Rosa Maria Custódio (Agosto/2008)
Diz a lenda que Hércules, o herói de muitas façanhas na mitologia grega, teria criado os Jogos Olímpicos para homenagear seu pai, o deus Zeus. Para o povo grego antigo, os jogos olímpicos tinham grande importância, pois, além de exigirem disciplina física e força de vontade, tinham caráter religioso. Os registros históricos, apesar de não serem muito precisos, nos informam que esses jogos começaram, de forma organizada, em Olímpia, na Grécia, e foram realizados, a cada quatro anos, de 776 aC. até 394 dC., quando Teodósio I, imperador cristão, os extinguiu, alegando tratar-se de festa pagã.
Foi o educador e filantropo francês, Barão Pierre de Coubertin (1863-1937), com o incentivo do grego Demétrio Vielas, que trouxe de volta, ao cenário mundial, os Jogos Olímpicos, por acreditar que a Grécia antiga devia muito de sua glória (além da cultura filosófica e artística) à cultura da educação física e aos festejos esportivos. O essencial não seria vencer, mas sim competir, com lealdade e valor. Assim, a competição esportiva poderia servir para estimular a amizade, o bom relacionamento e a paz entre os povos.
Foi em Atenas, em 1896, que se realizou a primeira Olimpíada dos tempos modernos, com a participação de menos de 300 atletas, de 13 países. Desde então, em países diferentes, a cada quatro anos (menos em dois períodos de guerra mundial), atletas do mundo inteiro se reuniram para disputar provas esportivas das mais variadas modalidades, em festas grandiosas de congraçamento universal. Nas Olimpíadas de 2004, também realizadas em Atenas, participaram cerca de 11.100 atletas de 202 países.
Mudanças históricas e culturais, de nossa civilização moderna, poderiam ser estudadas a partir do foco nos Jogos Olímpicos, que hoje representam um dos maiores eventos sociais da humanidade e movimentam interesses dos mais variados e complexos. Milhões de pessoas se deslocam de seus países para assistir os jogos, cujas cerimônias de abertura e encerramento sintetizam o que há de mais esplendoroso, em termos de apresentação artística. A comoção é geral e isso nos remete à importância dos jogos como fator de integração e confraternização mundial.
Em 2000, nas Olimpíadas de Sydney, mais de 16 mil jornalistas, do mundo inteiro, faziam a cobertura dos jogos, que foram assistidos, pela televisão, por mais de 3,8 bilhões de pessoas. Mesmo num mundo de cultura acelerada, onde a pressa é constante e o tempo vale ouro, uma parcela significativa da sociedade pára para assistir os jogos. A alegria da vitória, ou a tristeza da derrota domina a emoção, tanto dos indivíduos quanto da coletividade.
Sediar as Olimpíadas é participar de uma revolução social dentro e fora das fronteiras nacionais. Para começar, depois de receber a indicação, que por si só exige um trabalho diplomático hercúleo, é preciso fazer um investimento bilionário para modernizar os lugares que irão acolher, com infraestrutura adequada e segura, os milhares de atletas e os milhões de visitantes, que estarão se movimentando em torno dos jogos. O incentivo ao desenvolvimento social e cultural é gigantesco. Em troca, os países sede tem a oportunidade de mostrar ao mundo as suas riquezas e seus valores.
Estamos vivendo as emoções dos Jogos Olímpicos de Pequim. A abertura foi propositadamente programada, no horário chinês, para as oito horas e oito minutos da noite do dia oito, do mês oito (agosto) de 2008 - numa profusão de oitos, o número que na numerologia significa nobreza adquirida e fortuna conquistada através do trabalho realizado. Os pitagóricos consideravam o número oito como símbolo da justiça e plenitude. Já os chineses, em sua cultura milenar, associam o número oito à música e à uma multidão organizada. A cerimônia de abertura, com mais de três horas, mostrou os aspectos mais importantes da história e da cultura chinesa, num um dos mais belos espetáculos da terra, já vistos por olhos humanos!
A mídia, com seu poder de difusão, não pode se deixar seduzir apenas pelos interesses econômicos e políticos, e sim se concentrar em mostrar aos povos do mundo inteiro, o lado mais bonito, mais positivo e importante das Olimpíadas, que é a apresentação do que cada um tem de melhor. A promoção da união e da paz entre os povos, independente das diferenças sociais e culturais, além das vitórias da superação pessoal, é o verdadeiro espírito dos Jogos Olímpicos.