O terceiro Campeonato Mundial de Futebol, realizado na França, em 1938, é considerado um marco na história do rádio brasileiro. Durante o evento, aconteceu a primeira transmissão esportiva internacional transmitida para o Brasil diretamente da Europa.
A partida de estreia da seleção brasileira foi contra a Tchecoslováquia e o jogo terminou empatado em 1x1. Coube a façanha ao locutor esportivo paulista, Leonardo Gagliano Neto, cuja “irradiação” foi transmitida para uma cadeia de emissoras formada pelas rádios Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, Cosmos e Cruzeiro do Sul de São Paulo, além da Rádio Clube de Santos.
Os demais quatro jogos que o Brasil participou, além do match final Itália 4x2 Hungria, foram irradiados com uma qualidade de som que surpreendeu a todos. Naquele tempo, as transmissões radiofônicas de longa distância, eram feitas por emissões de ondas curtas integradas por um sistema de antenas coligadas.
As informações até aqui colocadas fazem parte da monografia apresentada pela minha saudosa professora de radiojornalismo, Gisela Swetlana Ortriwano, apresentada nos tempos em que fui seu aluno na Universidade Metodista – UMESP – São Bernardo do Campo – SP. Nesse trabalho, ela aponta que em 1938 o Brasil parou para ouvir as irradiações de Gagliano Neto: “O povo, incrédulo e fascinado com os sons vindos do outro lado do oceano, vibrava. Quem não tinha rádio em casa, se aglomerava no Largo do Paissandu, em São Paulo, ou diante da Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro”.
Entre 1938 e 2022 aconteceram 20 copas do mundo, todas elas transmitidas pelo rádio brasileiro. Enumerar os radialistas que participaram com brilho dessas narrações seria por demais trabalhoso. O legado cultural destes acontecimentos esportivos, entretanto, resultou na paixão do povo pelo futebol e no gosto de boa parte da população em ouvir rádio.
A conversa alegre que envolve os lances de cada partida, ainda faz com que muitos que estão em casa, busquem ver as imagens pela televisão acompanhando a narração do jogo pelo rádio, se bem que a tecnologia dificultou essa prática. A implantação do sistema digital transmitido via satélite causa um delay que pode variar de 6 até 30 segundos, se a transmissão chegar via internet. Por isso, quando o jogo está morno, do tipo bola pra lá - bola pra cá, alguns preferem acompanhá-lo somente pelo rádio, graças ao dinamismo que os narradores esportivos acrescentam ao movimento dos jogadores em campo.
Isto ajuda explicar os motivos de não estar faltando ouvintes para as transmissões esportivas desta Copa do Catar pelo rádio, prova disso é que a quantidade de anunciantes aumentou neste mundial, em relação à copa transmitida da Rússia, em 2018.A Rede CBN, por exemplo, vendeu 9 cotas de patrocínio, algo acima da média se comparado até mesmo com a televisão. Parabéns aos gestores da mídia radiofônica!
Os recursos agora oferecidos pela tecnologia possibilitam se ouvir rádio via internet, através dos aplicativos instalados nos celulares. Este avanço fez aumentar a audiência de todas as emissoras e por conseguinte subiu a quantidade de patrocinadores. Conclusão: O rádio seguirá vivo por tempo indefinido, contrariando aqueles que, vez por outra, anunciam seu fim.Desejo sorte ao scratch brasileiro.
Fontes: Portal Money Times e FRANÇA 1938, III COPA DO MUNDO - O RÁDIO BRASILEIRO ESTAVA LÁ – monografia: Gisela Swetlana Ortriwano – Graduada em Jornalismo pela ECA/USP – 1972
Geraldo Nunes, jornalista, escritor e ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL