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Rosa Maria Custodio - (Junho/2007)

Acompanho o empenho do jornalista Costa Carregosa na edição e publicação das matérias do Jornal da Imprensa Paulista, principalmente no que diz respeito ao drama vivenciado por milhares de trabalhadores e aposentados da VELHA VARIG, aquela que ficou com as dívidas, inclusive as trabalhistas, e deixou de repassar ao AERUS (plano de aposentadoria privada, fundado por esses mesmos trabalhadores) o dinheiro descontado nos contracheques de seus funcionários, com o aval de seus administradores e agentes do governo.

Hoje, esses trabalhadores, que passaram a maior parte de suas vidas trabalhando, que cumpriram com eficiência suas escalas rigorosas de trabalho, ajudaram a transportar com segurança milhões de pessoas e pagaram seus planos de aposentadoria (além dos altos impostos cobrados a cada cidadão brasileiro honesto) simplesmente não recebem o dinheiro que aplicaram e lutam na justiça para reaver o que lhes é de direito.

Enquanto isso, o AERUS (fundado e sustentado, durante muitos anos, por esses mesmos trabalhadores) prossegue firme e forte, administrando uma fortuna considerável e gerenciando novos planos de aposentadoria. O mesmo AERUS, que diz não poder pagar os aposentados e pensionistas da VARIG, da TRANSBRASIL e INTERBRASIL, agora coleta e administra o dinheirinho dos funcionários de outras empresas:

AEROCLUBE RS, GE RIO, AEROMOT, FNTTA, IATA, AEROESPAÇO, SATA, SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS AÉREAS e SINDICATO NACIONAL DOS AERONAUTAS. E também daquelas que nasceram da VELHA VARIG: RIOSUL, NORDESTE, VARIG LOG, AMADEUS, TROPICAL, VEM e a própria FUNDAÇÃO RUBEM BERTA!

A VELHA VARIG (que nos áureos tempos foi a estrela brasileira brilhando de norte a sul, rosa dos ventos brasileiros no horizonte dos países estrangeiros, prêmio internacional de melhor serviço de bordo por muitos anos, porque seguia o ideal de Rubem Berta, um empresário de visão e bons princípios) cresceu e transformou-se numa holding de peso: inchando e parindo novas empresas de transportes aéreos e de serviços, redes de hotéis etc.

Com o crescimento, os oportunistas de plantão foram chegando e estabelecendo seus assentamentos. Criaram novos cargos administrativos de cúpula, acomodaram parentes e amigos e consumiram as riquezas produzidas pelos seus fiéis e dedicados funcionários.

Crescidos com arroz, feijão e cachaça, esses novos administradores passaram a ingerir caviar à la russe, pâté de foie gras, e vin blanc de Champagne. Como consequência, esqueceram suas origens e propósitos e começaram a brigar uns com os outros. Outras aves de rapina, que espreitavam do lado do planalto e queriam se alimentar de semelhantes iguarias, foram se aproximando com uma voracidade homicida. Foi assim que a VARIG faliu.

A VELHA VARIG É O RETRATO DO BRASIL DE HOJE.

O AERUS É O GIGOLÔ DAS CIAS AÉREAS E ASSOCIADAS.

E A NOVA VARIG É A VELHA VARIG AMANHÃ.

Não são apenas os trabalhadores que foram afastados do trabalho sem receber o que lhes era devido por lei, nem os aposentados que contribuíram para a suplementação de suas aposentadorias e precisam brigar pelos seus direitos, que estão insatisfeitos com a realidade brasileira. Todo trabalhador honesto, todo cidadão responsável, toda pessoa de caráter e bons princípios, está se sentindo lesada com a atitude e o comportamento da maioria daqueles que estão no poder, seja na administração de empresas públicas ou privadas, seja na representação dos poderes legislativo, judiciário e executivo.

No Brasil de hoje, o trabalho não é valorizado nem respeitado. Para ficar rico não é preciso trabalhar e muito menos estudar. O exemplo vem dos escalões que se dizem superiores. Basta ocupar um lugar na política, ou ser filho de ocupante, ou amigo ou amante, ou bandido. Até os estudantes mais privilegiados do país, que têm a oportunidade de estudar de graça na maior e melhor universidade federal (USP), estão preferindo a ocupação em detrimento dos estudos!

A realidade brasileira é decepcionante. E a visão do futuro sombria e ameaçadora. A corrupção e a impunidade estão destruindo o que há de melhor no imaginário do povo brasileiro: a esperança de dias melhores, o sonho de uma vida mais feliz.