Dando sequência à série de artigos sobre o centenário do Rádio no Brasil, explicamos nas postagens anteriores que o nosso primeiro veículo eletrônico de comunicação, viveu sua fase áurea durante a década de 1940, mas eis que, exatamente em 1950, surgiu a televisão e o rádio precisou enfrentar sua primeira crise nos anos subsequentes, causada pela perda de audiência, uma vez que a televisão como novidade tecnológica reunia, não apenas o som, mas também a imagem.
Passou a ficar caro para os donos das rádios manter um cast de artistas exclusivos, todos passaram a dar preferência para a televisão e o rádio precisou se reciclar, buscar novos caminhos e o primeiro passo foi a extinção gradual dos programas de auditório, que deram lugar a uma programação musical de sucessos lançados em discos e o rádio, por sua vez, passou a revelar os novos valores da música. Surgiram assim os disc-jóqueis, tendo alguns deles entrado para a história da Música Popular Brasileira, como é o caso de Carlos Imperial, no Rio de Janeiro e de Antônio Aguillar, em São Paulo, este ainda ativo, aos 93 anos completados em 18 de outubro último. Aguillar está agora em uma emissora online, a Rádio Calhambeque, mas, ao longo de sua carreira, trabalhou em várias emissoras em AM e FM.
Como disc-jóquei revelou para o sucesso, inúmeras cantoras, cantores e grupos musicais. Nomes como Carlos Gonzaga, Tony e Celly Campello, Demétrius, além do conjunto The Clevers, que depois passaria a se chamar Os Incríveis, passaram pelos programas de Antônio Aguillar e depois fizeram fama ocupando os primeiros lugares nas paradas de sucesso.
Nascia com isso um novo público adepto ao rádio, formado por jovens, sempre em busca das novidades musicais.
Atendendo a um pedido do apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, foi Antônio Aguillar quem revelou aos ouvintes de São Paulo, um até então desconhecido, mas promissor intérprete da música jovem, chamado Roberto Carlos. Quem o descobriu no Rio de Janeiro foi Carlos Imperial, mas Aguillar o ajudou muito na capital paulista, divulgando suas gravações através dos programas de rádio.
Então aconteceu o inevitável, a televisão chamou Roberto Carlos para apresentar nas tardes de domingo, um programa chamado Jovem Guarda, que fez dele um dos principais nomes entre todos da MPB. O Rádio seguiu em frente, vieram depois as emissoras em AM, voltadas exclusivamente à música gravada em discos. Foi o caso da Excelsior, chamada de “A Máquina do Som”, tendo à frente a voz inconfundível de Antônio Celso.
Outras emissoras seguiram o mesmo caminho como a Difusora de São Paulo, pertencente aos Diários e Emissoras Associados e comandada pelo sempre elogiado diretor-artístico, Luiz Fernando Magliocca. Nesta mesma época, entre as AMs, surgiu um seguimento mais popular, formado pelos comunicadores dentre os quais tiveram destaque, Hélio Ribeiro, Barros de Alencar, Luís Aguiar, Enzo de Almeida Passos e mais outros que vieram depois, como Eli Corrêa. Como veículo de comunicação de massa, o rádio proporcionou a entrada no ar, a partir da metade da década de 1970, diversas emissoras em FM que proliferaram pelo país programações musicais dos mais diferentes estilos. O Rádio no Brasil, que agora completa 100 anos, tem ainda muitas histórias a serem contadas mais
adiante.
Geraldo Nunes, jornalista e escritor, ocupa a cadeira 27 da Academia Cristã de Letras