendo avanços e retrocessos na sua caminhada. A perfeição é uma qualidade divina e, também, um ideal humano. É na busca desse ideal que o homem vai crescendo e se realizando como pessoa. Ele pode não alcançar a perfeição, mas encontra a sabedoria.
Um dos caminhos que leva à sabedoria é a filosofia. A filosofia é o amor pelo saber, é a busca incessante pelo conhecimento que nos permite uma maior compreensão da realidade que nos envolve. Mais do que nunca, precisamos de mais filosofia no nosso dia-a-dia! Os ensinamentos da filosofia são como estrelas que brilham e clareiam nosso espírito.
Que tal aproveitarmos esta ocasião para pensarmos um pouquinho sobre aquilo que Confúcio, filósofo chinês da antiguidade, dizia sobre a paz mundial e sobre o cultivo de nossas vidas pessoais?
Transcrevo esses pensamentos de sabedoria, de Confúcio, para nossa reflexão:
O povo antigo, que aspirava à clara harmonia moral do mundo e queria por em ordem sua vida nacional, regulava primeiro a sua vida familiar; os que desejavam regular sua vida familiar cultivavam suas vidas pessoais, os que desejavam cultivar suas vidas pessoais arranjavam primeiro seus corações; os que desejavam concertar seus corações primeiro tornavam sincera a sua vontade; os que desejavam tornar sincera a sua vontade chegavam primeiro à compreensão, e a compreensão provém do conhecimento das coisas.
Quando se atinge o conhecimento das coisas, atinge-se a compreensão; quando se atinge a compreensão, a vontade é sincera e o coração se concerta; quando o coração se concerta, cultiva-se a vida pessoal; quando se cultiva a vida pessoal, regula-se a vida familiar; quando se regula a vida familiar, a vida nacional se ordena; quando a vida nacional se ordena, o mundo está em paz. O cultivo da vida pessoal é a base de tudo. Há uma causa e uma conseqüência nas coisas e um começo e um fim nos assuntos humanos. Conhecer a ordem de precedência é possuir o começo da Sabedoria.