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  • Fonte: Antonio Carlos Lima Pompeo

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Como professor universitário ligado ao ensino da urologia, editei durante minha longa carreira 16 livros sobre temas médicos, éticos ou científicos. Nestes, ao lado da experiência profissional, podem-se efetuar pesquisas bibliográficas, ou seja, atualizar-se no tema escolhido. O contrário ocorre nas publicações não científicas, em que a memória ocupa o papel principal em reproduzir ou criar os temas escolhidos para o trabalho.

Fato interessante me ocorreu em 1994, quando, em solenidade oficial, a câmara municipal de Mogi Guaçu, cidade do interior de São Paulo, outorgou-me o título de “cidadão guaçuano”.

No meu discurso protocolar que encerraria a sessão escolhi como tema fazer uma crônica sobre aspectos culturais, políticos, sociais e esportivos ocorridos durante o período em que vivi naquela cidade (até meus 18 anos) quando parti para São Paulo para tornar-me médico e abraçar a carreira universitária onde cheguei a ser aprovado em concursos para professor titular na FMUSP e na Faculdade de Medicina do ABC. Na ocasião, autoridades locais e inclusive o prefeito sugeriram transformar aquela oração em um livro, pois contribuiria muito para preservar a história de Mogi Guaçu. Ofereceram inclusive ajuda material para a edição inicial de 1500 exemplares em 2004 do livro “Meus Tempos no Guaçu” que se esgotou nos primeiros meses, notadamente no período natalino. Fui surpreendido por sua repercussão e aceitação pelos leitores, representantes não apenas daquela pequena cidade que fora o foco central do seu conteúdo, mas também por muitos, oriundos de locais distantes e com valores culturais heterogêneos. Fato significativo foi a maneira espontânea como se manifestaram com o passar dos anos, ou seja, correspondências por cartas, telegramas, mensagens além dos contatos pessoais. Destaque-se que nos primeiros anos do lançamento as comunicações eram muito mais difíceis, pois a internet e o celular “engatinhavam" e tudo se resumia no correio e nas mensagens telegráficas.

Nestas 2 últimas décadas recebi com surpresa 85 destas mensagens em geral com comentários generosos que frequentemente me emocionavam… às vezes uma simples palavra, uma frase ou comentários que definiam a captação das ideias do editor, em geral, elogiosas, às vezes protocolares, outras com sugestões ou mesmo críticas.

Segundo minha ótica, “Meus Tempos no Guaçu” obteve um sucesso inesperado, foi uma experiência notável que me despertou um grande desejo de repetição. Acresce ainda que a “cobrança” por parte de amigos e familiares era frequente...O fator limitante era minha atividade médico-universitária, que sempre ocupava meu tempo quase que integralmente, inclusive no segmento literário relacionado a minha especialidade, pois constituia parte de minha atividade escrever artigos, editoriais e capítulos de livros.

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Por outro lado, a oportunidade que tive de viver em outros países, em cenários totalmente diferentes, me permitiu acumular mentalmente histórias e fatos inesquecíveis do cotidiano que me estimularam a descrevê-las antes que o tempo as levasse ao esquecimento. Assim, após passadas duas décadas, editei o livro Reflexões – Histórias Vividas (2024) cuja edição inicial (1000 exemplares) esgotou-se em 1 ano e já foi reeditada recentemente.

A publicação desses dois livros contribuiu decisivamente para tornar-me, após cumprir todos os critérios de seleção, titular da importante Academia Cristã de Letras, simbolicamente imortal e também membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES).

Uma reflexão sobre esta experiência literária com livros “não científicos” me permitiu várias observações e conclusões pessoais sobre... a importância de escrever um livro. É uma tarefa rigorosa que requer do autor disciplina, determinação e foco. É necessário exercitar nossa capacidade mental, o que significa concentração e transferir momentos, às vezes horas de meditação. 

É indiscutível que pessoas alheias podem colaborar, porém, nunca substituir o autor! Mentores não devem ensinar como escrever, mas colaborar para que o escritor encontre sua própria voz. Ao editar 1 livro podemos contribuir positivamente com a comunidade por transformá-lo em fonte inspiradora para transmitir ideias, histórias e valores. Tem o potencial ainda de influenciar o cotidiano de muitos, ou seja, transformar vidas. Interessante destacar que a influência de um livro pode durar décadas, séculos e quantos livros clássicos, tem esta propriedade! A Bíblia é um dos exemplos que mais consolida isto. Ao escrever um livro, o autor pode transformar-se em especialista sobre um determinado tema, construir sua autoridade e credibilidade em certas áreas. Esta característica é essencial, notadamente se o autor procura uma oportunidade de ganhar seu sustento como escritor.

O “ganho maior” não necessita ser analisado pelo número de leitores, mas... pela força da mensagem que transmite. Estou convencido de que valeu a iniciativa e as horas dedicadas ao nosso trabalho como escritor! Minha palavra final é de estímulo a todos que amam a leitura...estes devem experimentar um novo patamar que é....escrever! 

Escrever um livro… transcende a nossa mortalidade!

Antonio Carlos Lima Pompeo - Prof. Livre Docente da FMUSP. Prof. Titular e Emérito Fac. Med. ABC. Membro Titular da Academia Cristã de Letras – Cadeira 08 - Titular da Sociedade Brasileira de Médicos escritores (SOBRAMES) e Membro Titular da Academia de Medicina de São Paulo.