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  • Fonte: Geraldo Nunes

Geraldo Nines

Dois noticiários radiofônicos servem de modelo para entender como se deu a leitura de notícias no rádio brasileiro, a partir da década de 1940. O “Repórter Esso”, inicialmente um noticiário de guerra, lia no ar os telegramas provenientes da Europa sobre o conflito mundial lá estabelecido, com atenções voltadas especialmente à Força Expedicionária Brasileira – FEB e sua atuação na Itália. O nome do noticioso surgiu em razão do patrocinador, a Companhia Esso Brasileira de Petróleo, então a maior distribuidora de combustíveis do país, com boletins de hora em hora e duração era de cinco minutos.

“O Grande Jornal Falado Tupi”, por sua vez, começava às 7 da manhã com uma hora de duração. Este noticiário seguia o roteiro dos jornais impressos publicados diariamente. Trazia primeiro as manchetes de primeira página e depois se dividia em blocos de acordo com as editorias: notícias nacionais, internacionais, esportes, cultura, assuntos locais etc. Dirigido em São Paulo pelo jornalista Corifeu de Azevedo Marques, o “Jornal Falado”, foi ao ar pela primeira vez em 1942, mesmo ano da estreia do “Repórter Esso”. 

Com o término da Segunda Guerra, esses noticiosos já consagrados, seguiram na programação de suas emissoras, mas certos dirigentes da mídia não acreditavam que a leitura de notícias no rádio pudesse dar mais audiência e lucros comerciais que os programas com música ou de entretenimento. O jornalismo na mídia radiofônica passou a ganhar força mesmo, a partir de 1962, com a estreia na Rádio Bandeirantes do jornal Primeira Hora, ainda no ar com o mesmo nome no habitual horário das 7 da manhã na Band Rádio, mas em um formato bem diferente de quando surgiu. Afinal, tudo muda e a linguagem radiofônica hoje é mais opinativa que informativa.

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“Se a televisão tem imagens, a qualidade do rádio está no som”, dizia Alexandre Kadunc, criador do Primeira Hora, no início dos anos 1960. Foi ele quem instituiu no rádio a utilização de vinhetas, ou trilhas sonoras com frases de efeito que aguçavam a imaginação dos ouvintes. Uma dessas vinhetas trazia o “canto do uirapuru”, um pássaro da Amazônia, ouvido somente uma vez por ano. “Quando o uirapuru canta, as outras aves silenciam para ouvi-lo”, ressaltava o mestre Kadunc com quem muito aprendi como iniciante, nos tempos de sua passagem pela Rádio Capital, entre 1978 e 1982. 

Sua equipe de jornalistas na Bandeirantes tinha um nome: “Titulares da Notícia”. Na mesma época, também pelo prefixo 840 AM, Vicente Leporace lançou “O Trabuco”, que entrava no ar após o “Primeira Hora”. Leporace lia as notícias dos jornais impressos para depois comentá-las com um senso crítico sempre aguçado. A trilha de seu programa, que soou por 16 anos nos lares brasileiros, dizia: “Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai comentar as notícias dos jornais. Seu Leporace agora com o Trabuco (bang!), vai dar um tiro nos assuntos nacionais”.

Em 16 de abril de 1978, um domingo, Leporace morreu e “O Trabuco”, não foi ao ar na segunda-feira. Ninguém sabia quem seria capaz de substituí-lo diante dos microfones. Para seu lugar chamaram Salomão Ésper, que costumeiramente substituía Leporace nas férias, e junto com ele, para alicerçar o conteúdo de opiniões, se juntaram José Paulo de Andrade e Joelmir Betting, mas O Trabuco precisou mudar de nome para Jornal da Bandeirantes Gente que segue na grade da emissora com outros apresentadores.

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Quando o assunto é jornalismo no rádio, a marca Jovem Pan precisa ser citada. Inaugurada em 1944 com o nome Rádio Panamericana, ganhou de início, o título de “Emissora dos Esportes”. O sucesso musical e de consumo trazido pelo programa Jovem Guarda, transmitido pela televisão Record, pertencente aos mesmos donos da Panamericana, ofereceu uma nova roupagem à rádio que antes só falava de futebol.  Sua programação passou a ter programas que abordavam a música jovem, com a participação dos cantores da TV, complementada por assuntos que abordavam os temas da atualidade da época. Com isso aos poucos, a notícia passou a ter prioridade.

Comandada nos bastidores pelo jornalista Fernando Luiz Vieira de Mello, a Jovem Pan levou ao ar, ainda na década de 1960, o jornal da “Equipe Sete e Trinta”, lido nas vozes dos locutores, Antônio Del Fiol e Antônio Alexandre, com os comentários de Ney Gonçalves Dias. A partir de 1969 se tornou possível transmitir programas ao vivo via satélite. Este avanço tecnológico possibilitou a criação do “Jornal de Integração Nacional”, com repórteres ao vivo direto de Brasília e do Rio de Janeiro. Alguns anos depois o nome do noticioso foi modificado para “Jornal da Manhã” e nele incorporadas as canções da Sinfonia Paulistana, obra imortal do compositor Billy Blanco, em homenagem à cidade de São Paulo.

Amanhecendo: “A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição. Porque tudo se repete, são sete, e às sete explode em multidão! Portas de aço levantam, todos parecem correr, não correm de, correm para...Para São Paulo crescer! Vam bora, vam bora, olha a hora vam bora, vam bora...!”

Grande São Paulo: “São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo que não pode adormecer! Porque durante a noite, o paulista vai pensando, nas coisas que de dia vai fazer...”

Tudo o que foi contado nesta postagem, é apenas uma parte das muitas histórias sobre o jornalismo no rádio brasileiro que chega agora ao centenário neste ano da graça de 2022.

 

Geraldo Nunes, jornalista e escritor, ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras