Conseguir entrar na faculdade de medicina foi um grande sonho que acalentei desde tenra idade e que Deus favoravelmente me concedeu. Contudo, o caminho foi muitíssimo longo e, por mais que alguém se dedique de corpo e alma ao estudo durante o período de formação universitária, ainda haverá muito que aprender.
Nesse contexto, são inapagáveis em minha memória as palavras que o saudoso, querido e inesquecível professor de anatomia, Olavo Marcondes Calazans, dirigia no primeiro ano letivo aos seus alunos em forma de conselho e de alerta: “Vocês terão seis anos para se formar e outros seis para se conformar”, intuindo-nos que a busca do aprendizado e da formação profissional não se extinguiria tão-somente na graduação, mas se estenderia para sempre.
Tenho plena certeza de que durante o curso médico procurei participar e estudar com afinco todas as disciplinas curriculares e algumas extracurriculares, independentemente de possuir maior ou menor aptidão. Almejando ter a melhor e a mais completa formação possível, deixei para decidir que especialidade escolheria somente durante o período de internato.
Não restavam dúvidas de que era necessário e praticamente obrigatório continuar o tirocínio profissional após a graduação, através de um bom programa de residência médica.
Lembro-me de que realizei exames em diversos hospitais para não perder a oportunidade de ingressar numa boa residência. A maioria foi para a especialidade de urologia, mas também prestei um concurso para clínica médica, na Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. Obtive boas classificações e fui aprovado em vários deles. Acabei optando pelo Serviço de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual, cujo ingresso foi uma inaudita alegria!
À época, prestava-se concurso diretamente para a especialidade almejada. Como residente de urologia deveria cumprir um ano em cirurgia geral, estagiando em várias áreas como: cirurgia vascular, pronto-socorro, cirurgia pediátrica, cirurgia geral, urologia, cirurgia plástica, anestesia e unidade de terapia intensiva. O segundo e terceiro anos eram exclusivamente dedicados à urologia. Meu primeiro ano de residente foi em 1979 e, à época, havia tão-somente duas vagas.
O Serviço de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual proporcionou-me não somente uma sólida formação teórico-prática sobre minha especialidade, como também me deu estímulo e condições necessárias para desenvolver trabalhos científicos, que foram encaminhados para publicação em revistas médicas ou da especialidade, como também apresentados em congressos, feitos que me facultaram um diferenciado destaque curricular.
Conclui meus três anos de residência em fevereiro de 1982. Sempre nutri desejo de manter e aprimorar meus conhecimentos e, se possível, atuar como docente numa faculdade de medicina ou num hospital-escola. Nesse ano houve concurso para assistente do Serviço de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual. Havia três vagas a serem ocupadas e eu fiquei em quarto colocado, não sendo chamado. Entretanto, novo exame ocorreu quatro anos depois, em 1986. Dessa vez tinham sido disponibilizadas quatro vagas, ocasião em que também concorri e tive o privilégio de ser aprovado em primeiro lugar.
O Serviço de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual deu-me não somente a oportunidade de ter tido uma boa formação urológica, mas também abriu-me, em 1982, as portas de minha pós-graduação, em nível de mestrado, na Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); contribuiu em meu currículo, a fim de que eu conquistasse, por concurso, uma bolsa de estudos da Rotary Foundation, na Austrália, em 1986; concedeu-me a condição de chefe do Departamento de Litíase Urinária e Endourologia em 1990; a condição de preceptor em 2015; a contribuição financeira para sustento familiar; o prazer de ensinar, interagir e acompanhar dezenas e dezenas de jovens médicos em processo de aprendizado e de especialização que, seguindo caminhos que, com idealismo, sacrifícios, perseverança e muita alegria outrora também percorri; bem como também me concedeu a honra de conviver e de ombrear com destacados profissionais da capital, do estado de São Paulo e do Brasil, ilustres ícones e alguns deles, protagonistas da história contemporânea da especialidade.
Todavia sou também excessivamente grato ao Hospital do Servidor Público Estadual, essa querida e tradicional instituição de ensino, por me ter concedido o privilégio de que meus dois primeiros filhos nela nascessem, numa época em que eu tinha parcos recursos financeiros e não dispunha de plano de saúde. Meu primeiro filho, Enrico, nasceu em 21 de outubro de 1980, enquanto eu era residente do segundo ano. Meu segundo filho, Bruno, nasceu em 4 de outubro de 1982, quando eu tinha deixado a residência havia oito meses e, portanto, nenhum vínculo, a não ser o afetivo, mantinha com o hospital e seus profissionais.
Contudo, sou também imensamente agradecido ao Hospital do Servidor Público Estadual e aos médicos que cuidaram de meu filho Enrico. Ele, que sofreu em 1987 – um ano após meu ingresso como assistente do Serviço de Urologia – um grave acidente e foi submetido não somente a um longo, múltiplo e angustiante procedimento cirúrgico, mas, igualmente, a uma morosa recuperação pós-operatória; assim como também pelo fornecimento gratuito, durante alguns anos, de medicações de alto custo ao meu estimado pai, então, dependente meu, nessa entidade.
Não há dúvida nenhuma de que minha história profissional e pessoal esteve, está e sempre estará entranhada indelevelmente ao Hospital do Servidor Público Estadual – Feliz, agradecida e honrosamente!