Todos os anos, na passagem do Dia Internacional da Mulher, me lembro do meu primeiro emprego como repórter quando acompanhei, em 8 de março de 1982, segunda-feira, uma passeata de feministas da Praça da Sé até a Praça Ramos, onde aconteceu um breve comício nas escadarias do Teatro Municipal.
Durante o trajeto as manifestantes - cerca de 400 mulheres - com faixas e cartazes cantaram Maria, Maria, sucesso na voz de Elis Regina. Naquele tempo os repórteres de rádio utilizavam gravadores de fita K-7 pesados e do tamanho de um tijolo.
Gravei as vozes femininas entoando a canção e inseri na edição da matéria que foi ao ar pela Rádio Capital a nossa emissora na época.
A letra diz: “Maria, Maria é um dom, uma força que nos alerta, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”.
Entrevistada, a então presidente da Federação das Mulheres Paulistas, Marcia Campos, contou que Elis, morta no início daquele ano, comparecia e dava apoio aos movimentos feministas.
O sentimento pela perda de Elis Regina ainda doía nos corações mais sensíveis e as manifestantes propunham na época, a criação de mecanismos que diminuíssem a violência contra a mulher, a discriminação no trabalho e o aumento no número de creches.
A questão da dupla jornada foi levantada ao público nos discursos. “A mulher que trabalha, é também dona de casa, cuida dos filhos, do lar e do companheiro...”
O Estatuto da Mulher e a Lei Maria da Penha, só vieram muito tempo depois. Tais avanços são hoje assegurados pela nossa Constituição Cidadã de 1988.
A história da emancipação feminina começa em 8 de março de 1857, quando operárias de uma fábrica de tecidos em Nova York, iniciam uma série de manifestações reivindicando diminuição na jornada de trabalho.
Houve repressão violenta sobre elas que, trancafiadas em uma das dependências da fábrica, acabaram vítimas de um incêndio criminoso e cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas.
A ação descabida, totalmente desumana, abalou a sociedade civilizada da época em vários países. Desde então, a data 8 de março passou a ser lembrada para reflexão sobre as condições enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho e nas relações sociais e familiares.
No Brasil o papel da mulher durante anos, foi relegado ao da submissão. Existia na legislação, o Estatuto da Mulher Casada, que estabelecia direitos às esposas abandonadas pelos maridos. Para as solteiras, entretanto, o tratamento jurídico era outro.
As reivindicações femininas ganharam força a partir de 1963, nos Estados Unidos, quando Betty Friedan, publicou o best-seller A Mística Feminina e sugeriu igualdade de direitos entre mulheres e homens, especialmente no mercado de trabalho.
No mesmo livro, a autora lança críticas à postura passiva de algumas mulheres, voltadas somente às prendas domésticas e ao comportamento servil, além da questão do assédio sexual especialmente às solteiras no mercado de trabalho.
Em 7 de setembro de 1968, um evento de protesto reuniu cerca de 400 ativistas do Movimento de Liberação da Mulher, em Atlantic City, cujo nome dado foi “queima de sutiãs.”
Na verdade, nada foi queimado naquele dia, houve sim uma manifestação contrária ao concurso para a escolha da Miss Estados Unidos, mas a atitude incendiária foi chamada pela imprensa norte-americana de “Bra-Burning”.
As manifestantes entendiam que a escolha da americana mais bonitinha era uma forma de opressão à mulher, fazendo dela um objeto, uma mercadoria.
Elas colocaram em frente ao teatro onde se realizava o concurso, sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas de moda, espartilhos, cintas e outros itens femininos.
Aí alguém sugeriu que tocassem fogo em tudo, mas nada foi queimado na ocasião. A cultura popular é que ligou para sempre as feministas dos anos 1960 à “queima de sutiãs”. Depois, com a repercussão, aí sim sutiãs foram queimados em vários cantos do mundo.
Daí em diante, outras reações surgiram e algumas mulheres partiram para o confronto de ideias combatendo o machismo excessivo de certos homens.
Em 1975, a Organização das Nações Unidas - ONU, oficializou o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, no sentido de diminuir a violência nos lares e no trabalho.
O tempo passou e agora no século 21, as mulheres já dizem: "Feminista sim, sem deixar de ser feminina".
Até por isso, batom, salto alto e maquiagem seguem na moda para que as mulheres continuem sendo como sempre foram: “Encantadoras!”