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  • Fonte: ESTADÃO

Esperança e confiança: os outros países têm de conhecer o perfil de integridade da população que luta para enxergar-se melhor e enfrentar suas dificuldades

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O Brasil é grande demais para ser tratado como uma curiosidade histórica ou imaginado como a terra incógnita dos mapas anteriores ao descobrimento. Sua diversidade cultural e econômica desafia a análise apressada ou preconceituosa. O saudoso compositor Tom Jobim, autor da célebre canção Garota de Ipanema, dizia que o Brasil não é para amadores.

O balanço da economia brasileira vem apresentando surpresas positivas em que as falsas imagens são desmentidas pelos fatos.

A imagem do Brasil jamais poderá ser ligada ao desânimo ou à derrota. Mesmo que uma parte do noticiário sobre as dificuldades brasileiras se justifique, é relevante destacar a importância da reação da sociedade diante deste quadro. O exercício da cidadania está dando frutos e multiplica os efeitos de uma infraestrutura penosamente construída ao longo de décadas de esforço empreendedor.

Nas empresas, a consultoria em favor da modernidade tem provocado transformações e repercutido diretamente nos índices econômicos. O fluxo das produções tem sido aprimorado. Gargalos e estoques intermediários foram eliminados e os quadros de funcionários, adaptados aos novos modelos de eficiência.

A livre iniciativa no Brasil ganha força nestes anos de crise continuada. Os empresários e a população em geral aprenderam a esperar menos do governo e a andar com as próprias pernas.

O processo de terceirização, de início encarado por alguns como manobra para provocar mais desemprego, é fonte de novos negócios e de mais empregos.

O Brasil está seguindo a tendência mundial da migração da mão de obra da indústria para o setor de serviços, resgatando sua vocação de terra das oportunidades.

Neste país com um mercado de mais de 203 milhões de habitantes e 8,5 milhões de quilômetros quadrados, ainda existem novas fronteiras a serem conquistadas.

Os redutos de exploração pura e simples dos trabalhadores estão sendo eliminados, enquanto espraia-se por todo o País o respeito aos direitos dos trabalhadores, garantidos pela Constituição federal e ordenados pelos princípios da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mesmo o trabalho informal tem garantias da Justiça.

Com um parque industrial moderno, com vários polos de aglutinação em expansão, o Brasil contraria a imagem de nação atrasada e problemática. Só no Estado de São Paulo, que ocupa 3% do território nacional, o parque se equipara ao da França.

A iniciativa privada e a economia de mercado conquistaram o Brasil – apesar de a mentalidade retrógrada, cevada em séculos de dependência do Estado, ainda persistir em alguns segmentos.

Felizmente, a democracia brasileira conseguiu acordar o País para a necessidade da descentralização e da libertação das amarras seculares. Nos últimos anos, o Brasil mostrou ao mundo o equilíbrio de sua democracia decretando o impedimento de dois presidentes eleitos e afastando parlamentares que não vinham se comportando com a ética e a decência no trato da coisa pública. O mensalão e a Operação Lava Jato são exemplos positivos. O ainda incompleto processo de privatização das estatais tem provado a correção dessa estratégia.

A abertura externa reaqueceu a economia, elevando as exportações e importações. Neste contexto, os produtos industrializados são responsáveis por um porcentual significativo da pauta de exportação brasileira.

Esses dados, longe de expressarem manifestações espúrias de nacionalismo ufanista, refletem o esforço interno de adequar o mercado brasileiro às exigências do mercado internacional.

O sucesso relativo do Mercosul tem proporcionado uma oxigenação na vida econômica do País, pois as perspectivas no mercado externo são uma garantia para não dependermos exclusivamente dos caprichos das dificuldades internas. O Mercosul é uma zona de livre-comércio, porém seu projeto vai mais longe, porque supõe uma união aduaneira, com tarifas externas comuns e, num último estágio, um mercado comum, em que haverá liberdade de movimentação de fatores de produção, como na União Europeia.

O Brasil, por se pautar pela ética nas relações comerciais, pela natureza conciliadora e produtiva de sua política externa e pela capacidade natural de gerar riquezas, é um atraente parceiro sob todos os aspectos.

O povo brasileiro, que ainda exibe indicadores sociais alarmantes, quer se desenvolver, e sua dura autocrítica em relação aos problemas internos acaba extrapolando para o exterior. Os outros países precisam conhecer o contexto todo, o perfil de integridade da população que luta para enxergar-se melhor e, assim, enfrentar suas dificuldades.

Quem conhece os brasileiros sabe do que estamos falando. Milhões de estrangeiros acabaram ficando no Brasil depois de conhecer seu povo.

Este é o Brasil que desafia a nossa análise. Este é o Brasil que precisa ser conhecido por todos. Esperança e confiança!