Ganhei do nosso confrade na Academia Cristã de Letras – ACL, Domingos Zamagna, aquilo que podemos chamar de “presentão”. Um livro assinado pelo escritor e jornalista francês Samuel Pruvot que trata dos desafios que o papa Leão XIV terá pela frente. Lançado dias após o conclave, a obra traz a a primeira biografia completa de Robert Francis Prevost, cujo título é “Leão XIV - O Novo Papa”. De início, o autor faz um relato sobre como transcorreu a eleição do cardeal Prevost, descreve sua trajetória como sacerdote e as reações à sua nomeação. Um convite para quem quer conhecer melhor o atual líder da Igreja Católica.
Especialistas no estudo do catolicismo consultados por Samuel Pruvot, disseram que o maior desafio para Leão XIV é o de trazer de volta as “ovelhas perdidas”. Tanto na Europa como no continente americano de norte a sul, tem se registrado uma enorme queda no número de pessoas que se identificam como católicas e mais ainda como cristãs. Boa parte da população tanto do velho como do novo mundo, preferem dizer simplesmente que não possuem nenhuma religião. Também cresceu ainda mais, o número dos que se dizem católicos, mas não frequentam regularmente a igreja.
Junto a estes primeiros e grandes desafios, somam-se a crise de credibilidade em relação aos religiosos, alguns, acusados do envolvimento em corrupção, práticas homossexuais ou de pedofilia. Além disso há o avanço da “secularização”, ou seja, o abandono dos preceitos culturais que se apoiam na religiosidade. Em outras palavras, os atuais modos de vida não se estruturaram em torno de uma visão firmada nos hábitos ligados à religiosidade. Essas transformações sociais lançaram um universo de novas dificuldades a Leão XIV já no início de seu pontificado.
Queda no número de vocações
O autor Leão XIV – O Novo Papa, explica que no espaço de dez anos, entre 2011 e 2021, a Europa registrou a diminuição de 27 mil padres, 6 mil seminaristas e quase 80 mil religiosas. Como consolo para o pontífice aparecem a África e a Ásia que no mesmo período tiveram aumento no número de padres. São agora 52 mil na África contra 39 mil, dez anos antes. O bispo de Roma sabe, entretanto, que isso não é o suficiente para compensar a queda global no número de vocações sacerdotais. Mais preocupante ainda; mesmo na Ásia, continente favorito do antecessor Francisco, o número de seminaristas caiu durante seu pontificado, 9% a menos de 2011 a 2021.
Diaconato feminino
Leão XIV quando aparece em público, transmite a sensação de aparente tranquilidade por estar resignado. Ele como sacerdote deve ter a certeza de que por trás do peso dos números, sempre há fé e esperança, além da consciência de que sua tarefa será essa, de reanimar o catolicismo nos países de tradição católica. Nesse contexto difícil, foi alentador para o papa, saber que na França, houve um aumento na quantidade de batismos entre adultos e jovens, 18 mil entre janeiro e maio de 2025. Um dos motivos pode ter sido a reabertura da Catedral de Notre Dame, após o incêndio. Isto, certamente, foi um fator positivo no sentido de reascender a fé em muitos católicos.
O fim do celibato sacerdotal, a permissão de acesso à comunhão para pessoas divorciadas ou recasadas, bem como a benção à união de casais homoafetivos, são assuntos em discussão no âmbito da Igreja e comissões foram criadas ainda pelo antecessor Francisco para tratar desses temas, por serem excessivamente polêmicos. Mais uma pauta importante é a do diaconato feminino que permitiria às freiras celebrarem ofícios religiosos. Em outubro de 2019, o Sínodo para a Amazônia refletiu sobre essa questão e, neste caso, outra comissão foi criada e desde 2020 o assunto tem sido estudado a fundo, mas a questão ainda não está definida.
Tranquilizar ânimos dentro da Igreja
Durante seu pontificado, o Papa Francisco conduziu com energia um programa de reformas visando repensar o funcionamento da Cúria Romana, o coração administrativo da Igreja Católica. Seu objetivo sempre foi o de transformar a Santa Sé em uma entidade mais aberta ao mundo, mais transparente, mais moderna. Francisco contratou auditorias externas que sanearam contas, embora, ainda assim, a Santa Sé permaneça estruturalmente deficitária, em parte por causa da queda nas doações dos fiéis, o que afeta especialmente o seu fundo de aposentadoria.
Houve também o escândalo financeiro pela compra irregular de um imóvel em Londres, com dinheiro da Igreja, que levou à condenação do cardeal Giovanni Angelo Becciu, em 2023, por peculato e fraude. Becciu recebeu a sentença de cinco anos e meio de prisão e passou para a história como, o primeiro cardeal condenado por um tribunal criminal da Santa Sé. Mesmo assim recorreu da decisão. Diz o autor que “muitas fontes vaticanas concordam que o papa Leão XIV precisa inicialmente tranquilizar os ânimos do clero muito dividido por todas essas questões para continuar com as reformas, o que não será tarefa fácil”.
Conclusões
Se faz importante registrar que Samuel Pruvot, autor de “Leão XIV - O Novo Papa”, contou com colaboração de outros colegas, entre os quais destaca Marc Leboucher, conhecido vaticanista, como forma encontrada para concluir em poucos dias uma obra substanciosa de quase 190 páginas. “Tantos desafios para um só homem”, comenta Pruvot em suas conclusões e acrescenta: “De fato, um simples mortal terá forças para carregar um fardo cujo peso é incalculável?”
Ao relatar a biografia, o autor explica que Robert Francis Prevost, “mostrou-se sempre um religioso conhecedor do significado da vida interior”. Na parte final do livro, o autor conta saber de fontes confiáveis que, quando cardeal em Roma, Prevost costumava levantar-se bem cedo para rezar e jamais postergou uma decisão que caberia a ele tomar. “Agora, na condição de papa, certamente não deverá mudar de hábito”, define o escritor que diz acreditar que a fé do atual papa, “é capaz de mover montanhas”. Como Jesus diz que “nada é impossível àquele que crê”, através de sua fé e da intuição vinda pela inspiração divina, Leão XIV saberá definir quais serão os novos rumos da Igreja Católica que permanece por enquanto cheia de divisões internas.
Geraldo Nunes, jornalista, escritor e consultor literário, é titular da cadeira 27 da Academia Cristã de Letras - ACL